tag:blogger.com,1999:blog-34618216827928479772024-03-18T20:38:11.012+00:00Notas da superfície e de mais alémApontamentos e reflexões para lá dos cabeçalhos, soundbits e gigabytes.Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.comBlogger528125tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-8932209253243232382024-03-07T23:42:00.001+00:002024-03-07T23:42:28.211+00:00Políticas para o Ensino Superior e Ciência - CHEGA<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/s4080/Alma%20Mater.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="3060" data-original-width="4080" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/w200-h150/Alma%20Mater.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Imagem do jogo Alma Mater, Eggert Spieler</span></i></td></tr></tbody></table><p><i> <br /><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><br /></p><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Última entrada. É o fim. CHEGA.</div><div style="text-align: left;">A área do ensino está num capítulo designado "<i>Libertar o Ensino de Ideologias. Como?". </i>A ideologia da não ideologia como ponto de partida. A neutralidade, aqui não carbónica, mas ideológica. Talvez asséptica. E como, então? No ensino superior são sete as medidas. Vejamos.</div><div style="text-align: left;">Avaliar o número de instituições e cursos, assim como o número de alunos em cada curso e as saídas profissionais dos mesmos, em coordenação com a A3ES e sendo essa informação pública. A informação sobre os números existe, e é de fácil consulta pública. Restará então a avaliação do número. Com que critérios? A introdução dá uma pista, ao falar do sobredimensionamento leia-se em instituições e cursos, do ensino superior português. Uma posição de partida. Ideológica? Não estou certo. Mas recorda-me outros mitos em redor de números mágicos. Que me faz recuar a uma <a href="https://notasdasuperficie.blogspot.com/2012/01/numeros-magicos.html">entrevista</a> e a mais outra <a href="https://notasdasuperficie.blogspot.com/2012/01/numeros-magicos-episodio-2-fazer.html">entrevista</a>, na transição de 2011 para 2012.</div><div style="text-align: left;"><i>Combater o subfinanciamento crónico nas instituições de Ensino Superior e cursos considerados estratégicos, devendo cada universidade, politécnico ou instituto universitário elaborar e cumprir, no decurso da própria legislatura (...) o seu próprio plano de reequilíbrio estrutural em termos de gestão de recursos humanos e financeiros.</i> Não percebi! Combater o subfinanciamento implicará aumentar o financiamento. Seria uma forma de equilibrar as coisas. Mas competirá às instituições efetuar um reequilíbrio estrutural. Para se adaptar ao financiamento insuficiente? Ou para se adaptar à abundância? Ou o novo financiamento será fruto do novo equilíbrio apresentado por cada instituição. Confuso. </div><div style="text-align: left;"><i>Valorizar cada vez mais o critério da qualidade científica, académica, técnica e empregabilidade das formações ministradas. </i>Quem valoriza? Para que fim? Como? </div><div style="text-align: left;">Mais duas medidas. <i>"Isentar totalmente do pagamento de propinas para alunos a frequentar estágios profissionais obrigatórios em cursos do Ensino Superior transversal a todas as áreas de estudo" </i>[sic] e acabar com as taxas de admissão e emolumentos para prestação de provas de doutoramento. Medidas que parecem relativamente consensuais, embora com algumas nuances, entre as várias forças partidárias.</div><div style="text-align: left;"><i>"Obrigatoriedade de canais de denúncia de assédio moral e sexual nas instituições de ensino superior" </i>e <i>"informação sobre acesso a apoio psicológico e/ou jurídico"</i>.</div><div style="text-align: left;">Vão seis das sete medidas. Libertadoras de ideologias? Até agora não. Mas há mais uma! <i>"Introduzir o princípio da despolitização e despartidarização das instituições de ensino superior para garantir a sua autonomia, liberdade intelectual, qualidade e prestígio". </i>Mas o que quer isto dizer? Especialmente, uma vez mais, quando lido em conjunto com a introdução, onde se escreve <i>"Existem instituições do ensino superior que todos sabem que são conotadas com uma identidade partidária identificável. </i>Continuando, após exemplificar, "<i>Pode um jovem ser intelectual e verdadeiramente livre em contextos de condicionamento partidário tão evidente".</i> Partindo de uma conotação, conhecida aparentemente de "todos", passamos para o perigo terrível sobre os "jovens", vítimas de condicionamento partidário.</div><div style="text-align: left;">Despolitizar e despartidarizar no mesmo saco. A política com má conotação. Vindo de um partido... político. E, contudo, sem qualquer proposta de medidas "libertadoras" das ideologias. Naturalmente! Pois quais seriam elas? Censurar programas onde se detete qual grão ideológico? Vigiar as aulas? Vedar cargos de gestão académica por se ter filiação partidária? Vedar cargos políticos a académicos para separar os mundos? Ajuizar do caráter em entrevistas de seleção para o emprego? Cercear outras liberdades, como as da livre escolha dos órgãos no seio da academia? </div><div style="text-align: left;">Fantasmas e assombrações. Esqueletos e espantalhos. Agitados ao vento. Sem concretizar como se resolveria problema tão gravoso.</div><div style="text-align: left;">Leio um dicionário online. Discurso ou ação que visa manipular as paixões e os sentimentos do eleitorado para conquista fácil de poder político. A palavra assim definida é Demagogia.</div><div>Fim.</div>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-33474723382761876592024-03-06T18:39:00.001+00:002024-03-06T18:39:21.250+00:00Políticas para o Ensino Superior e Ciência - PAN<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/s4080/Alma%20Mater.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="3060" data-original-width="4080" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/w200-h150/Alma%20Mater.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Imagem do jogo Alma Mater, Eggert Spieler</span></i></td></tr></tbody></table><p><i> <br /><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><br /></p><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Penúltima entrada. O PAN.</div><div style="text-align: left;">O programa nesta área não é muito extenso. E também não é concreto.</div><div style="text-align: left;"><i>"Garantir atempadamente dotações adequadas para as necessidades de funcionamento e desenvolvimento das Instituições de Ensino Superior"</i>. Dotações adequadas. Atempadamente. Necessidades. Desenvolvimento. Tudo em aberto.</div><div style="text-align: left;">Quanto a propinas, <i>"concretizar progressivamente a gratuitidade do 1.º Ciclo de estudos no Ensino Superior</i>". Progressivamente. Na legislatura? E aqui fica mais aquém da maioria das propostas similares que, no mínimo, abrangem também os Mestrados Integrados, essa originalidade híbrida. Também advoga, como outros, a eliminação de taxas e emolumentos, mas também aqui de um modo mais restrito, apenas para a admissão a provas de doutoramento.</div><div>Em matéria de residências, há pontos em comum com outros programas, embora sem metas ou quantificação. Aumentar o número de residências, acordos com o poder local, reabilitação de edifícios vazios.</div><div style="text-align: left;">Quanto ao acesso, "<i>Rever o modelo de acesso ao Ensino Superior, não o centrando exclusivamente em resultados académicos"</i>. Pois. A IL também o defende. Mas apresentando sugestões do que este descentramento poderia significar. Ainda que discutíveis. Aqui, nada mais. Ficará para depois.</div><div style="text-align: left;">Em relação aos docentes, defende a abertura de concursos para docentes convidados cujo serviço letivo corresponda a necessidades permanentes. Parece-me bem. Também propõe a eliminação da precariedade dos vínculos laborais do ensino superior, mas sem desenvolver o conceito. E ainda, <i>"clarificar os critérios de progressão remuneratória mínima dos/das docentes do ensino superior público, eliminando as situações de injustiça criadas por aplicação díspar entre instituições". </i>Incidindo apenas sobre a progressão remuneratória, e não abordando as questões da carreira, ou melhor, das carreiras.</div><div style="text-align: left;">Em relação às bolsas, preconiza a substituição de bolsas de pós-doutoramento por contratos de trabalho. Mais cirúrgico do que outras propostas. Mais fácil de alcançar no curto prazo. Talvez de impacto mais reduzido, mas a fazer sentido, sobretudo quanto tantos apregoam a importância da inserção dos doutorados no mercado de trabalho. </div><div style="text-align: left;">Quanto a ciência, mais medidas apenas se parece encontrar em áreas temáticas. Apoiar a investigação de novas fontes de energia, fomentar projetos no domínio da conservação da biodiversidade, criar um centro de investigação com recursos alternativos aos animais utilizados para fins científicos, promover a investigação na área da inteligência artificial e da ciência de dados na saúde. Pouco.</div><div style="text-align: left;">Na reta final, com apenas um pela frente.</div>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-84248654675848682412024-03-05T19:42:00.001+00:002024-03-05T19:42:48.418+00:00Políticas para o Ensino Superior e Ciência - CDU<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/s4080/Alma%20Mater.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="3060" data-original-width="4080" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/w200-h150/Alma%20Mater.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Imagem do jogo Alma Mater, Eggert Spieler</span></i></td></tr></tbody></table><p><i> <br /><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><br /></p><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Episódio seis. Em Coligação Unitária.</div><div style="text-align: left;">Apesar da coligação unitária ser dual em termos de programas, apresentado o programa eleitoral do PCP e o manifesto ecologista do PEV, na prática, e pelo menos para esta matéria, é suficiente ler o programa do PCP.</div><div style="text-align: left;">Começando pelos dinheiros do ensino superior. Uma <i>"Lei de Bases do Financiamento que inclua a componente I&D e assegure às IES as condições humanas e materiais adequadas ao seu financiamento".</i> Demasiado vago, exceto quanto à inclusão da componente de I&D, e não apontando qualquer caminho. Condições adequadas. Subjetivo. Quer quanto às condições, quer quanto ao que se qualifica como adequado. <i>Eliminar o pagamento de propinas, taxas e emolumentos</i>. Concreto, e como vem defendendo há muito.</div><div style="text-align: left;"><i>"Defender o caráter unitário do Sistema de Ensino Superior Público</i>. Presume-se que eliminando o cariz binário do mesmo. Talvez tendo todas as instituições como Universidades. Não sendo claro o que se pretende alcançar ou que problema se pretende resolver. Talvez a noção de uma certa hierarquia, pelo menos de prestígio, entre universidades e politécnicos. No âmbito da revisão do RJIES, que parece não satisfazer ninguém, revogar o regime fundacional.</div><div style="text-align: left;"><i>"Criar incentivos e mecanismos para fomentar a interação entre as IES, os Centros de Investigação, os docentes e os investigadores com diferentes áreas e sectores da sociedade, suscitando o livre debate e esclarecimento sobre as questões cruciais que hoje se colocam à prossecução do progresso e equidade social". </i>Incentivos e mecanismos. Não me parece que haja falta de debate, ou de espaços para o mesmo, nos mais variados setores e com as mais variadas geometrias. Acolhidos dentro, e sobretudo fora, das academias. Em projetos conjuntos, também. Não me parece que seja um questão de inventivos. Não me parece que seja uma questão de esclarecimento. Há visões de futuro diferentes. Há caminhos distintos, até opostos, para fazer face aos problemas. </div><div style="text-align: left;">Combater a precariedade. Integrar falsos docentes convidados e outros precários que respondem a necessidades permanentes. De acordo. São abusos. Espera-se que tal não se defenda para os verdadeiros docentes convidados e situações temporárias, que não correspondem, de todo, a necessidades permanentes e têm o seu papel próprio.</div><div style="text-align: left;">Na ciência, <i>"criar um Fundo para a Inovação Tecnológica Empresarial</i>, financiado pelas empresas, de acordo com uma métrica já definida. <i>Aumentar o financiamento de base dos Centros de Investigação.</i> Volto atrás para reler. Mas nos casos do financiamento do ensino superior, este já incluiria a componente de I&D... Em que ficamos? </div><div style="text-align: left;"><i>Duplicar a despesa em Investigação e Desenvolvimento Experimental per capita de investigador ETI no setor público e adequar as normas da contratação pública"</i>. E esta, é por que via? Projetos, embora se pretenda reduzir a dependência dos concursos? Diretamente às instituições? Através das unidades de investigação? Falta definição, com o risco de parecer incoerente.</div><div style="text-align: left;">E ainda <i>reforçar a rede de centros de investigação, criando as condições necessárias para a plena integração dos institutos politécnicos no SCTN"</i>. É este o significado do reforço da rede? E não ficaria resolvida com o caráter unitário do sistema de ensino superior?</div><div style="text-align: left;">Aumentar também o número de doutorados no setor público, incluindo as empresas públicas, e nas empresas a nacionalizar. Aumentar o número de doutorados porque sim, porque isso reduz o desemprego dos doutorados, porque se traduz numa mais valia, porque é uma necessidade efetiva de um conhecimento especializado e de um modo específico de produzir conhecimento? É que nem todas estes motivos se aplicarão a todas as empresas e a todos os setores.</div><div style="text-align: left;">Também aqui se preconiza a clarificação da missão dos Laboratórios de Estado e a <i>"reavaliação</i>" da estrutura e modo de funcionamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Ou o fim dos contratos de bolsa e a sua substituição por contatos de trabalho. Continuo a achar que há lugar para verdadeiras bolsas, limitadas no seu âmbito e duração. E que dependendo da natureza de outras tarefas, subordinadas ou não, pode ser adequado um contrato de trabalho ou uma verdadeira prestação de serviços. </div><div style="text-align: left;">Também aqui se fala de mais carreiras, mas apenas "<i>eventualmente a criar, nomeadamente os gestores e comunicadores de ciência e tecnologia, os técnicos de apoio à investigação, os operários especializados e prototipistas.".</i></div><div style="text-align: left;">Tudo isto num quadro de uma <i>"Política de Ciência e Tecnologia que atenda às necessidades e especificidades da economia nacional, valorize a investigação fundamental livre (...) e que garanta um financiamento base, estrutural e de desenvolvimento da Ciência não dependente em exclusivo de concursos competitivos".</i></div><div style="text-align: left;">Só mais dois.</div>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-25351478072794240612024-03-04T22:37:00.001+00:002024-03-04T22:37:18.001+00:00Políticas para o Ensino Superior e Ciência - LIVRE<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/s4080/Alma%20Mater.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="3060" data-original-width="4080" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/w200-h150/Alma%20Mater.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Imagem do jogo Alma Mater, Eggert Spieler</span></i></td></tr></tbody></table><p><i> <br /><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><br /></p><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Quinto texto. Em roda Livre.</div><div style="text-align: left;">O programa apresentado para o Conhecimento, Ciência e Ensino Superior contém 36 medidas, na sua grande maioria com maior grau de pormenor em relação aos outros programas. Agrupadas em torno de três eixos, Estabilidade do Sistema Científico e Tecnológico, Ensino Superior, e Ciência e Sociedade, contém ampla matéria para reflexão, concordância, e discordância!</div><div style="text-align: left;">Sobre o Ensino Superior, começa por preconizar o fim das propinas do 1.º ciclo e parte curricular do 2.º ciclo, regulando as restantes, para as quis propõe <i>"um processo de redução progressiva do seu montante, de acordo com padrões europeus"</i>. Bem, o plural é bem empregue, porque há situações muito diversas na Europa, o que deixa aqui alguma ambiguidade, apesar de se entender que o caminho é descendente.</div><div style="text-align: left;">Em matéria de alojamento é mais vago. Rever o Plano, envolver os vários agentes da área. Também aqui se menciona a <i>"conversão de edificado público em Residências Estudantis</i>" e o reforço da dotação orçamental para Autarquias e Universidades, com esta finalidade.</div><div style="text-align: left;">Numa vertente que tem ganho expressão nos programas e nas políticas, defende a <i>"existência obrigatória de Gabinetes de Apoio Psicológico em todas as unidades orgânicas com autonomia administrativa e financeira das Instituição de Ensino Superior</i>". Tenho sempre dúvidas da virtude destas medidas administrativas, tendo aqui por critério o estatuto das unidades, e impedindo soluções integradas e de geometria variável.</div><div style="text-align: left;">O tema da designação das instituições de ensino politécnico ganha visibilidade neste programa, inserido num parágrafo sobre a internacionalização. A questão aqui parece ser de nome. E não tenho a certeza de isto estar articulado com uma outra medida, dissonante, mas que merece ser discutida, "<i>a revogação do artigo (...) que estabelece a natureza binária do ensino superior". </i>É que em termos de instituições, há muito que o sistema deixou de ser binário, com universidades integrando escolas politécnicas. </div><div style="text-align: left;">As carreiras estão no centro de várias medidas, de forma explícita. Fusão das Carreiras Docentes do Universitário e do Politécnico. Integração de carreiras docentes e de investigação num mesmo estatuto, de forma a facilitar a mobilidade entre carreiras e instituições, e uma gestão mais integrada das atividades e cargas de docência e de investigação. </div><div style="text-align: left;">Criar a carreira de Gestor de Ciência e Tecnologia. Muitas em relação a esta última, que, exercendo atualmente funções de gestão e de ciência e tecnologia, enquanto técnico superior, já exprimi em sede própria. A questão não é da carreira em si, mas das carreiras em si. Iremos ter também carreiras de contabilistas, juristas, engenheiros, arquitetos, etc., etc., nas instituições de ensino superior? Cada uma com as suas especificidades? Ou estas seriam carreiras destinadas apenas a doutorados, como forma de reduzir a pressão em termos de emprego? É que doutorados não fazem necessariamente bons gestores... A carecer de detalhe. </div><div style="text-align: left;">Uma menção à endogamia. Mas uma medida que não convence. <i>"Incentivos à contratação de docentes convidados com formação noutras Instituições (...) e à mobilidade docente.". </i>A questão de fundo não é dos convidados, nem se resolve com convidados. </div><div style="text-align: left;">Rever o Estatuto do Bolseiro de Investigação, impondo limites, e não uma revogação, como proposto pelo BE. Mas aqui os limites são temporais. Não mais do que dois anos. Sendo que para programas de maior duração, como os de doutoramento, seriam objeto de contrato de trabalho. Uma proposta significativamente diferente.</div><div style="text-align: left;"><i>Financiar as instituições do ensino superior de forma estável e permanente. através de financiamento público (...) através de contratos programa. (...) fórmula baseada em indicadores de estrutura e de desempenho, destinada a suportar as despesas de funcionamento e infraestruturas, com dotações atribuídas por concurso, destinado a implementar projetos e estratégias locais alinhadas com o perfil institucional e com as necessidades de desenvolvimento do país e da região". </i>E mais à frente "<i>Financiar a contratação permanente de pessoal."</i></div><div style="text-align: left;">Confesso que estou confuso. Pode ser da redação. Será uma fórmula para as despesas fixas e concursos para os projetos e estratégias? Para a contratação permanente de pessoal seria um programa específico, que depois se converteria, mais à frente, em despesa de funcionamento? E este cariz local/regional, quando o conhecimento e a mobilidade são globais, não limita o desenvolvimento, em vez de o promover?</div><div style="text-align: left;">A revisão do RJIES é um dos temas que parece ser consensual. Aqui visando a <i>"democracia plena nestas instituições, designadamente através da obrigatoriedade de eleição direta pela Comunidade Académica dos órgãos de natureza deliberativa, fiscalizadora da atividade executiva, e pedagógica, da paridade entre docentes e discentes na composição destes órgãos, e da representação obrigatória dos docentes, estudantes e trabalhadores em todo os órgãos". </i>Muito para discutir. Começando pelo fim, uma distinção entre docentes e trabalhadores, que continua por ultrapassar. Sinais. Eleição direta como em 1 pessoa, 1 voto? Comunidade académica como em estudantes e trabalhadores? Paridade entre docentes e discentes basicamente em todos os órgãos? </div><div style="text-align: left;">Uma outra preocupação manifestada, num elevado número de ações, é a atratividade e oferta formativa na área do ensino. Incluindo bolsas de mestrado em ensino, introduzindo a possibilidade de estudantes finais de licenciatura possam frequentar seminários dos mestrado em ensino, bolsas de doutoramento, ou aspetos mais contraditórios como incluir indicadores associados a estes mestrado nas avaliações das unidades de investigação associadas a instituições universitárias. A situação é crítica, a imaginação é fértil, mas ponderação é precisa.</div><div style="text-align: left;">Quanto à FCT vai mais longe do que as críticas e intenções gerais, apresentando uma estrutura com algum pormenor para a organização da mesma. </div><div style="text-align: left;">E há mais, porque 36 medidas explicadas são muitas. Como um gabinete de apoio científico à atividade legislativa da Assembleia da República. Ou a criação de uma Agência Nacional para a Inteligência Artificial. Talvez precise de reler.</div><div style="text-align: left;">Ainda faltam mais três.</div>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-79352878215667375742024-03-03T16:21:00.002+00:002024-03-03T16:21:11.788+00:00Políticas para o Ensino Superior e Ciência - IL<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/s4080/Alma%20Mater.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="3060" data-original-width="4080" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/w200-h150/Alma%20Mater.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Imagem do jogo Alma Mater, Eggert Spieler</span></i></td></tr></tbody></table><p><i> <br /><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><br /></p><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Quarto episódio. Agora com Iniciativas Liberais. </div><div style="text-align: left;">Desta vez não figura a meta de 3% do PIB para o investimento em ciência. A IL também defende o aumento do investimento público, aqui em conjugação com a potencial relevância do mecenato científico. Curiosamente, e para além do mecenato, que tem a atratividade dos benefícios fiscais associados, não se refere ao investimento privado, das empresas e da economia "real", numa estratégia própria e necessária de desenvolvimento e competitividade. </div><div style="text-align: left;">Sobre a autonomia, um tema que por vezes paira nas agendas, mas que até agora não tinha ainda encontrado tão claramente num programa. Permitir que as Instituições de Ensino Superior definam os seus métodos de admissão, por exemplo ao "<i>complementar os Exames Nacionais e as notas médias de fim de ciclo com outros formatos de avaliação como testes de aptidão, testes vocacionais, cartas de motivação e/ou cartas de recomendação, portfólio do aluno, eliminando a obrigatoriedade da dependência única das avaliações do Ensino Secundário</i>." Aparentemente, será sempre um complemento e não uma substituição integral. A requerer uma mudança profunda das instituições que não estão dotadas de capacidade de seleção, da articulação entre calendários do secundário, de candidatura e do ensino superior, dos candidatos e da sua envolvência, desdobrando-se em candidaturas múltiplas com critérios distintos. Introduzindo novas variáveis suscetíveis de provocar novos desiquilíbrios, como as cartas de recomendação. A requerer uma proposta integrada que clarifique mais. Sim, em conjunto com a criação de cursos, este é uma das dimensões em que a autonomia em Portugal é escassa. Fica por referir qual o objetivo fundamental a alcançar por este alargamento da autonomia.</div><div style="text-align: left;">Um financiamento do estado com critérios "<i>baseados no crescimento das instituições, nomeadamente o número de alunos"</i>. Parece um daqueles mitos, o do crescimento eterno, isento de limites. Um dos problemas de fórmulas de financiamento anteriores foi, precisamente, que elas não se encontravam preparadas para diminuições, seja de orçamentos globais, seja institucionais. Mais à frente parece emendar a mão, referindo-se um financiamento "<i>tendo em conta o número de estudantes servidos por cada instituição, entre outros fatores". </i></div><div style="text-align: left;">Em relação à habitação estudantil, uma reforma dos licenciamentos, lógicas de PPP em que os privados constroem e operam em terrenos detidos pelas instituições de ensino superior, concessão para a gestão das residências dos Serviços de Ação Social, e a possibilidade de uso de vouchers por estudantes com menor capacidade financeira. </div><div style="text-align: left;">Quando à governação a IL preconiza que "<i>O modelo de Governo deve ser liberalizado</i>", uma vez que as "<i>instituições de ensino superior são obrigadas a seguir o mesmo modelo de Governo, independentemente da contribuição do Estado para o seu orçamento</i>". Nada mais se adianta, ficando por esclarecer qual a ligação ente financiamento e modelo de governo, não se tratando aqui de acionistas, qual o significado da amplitude da dita liberalização, a quem compete a definição do mesmo, dadas as características e populações de uma organização peculiar como são as universidades.</div><div style="text-align: left;">Também uma nota sobre a burocracia e a necessidade de reformar a Fundação para a Ciência e Tecnologia.</div><div style="text-align: left;">Salvo lapso de leitura, não identifiquei referência explícita ao papel do ensino superior privado. Nada sobre propinas, nem num sentido nem noutro. Nada também sobre carreiras docentes ou de investigação. </div><div style="text-align: left;">Ao longo do programa, há outras referências ao ensino e investigação, como a independência orgânica e jurídica das escolas de negócios, ou interfaces com o tecido empresarial articuladas com, mas sem estar na dependência das, universidades. Talvez valha a pena discutir o conceito de Universidade, e de Escola, qual o uso próprio destas figuras, onde estão os recursos que as fizeram e fazem, se devem estar integradas ou se são criaturas distintas, para todos os efeitos e não apenas para alguns.</div><div style="text-align: left;">4 lidos, 4 por ler.</div>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-71162892315857769532024-03-02T22:58:00.001+00:002024-03-02T22:58:36.562+00:00Políticas para o Ensino Superior e Ciência - BE<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/s4080/Alma%20Mater.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="3060" data-original-width="4080" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/w200-h150/Alma%20Mater.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Imagem do jogo Alma Mater, Eggert Spieler</span></i></td></tr></tbody></table><p><i> <br /><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><br /></p><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Terceiro programa. É a vez do Bloco de Esquerda. </div><div style="text-align: left;">E são já três em três a advogar a meta de 3% do PIB para investimento em ciência. Com um Bloco mais afirmativo, "<i>atingir</i>" a meta, e com a diferença de propor que este investimento seja maioritariamente público. Podia ser realismo, por dúvida fundamento do crescimento do investimento privado em ciência, mas será por convicção programática. Por mim gostaria de ver mais empresas a investir na ciência, até porque PIB, e portanto a meta, não é igual a Orçamento de Estado. E que esse investimento não fosse a reboque de programas, estímulos, e empreendedorismo de baixo risco, mas sim por ambição, estratégia, e necessidade. Mas isso requer, certamente um tecido económico diferente.</div><div style="text-align: left;">O BE é mais um a advogar a revisão do Regime Jurídicos das Instituições de Ensino Superior, a revisão das Carreiras Docentes e de Investigação, e um quadro de financiamento plurianual. Mas com uma indicação de sentido. <i>"Recuperando a participação paritária entre corpos e de género nos órgãos de gestão</i>". Talvez possível, alargando os órgãos e se a isto não se somar a participação representativa, ou paritária, de áreas do conhecimento, ou de unidades, sob pena de se criar um emaranhado eleitoral. A carecer de definição sobre quais os órgãos de gestor. "<i>A eleição do ou da reitora/presidente por um colégio eleitoral alargado e representativo</i>", escapando ao sistema atual, que me levou a escrever, em tempos, a <a href="https://notasdasuperficie.blogspot.com/2017/01/o-ovo-galinha-omelete-e-o-empadao.html">história do ovo, da galinha, da omolete e do empadão</a>.</div><div style="text-align: left;">Sobre o combate à precariedade na investigação, uma medida possível. "<i>A obrigatoriedade de cumprir uma percentagem crescente de investigadores nos quadros para acesso a financiamento, parece ser o caminho.". </i>Uma medida de implementação administrativa. Cega se invocar um número mágico de corte. Potenciadora de distorções se focada numa percentagem de crescimento. Centrada no financiamento nacional, para uma realidade internacional. </div><div style="text-align: left;">Destaque natural para o alojamento estudantil, preconizando "<i>alojamento estudantil público para todos os estudantes deslocados</i>", com um foco de curto prazo num programa de emergência reconvertendo edifícios públicos sem utilização para residências, protocolando com o setor hoteleiro e de alojamento local, requisitando imóveis. Suponho, mas não sei, que se refere aos estudantes em instituições públicas. Suponho, mas não sei, se inclui os estudantes internacionais. Suponho, mas não sei, que não inclua necessariamente os estudantes em mobilidade. Em todo o caso, o problema é fortemente assimétrico e requer, provavelmente, soluções diferenciadas para diferentes cidades e regiões, articulando sempre que necessário habitação e transportes. Quanto à possibilidade de requisição, imagino que seja legalmente complicada.</div><div style="text-align: left;">Sobre as propinas, o programa é claro. Eliminação das propinas na licenciatura, CTeSP e mestrados integrados. Redução do valor das propinas de mestrados e doutoramentos. Também das propinas de estudantes internacionais. Fazendo comparações com outros países.</div><div style="text-align: left;">Clareza similar no que se refere a bolsas de investigação. "<i>Revogação do Estatuto de Bolseiro de Investigação Científica e inserção dos atuais bolseiros num enquadramento legal que garanta o direito a um contrato de trabalho, com 14 meses, direito a subsídio de desemprego e outros direitos constantes no código laboral e na LTFP</i>". Percebe-se a intenção, face ao histórico de recurso abusivo da figura do bolseiro de investigação científica. Não haverá, assim, lugar para o que poderiam ser genuínas bolsas de iniciação à investigação, usadas em contexto de formação, devidamente enquadradas, de curto prazo e sem repetição, e que não configuram responsabilidades laborais, muito menos de cariz anual.</div><div style="text-align: left;">A desburocratização, bem como o reforço e reorganização da Fundação para a Ciência e Tecnologia, merecem também aqui menção, num diagnóstico que até agora recolhe a unanimidade.<br /></div><div style="text-align: left;">Material para discussão.</div><div style="text-align: left;">Três de oito! </div>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-14163331731571734982024-03-01T22:15:00.002+00:002024-03-01T22:15:48.254+00:00Políticas para o Ensino Superior e Ciência - PS<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/s4080/Alma%20Mater.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="3060" data-original-width="4080" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/w200-h150/Alma%20Mater.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Imagem do jogo Alma Mater, Eggert Spieler</span></i></td></tr></tbody></table><p><i> <br /><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><br /></p><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Segundo episódio, o PS, talvez hesitante entre a continuidade, a diferença, ou a continuidade mais ou menos diferenciada. Começando pelos objetivos, a primeira ideia é de continuidade, ou não começassem os três objetivos por "<i>Reforçar"</i> e, mais à frente, com o desígnio de <i>"prosseguir um quadro de forte previsibilidade, de reforço do financiamento e de aceleração dos investimentos". </i>Os objetivos apresentam semelhanças com os da AD, sendo um mesmo idêntico, à boleia do número mágico dos 3% do PIB em ciência e inovação até 2030. Desta vez sem a nuance de <i>aproximar </i>a esse valor, mas com <i>procurando alcançar</i>, em tudo semelhante. </div><div style="text-align: left;">A vantagem de ter sido de ser governo nos últimos anos induz uma leitura diferente a palavras idênticas. Porque estão associadas a programas concretos, implementados, e portanto cujo sentido, concorde-se ou discorde-se, se conhece. Impulso adultos. Plano Nacional para o Alojamento. Agendas Mobilizadoras.</div><div style="text-align: left;">O ónus de ter sido governo nos últimos anos é que algumas das medidas já o eram há dois, seis, ou até mais anos. E ficaram perdidas no caminho de sucessivos governos e ministros. Reforma do Sistema Jurídico do Ensino Superior. Revisão dos Estatutos das Carreias Docentes e de Investigação. Reforço da autonomia das instituições do ensino superior. Clarificação do papel dos Laboratórios de Estado. Comissões, estudos, revisitações. É impossível não questionar: será desta? E, se for, em que sentido?</div><div style="text-align: left;">Algumas novidades na continuidade. Separar processos de recrutamento de processos de progressão nas carreiras. Assegurar uma dotação permanente para 1000 lugares de investigadores em instituições de ensino superior. 30 000 camas no Ensino Superior em 2028.</div><div style="text-align: left;">Algumas novidades em si mesmas. Uma Lei de Programação do Investimento em Ciência. A carecer de pormenores. "<i>Programa de apoio à carreira de recursos humanos altamente especializados de apoio à investigação". </i>Mais carreiras? Apoio financeiro às instituições? A carecer de pormenores.</div><div style="text-align: left;">Alguns sustos. Não apenas pelas palavras. Mas pelo sentido hierárquico, em contraponto a dimensões de autonomia. <i>"Criar uma rede de centros de excelência em inovação pedagógica, fomentado por um programa de financiamento de programas de modernização pedagógica e curricular no ensino superior, com especial foco em áreas consideradas muito relevantes para o desenvolvimento económico e social"</i>. Um programa de programas. Em áreas muito relevantes, mas não enunciadas. </div><div style="text-align: left;">Alguns nins. <i>"Revisitar o modelo de comparticipação nos custos por parte dos estudantes, incluindo a comparticipação nos custos nos ciclos de mestrado e doutoramento"</i>. Visitas sem orientação política. Sem uma postura de princípio. Tema potencialmente fraturante à esquerda. <i>"Reforçar os orçamentos para os concursos de projetos de investigação e desenvolvimento, aumentando as taxas de aceitação".</i> Bom, as taxas têm duas partes, um numerador e um denominador. Mexer no numerador não garante um aumento da taxa, até porque pode induzir comportamentos que aumentam o denominador.</div><div style="text-align: left;">Algumas contradições. <i>"Clarificação das missões de cada tipo de instituição: Laboratórios de Estado, Laboratórios Colaborativos, Laboratórios Associados e Unidades de Investigação e entidades de interface".</i> Para mais à frente logo propor a criação de "<i>Plataformas de Inovação Aberta", </i>envolvendo estas e outras instituições. </div><div style="text-align: left;">E alguns sério, a sério? Desburocratizar processos e reorganizar a Fundação para a Ciência e Tecnologia. É melhor falar mesmo com os investigadores que estão, neste momento, a preparar e submeter projetos de investigação nacionais. Entre o alinhamento com estratégias nacionais e regionais de especialização dita inteligente, códigos de atividade económica, a divisão e cálculo de percentagens do que é investigação fundamental e aplicada, guiões de candidatura divulgados muito depois da abertura dos concursos, plataformas informáticas repletas de problemas, pelas torções a que vão sendo sujeitas para acomodar projetos de investigação, quais corpos estranhos. Sim, eu sei que tem tudo a ver com as gavetas a que se vai buscar o dinheiro. A questão é saber se essa é a estratégia adequada, um remendo, ou um desenrascanço. </div><div style="text-align: left;">Fiquemos por aqui, que a conversa já vai longa.</div><div style="text-align: left;">E vão dois. Venham mais 6!</div>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-38355473925961055222024-02-29T18:57:00.003+00:002024-02-29T19:09:40.645+00:00Políticas para o Ensino Superior e Ciência - AD<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/s4080/Alma%20Mater.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="3060" data-original-width="4080" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbt0FgG1BaCKXAgOHVJfChSIEJ8zyg4KuN8iw8zcVPb0TC9N_yJjhjiGS4tr_Rh0l4dGD2TAAP2Bss8ozj9dWz2kGRMsqMDrASFg3qYMDuf9EGLrsqlYRt1x1xyTP_zxRSkuUZV-vQ99hevisTX_mamC2-XaS7CsRGANqsQ9aBi7DKUDHU2e1JVtMFSkA/w200-h150/Alma%20Mater.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Imagem do jogo Alma Mater, Eggert Spieler</span></i></td></tr></tbody></table><p><i> <br /><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><i><br /></i></p><p><br /></p><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Retomando um hábito antigo, ainda que com algum custo, decidi ler as propostas para o Ensino Superior e a Ciência, apresentadas nos programas eleitorais das forças atualmente representadas na Assembleia da República.</div><div style="text-align: left;"><b style="font-style: italic;">Aviso aos leitores: a análise de programas políticos pode ser causa de sintomatologia adversa!</b></div><div style="text-align: left;">Começando por quem defende que o caminho necessário só se faz <i>"invertendo a trajetória de desinvestimento, combatendo a desvalorização das carreiras e revertendo a degradação das infraestruturas</i>.<i>"</i>. PCP? BE? Livre? Não! A frase consta do programa da AD. E, assim, até parece fácil conseguir uma convergência parlamentar nestas matérias, independentemente de qual for a geometria governativa. A acompanhar de perto!</div><div style="text-align: left;">Mas adiante. Metas. Algumas. E, de facto, com números. Um investimento público e privado de 3% do PIB em ciência e inovação até 2030. Um número mágico que paira por aí há décadas, ainda e sempre como miragem. Partindo-se agora de 1,73% em 2022, segundo o documento em análise. 2030. Ambição para lá da legislatura. Ou talvez não. É que a meta é precedida pelo verbo <i>"aproximar" </i>e não pelo verbo "alcançar", o que dá para quase tudo.</div><div style="text-align: left;">Uma outra meta, esta sim inequívoca, duplicar no prazo da legislatura a <i>"oferta de camas em residências estudantis"</i>, em articulação com o privado. Não portanto a simples oferta de camas disponíveis, em geral e abstrato, mas especificamente em residências.</div><div style="text-align: left;">De seguida as medidas. Numerosas. Mas imbuídas de uma doença grave, estrutural, e infelizmente demasiado comum em esferas decisórias. É que não são, de facto, medidas. São, isso sim, anseios, desejos, intenções, e objetivos, quando muito. Não concretizando as políticas. Não apontando pistas. Por estratégica, confusão, ou incapacidade. </div><div style="text-align: left;">Alguns exemplos.</div><div style="text-align: left;"><i>Fortalecer a autonomia das instituições de Ensino Superior. </i>Sim? Como? O que se entende por autonomia? Face a quê? <i>Fomentar a atratividade das instituições de ensino superior para os estudantes internacionais e estudantes</i> <i>em mobilidade de curta duração.</i> <i>Reforçar as condições de bom desempenho de toda a comunidade que desempenha funções nas Instituições de Ensino Superior. Potenciar o regime de mecenato às instituições de ensino superior públicas. Desenvolver estímulos conducentes à contratação transparente e sustentável de docentes e investigadores por parte das instituições públicas</i>. Fomentar, reforçar, potenciar... Noutros pontos alavancar, desburocratizar, expandir, apostar, estimular. Verbos que não indiciam operações concretas. Palavras que ficam palavrosas.</div><div style="text-align: left;">Mais críptico, porque não desenvolvido, <i>"Organizar a rede de instituições de Ensino Superior para garantir a cobertura nacional</i>". </div><div style="text-align: left;">Mais ao lado e mais surpreendente <i>"Encorajar a participação de representantes do tecido empresarial nos conselhos consultivos das instituições de Ensino Superior". </i>Ao lado, porque tais órgão não são generalizados. Mais surpreendente, porque parte do pressuposto de que os empresários precisam de encorajamento para tal, o que quer que isso signifique.</div><div style="text-align: left;">Algumas ausências notadas: a política de propinas e a política de vagas.</div><div style="text-align: left;">Fica pouco, muito pouco. Algo surpreendente para a coligação que conta com um dos dois maiores partidos, com grande implantação, e, certamente, um grande número de pessoas capazes de contribuir a este propósito.</div><div style="text-align: left;">Um já está. Faltam sete.</div>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-64301886529628632402023-12-13T18:39:00.002+00:002023-12-14T19:17:39.735+00:00Foi você que pediu uma avaliação?<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmyP5NlhBTza2jIri9d8_V_Ib4Ah0hjYiM41IJBenhrS4z2nA3RfM8FUuEcB9lmo73hluScdfweg1ibCG-VTp2Shc0OHzIGDZYMLqh-jngbDnwYw7rV2pwTNHdETbY5fFDRHu4kjLuTqgHrNWCgbnmdtjX1mP6ASFDJQc7fK9-PVwnaWSrqih-PsSrlxY/s1028/IMG_2028.JPG" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="912" data-original-width="1028" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmyP5NlhBTza2jIri9d8_V_Ib4Ah0hjYiM41IJBenhrS4z2nA3RfM8FUuEcB9lmo73hluScdfweg1ibCG-VTp2Shc0OHzIGDZYMLqh-jngbDnwYw7rV2pwTNHdETbY5fFDRHu4kjLuTqgHrNWCgbnmdtjX1mP6ASFDJQc7fK9-PVwnaWSrqih-PsSrlxY/w200-h178/IMG_2028.JPG" width="200" /></a></div><br /><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">A Lei em avaliação. Comissões. Comissões independentes. Estudos e relatórios. Quase um ano de trabalho. Consultas e audições. Pronúncias e documentos. Procuro as avaliações. Opiniões e juízos. Análise e síntese. Em vão. Sobra o inquérito e os resultados. Percentagens de sins, nãos e talvez. Duvido que seja o indicador mais relevante. Perceções e opiniões. Sem contraponto com estudos e relatórios. Sem grande contraditório nem dissecação.</div><div style="text-align: left;">É a própria comissão independente, <a href="https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/doc/764-2023-206105573">nomeada</a> pelo Governo com o objetivo de proceder à avaliação da aplicação do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior, que o evidencia logo no início do <a href="https://wwwcdn.dges.gov.pt/sites/default/files/relatorio_rjies_2023.pdf">relatório</a> "<i>O presente relatório não exprime os pontos de vista da Comissão ou dos seus membros, mas sim um relato, tanto fiel quanto possível, da grande diversidade de opiniões, muitas vezes contraditórias, que resultaram da consulta pública efetuada."</i></div><div style="text-align: left;">Uma intepretação deveras minimalista do mandato conferido: "<i>As conclusões da comissão de avaliação deverão (...) resultar de um processo de debate e envolvimento público com a realização dos debates que forem considerados adequados, devendo ainda considerar os estudos e análises já realizados por entidades públicas e privadas sobre esta matéria."</i></div><div style="text-align: left;">Conclusões da comissão, leio. Resultando de um processo de debate e envolvimento público, prossigo. Volto atrás para reler. Conclusões da comissão. Da comissão. Não existem. </div><div style="text-align: left;">Quase, quase... quase, <a href="https://notasdasuperficie.blogspot.com/2023/01/quase-quase-quase.html">escrevia</a> em janeiro.</div>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-31313301295984413172023-11-28T18:46:00.001+00:002023-11-28T18:48:55.829+00:00Objetivamente subjetivo<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLaPC5I8ae-794yRmiZZlJ4gowrTtC37cNZiwwFjREa3ja2r92klixZa746zFn3RNMhHzuZLhS0kTiMmrWYxFwufkDaQKK5oD3rz660PW4NDB6b3GureHb_CdnagGZWUjyPI5ZfweaKQtMhUDP6QGl6iscYrYppYW0oGETm2ggXBQMdOh7fp-okuOnrEU/s4080/20231128_183621.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4080" data-original-width="3060" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLaPC5I8ae-794yRmiZZlJ4gowrTtC37cNZiwwFjREa3ja2r92klixZa746zFn3RNMhHzuZLhS0kTiMmrWYxFwufkDaQKK5oD3rz660PW4NDB6b3GureHb_CdnagGZWUjyPI5ZfweaKQtMhUDP6QGl6iscYrYppYW0oGETm2ggXBQMdOh7fp-okuOnrEU/w150-h200/20231128_183621.jpg" width="150" /></a></div>Leio. Um parecer. Do Conselho de Curadores da Universidade do Porto. Sobre o Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior, com ênfase no modelo fundacional. Decido escrever. Para não perder completamente a prática. <p></p><p>Lendo pausadamente. "<i>A avaliação das IES que optaram pelo regime fundacional deve ser feita por critérios objetivos e não subjetivos". </i>Penso. A eterna busca da medida sem sujeito. Asséptica. Incontestada. Desprovida de ónus... Inexistente! Vinda do seio de uma Universidade. Uma porta aberta, só por si, para uma longa conversa. </p><p>Continuo. Com curiosidade cética sobre o que medir e como medir. <i>"(...) tais como: a posição nos rankings internacionais"</i>. Estaco. Como? A posição num ranking configura uma avaliação objetiva? Traduz-se num número, é certo. Mas o seu significado é mais do que subjetivo, entremeado que está com pesos definidos por alguém, algures, com certos propósitos. Número que se traduz em posição, não em desempenho. Numa ordem em que separações de décimas ou de dezenas podem valer, afinal, o mesmo. Um lugar acima ou abaixo. Rankings que não são estudos. Rankings que não são universais. Rankings que não são completos. As Universidades gostam de apregoar a sua individualidade, mas medem-se numa qualquer liga, ordenam-se numa qualquer linha, qual fato que deva servir a todas. </p><p>Prossigo. "(...) <i>a empregabilidade dos alunos</i>". Mais um conceito que é todo um programa. Empregabilidade não é emprego. Desemprego não é (só) inscrição no centro de emprego. Emprego que requer uma qualificação menor, ou diferente, não é indiferente. Números passados não revelam futuros, muito menos quando o alvo é escala nacional e a teia é global. A que prazo se mede, uma vez que é apenas um potencial? Como trata a emigração? E os alunos que efetuam o seu percurso em várias instituições? Deve ser lida no conjunto de uma instituição, ignorando as diferenças de área? </p><p>Insisto. <i>"(...) a geração de receitas fora da esfera do Estado". </i>Prestação de serviços? Propinas, de valor limitado politicamente para os cursos de formação inicial? Do Estado que não dos Estados, supõe-se. De modo a contabilizar aqui as receitas vindas de financiamentos europeus, oriundas de... Estados. Receitas em competição? Com agentes do mercado que não beneficiam do mesmo apoio estatal? </p><p>Resisto. <i>"(...) autonomia, a responsabilidade e a agilidade na gestão dos processos.". </i>A ficar parco de comentários.</p><p>Objetivamente subjetivo. Como a própria escolha destas áreas de avaliação.</p>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-7722711920386452282023-07-11T20:59:00.002+01:002023-07-11T21:26:24.250+01:00A tentação de Frankenstein<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmhHvB7OW18xnZ45l-oP0ds5EDzk3n3mQpFD1JjrvUh1oVbLxHqwdi1H2_E_cpuqASZFuTNGqAf1F_esscClBVfy8MBguLW5tc8cx4wAItXzQDeQya-OkjdVQVGKeqYFGdh1lauEDEjHjtZLxvkZjyHdGtpPFNK5iTolqYXyNJfVKfuzbOD1bghircm48/s640/freestocks-2UDlp4foic4-unsplash.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="427" data-original-width="640" height="134" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmhHvB7OW18xnZ45l-oP0ds5EDzk3n3mQpFD1JjrvUh1oVbLxHqwdi1H2_E_cpuqASZFuTNGqAf1F_esscClBVfy8MBguLW5tc8cx4wAItXzQDeQya-OkjdVQVGKeqYFGdh1lauEDEjHjtZLxvkZjyHdGtpPFNK5iTolqYXyNJfVKfuzbOD1bghircm48/w200-h134/freestocks-2UDlp4foic4-unsplash.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "San Francisco", "Helvetica Neue", Helvetica, Ubuntu, Roboto, Noto, "Segoe UI", Arial, sans-serif" style="background-color: whitesmoke; color: #111111; text-align: start; text-wrap: nowrap;">Foto de </span><a href="https://unsplash.com/@freestocks?utm_source=unsplash&utm_medium=referral&utm_content=creditCopyText" style="background-color: whitesmoke; box-sizing: border-box; color: #767676; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "San Francisco", "Helvetica Neue", Helvetica, Ubuntu, Roboto, Noto, "Segoe UI", Arial, sans-serif; text-align: start; text-decoration-skip-ink: auto; text-wrap: nowrap; transition: color 0.1s ease-in-out 0s, opacity 0.1s ease-in-out 0s;">freestocks</a><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "San Francisco", "Helvetica Neue", Helvetica, Ubuntu, Roboto, Noto, "Segoe UI", Arial, sans-serif" style="background-color: whitesmoke; color: #111111; text-align: start; text-wrap: nowrap;"> na </span><a href="https://unsplash.com/pt-br/fotografias/2UDlp4foic4?utm_source=unsplash&utm_medium=referral&utm_content=creditCopyText" style="background-color: whitesmoke; box-sizing: border-box; color: #767676; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "San Francisco", "Helvetica Neue", Helvetica, Ubuntu, Roboto, Noto, "Segoe UI", Arial, sans-serif; text-align: start; text-decoration-skip-ink: auto; text-wrap: nowrap; transition: color 0.1s ease-in-out 0s, opacity 0.1s ease-in-out 0s;">Unsplash</a></span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: left;"></p><div style="text-align: left;"> </div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Cabeça. Tronco. Membros. Um daqui, outro dali, e mais uns quantos de qualquer outro sítio. Essa é, muitas vezes, a tentação quando olhamos "lá para fora", em busca de exemplos, de práticas, e de soluções. Combinando o que ainda não foi combinado. Na esperança de que a criatura criada seja o melhor de vários mundos. </div><div style="text-align: left;">Também no ensino superior, e em particular quando se procura reformar as reformas. Como se vai ouvindo em algumas discussões, agora a propósito do Regime Jurídico do Ensino Superior, como antes a propósito de propinas, fundações, fusões ou consórcios.</div><div style="text-align: left;">O problema é que tal contraria, desde logo, a noção de um <i>sistema</i> de ensino superior. Porque um sistema pressupõe ligações, dependências, relações complexas. Porque um sistema reage, como medida sanitária de autoregulação e sobrevivência, ao corpo que lhe é estranho. Porque, por tudo isto, as comparações de meros pedaços são mais enganosas do que virtuosas.</div><div style="text-align: left;">Não basta comparar o valor das propinas em diferentes países, e daí tirar conclusões sobre o que é ou não possível, sem discutir o modelo de financiamento, de quem paga o quê, e de onde vem o dinheiro. Não basta comparar a maior ou menor facilidade na criação de cursos, sem discutir o modelo de regulação dos mesmos, parecendo já longínquo o tempo em que se clamava contra a excessiva multiplicação dos mesmos. Ou a fixação do número de vagas, sem discutir o todo nacional, a concorrência entre instituições e entre regiões, os recursos. Ou o papel das instituições de ensino superior na requalificação, sem discutir a fundo horários, esquemas de formação, os recursos necessários e, sobretudo, atitudes.</div><div style="text-align: left;">Também não serve de muito apregoar determinados princípios, muitas vezes tidos como consensuais, deixando-os a pairar, vagamente, vagarosamente, sem concretização. <i>Maior autonomia</i>, como se a autonomia total fosse, necessariamente, a solução socialmente mais equilibrada e pretendida, ignorando a teia de equilíbrios em que assentam as várias autonomias e níveis de controlo. O <i>sistema binário</i>, que não o é em termos de instituições, cada vez mais indistinto em termos de formações, e ainda separado em termos de carreiras docentes (que não das outras). A <i>diversidade</i> de perfis institucionais, que carece de elaboração e que muitas vezes parece querer significar, no fundo, autonomia para angariar livremente financiamento. </div><div style="text-align: left;">Para além destas leis enquadradoras, existem outras realidades, que frequentemente têm um peso maior no dia das instituições, de quem nelas trabalhas, e de quem nelas estuda. Como o Orçamento de Estado e demais instrumentos associados à política orçamental, que tem sido o instrumento preferido dos sucessivos governos e equilíbrios parlamentares para atropelar, alterando casuisticamente, ano a ano, disposições legais que requerem estabilidade (como é o caso das propinas e das "compensações" que lhes estão associadas).</div><div style="text-align: left;">Realidades outras, determinantes, também dentro das próprias instituições de ensino superior, como a frequente e nefasta falta de separação entre governo e administração, com linhas de fronteira intencionalmente nebulosas, o escasso escrutínio pelos órgãos com responsabilidade para tal, e um nível de debate de questões fundamentais relativamente reduzido.</div><div style="text-align: left;">A revisão do RJIES anda por aí, a das carreiras de investigação também. A do financiamento vai sendo sucessivamente anunciada, mas ainda não se vislumbra. </div><div style="text-align: left;">Frankenstein à espreita?</div><p></p>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-48456807926872930822023-01-16T23:22:00.004+00:002023-01-23T18:11:54.234+00:00Quase, quase .... quase<p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYgy5OTSsjIp7jK2cxTxmXGUl1VBJPFidZ9C9Q5FhNtPtfFm4UAwEFewJJamQamXLJW8XK0KzcjHXN_VDGypyEqbpNu3xjWO-ugBR7d5M4E6Fc_WuH4VWtdAE679cjkZZc4f1rbUMSuuwGbusJhX1Cj-AuJMjjiiK3KrCkOJsI1a8UsrXLTzVENL59/s640/alexandra-nicolae-U3a0gwutBq8-unsplash.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="427" data-original-width="640" height="134" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYgy5OTSsjIp7jK2cxTxmXGUl1VBJPFidZ9C9Q5FhNtPtfFm4UAwEFewJJamQamXLJW8XK0KzcjHXN_VDGypyEqbpNu3xjWO-ugBR7d5M4E6Fc_WuH4VWtdAE679cjkZZc4f1rbUMSuuwGbusJhX1Cj-AuJMjjiiK3KrCkOJsI1a8UsrXLTzVENL59/w200-h134/alexandra-nicolae-U3a0gwutBq8-unsplash.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Photo by <a href="https://unsplash.com/de/@macnicolae?utm_source=unsplash&utm_medium=referral&utm_content=creditCopyText">Alexandra Nicolae</a> on <a href="https://unsplash.com/photos/U3a0gwutBq8?utm_source=unsplash&utm_medium=referral&utm_content=creditCopyText">Unsplash</a></span></td></tr></tbody></table><br /><br /><p></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Em 2013, fará dez anos a 27 de março, a entrada neste blog também continha <i>quase</i>, mas apenas a duplicar. O título, em toda a sua extensão, revelava ao que ia, <i><a href="RJIES - a revisão quase, quase">RJIES - a revisão quase, quase</a>. </i>Sim, o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, de 2007 ia ser revisto, tinha de ser revisto, e teria até sido já profundamente avaliado. </div><div style="text-align: left;">Passaram praticamente dez anos, alguns governos e governantes.</div><div style="text-align: left;">Dez anos de reticências...</div><p>A intenção de avaliação, provavelmente sem vontade associada, lá foi figurando como figurante nos programas partidários, e pontuando uma ou outra intervenção, uma ou outra promessa, uma ou outra reivindicação. Uma daquelas coisas que é suposto acontecer, mais tarde ou mais cedo, mas que está longe de ser prioridade, antes tarde do que cedo. E, portanto, vai sendo "estudada", com documentos que se vão acumulando em prateleiras virtuais, cobertos por pó digital, sem nunca se apresentar a "exame".</p><p>Estamos em 2023, bem para lá das reticências, e eis chega o <i>quase</i> número três, a condizer com a terminação do ano. Agora sob a forma de uma <a href="https://dre.pt/dre/detalhe/despacho/764-2023-206105573?fbclid=IwAR2ieOhXDd_r83AnTciBf_kuaZMZzufzC94ibygpIoyvZyAoIM3F8U3yLG0">Comissão Independente</a> (disposição que soa familiar, mais reticências) que vai proceder à avaliação da aplicação do dito Regime, promover debates públicos e outras formas de participação, considerar os estudos já realizados, e finalmente apresentar conclusões ao Governo. </p><p>Uma comissão, portanto, para estudar os estudos, para ouvir muitos que já foram ouvidos múltiplas vezes, para além, certamente, de figuras com responsabilidades atuais no setor e na restante sociedade. </p><div style="text-align: left;">Prazo: dezembro deste ano, mais um ano inteiro que os números se querem redondos. Parece demasiado. Depois, talvez, com mais ou menos reticências, as propostas políticas, porque o modelo de organização do ensino superior, da sua regulação, da governação das instituições, é político, e apenas político, no que acarreta de valorações diversas.</div><div style="text-align: left;">Prazo para novas propostas, a anteceder outras audições, discussões e consultas públicas, formais e obrigatórias: inexistente.</div><div style="text-align: left;">Revisitação do RJIES, Objecto quase, como escrevia Saramago, sem reticências.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><i>Publicado em versão reduzida no jornal Público, rubrica <a href="https://www.publico.pt/2023/01/23/opiniao/opiniao/cartas-director-2035828">Cartas ao Diretor</a>, a 23 de janeiro de 2023.</i></div>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-74675273732555513552022-12-10T17:37:00.004+00:002022-12-10T19:00:54.038+00:00Fragmentos <div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVmvKkIFAvL18HHrCE-lD-kOtLuytjlsMuJdQmBT4OzM-AH1aUnJVVLTUYlDlacsTVO6KGd_oTUEqoYnGi52jcKoiwT8Scvy2Bnfxq-eibXnRznR0aTXlPfVDX4fytBHe4X4wCEmfaDwf0svnQcpavkUGphiFP05SY1q1W3J8uYv2xlF28PP2FKREL/s1317/Fragmento.jpg"><img border="0" data-original-height="725" data-original-width="1317" height="110" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVmvKkIFAvL18HHrCE-lD-kOtLuytjlsMuJdQmBT4OzM-AH1aUnJVVLTUYlDlacsTVO6KGd_oTUEqoYnGi52jcKoiwT8Scvy2Bnfxq-eibXnRznR0aTXlPfVDX4fytBHe4X4wCEmfaDwf0svnQcpavkUGphiFP05SY1q1W3J8uYv2xlF28PP2FKREL/w200-h110/Fragmento.jpg" width="200" /></a></div><br />Manhã de fim de semana. Dia cinzento. Sentado a uma mesa de café. Sobre a mesa, a chávena de café, o bloco aberto, o lápis com muito ainda por escrever, a borracha, os óculos para a distância certa. Rabiscando notas, ideias para outras escritas, linhas de tempo. Ao lado, a janela que separa dois mundos. De fora, poderá ler-se, em fundo branco recortado formando letras de vidro, que existe uma cerveja de sabor autêntico, desde 1927. De dentro é possível ler o mesmo, mas em sentido inverso, mundo ao contrário. </div><p>Os clientes, poucos, entram, ficam pouco tempo, e saem de regresso há vida, depois do intervalo no mundo de dentro. Terão o hábito de vir aqui. Trocam palavras com os donos, ele sentado, atrás da caixa registadora, ela ao balcão, aviando os pedidos. Um café ou o pequeno almoço. Olhe, e um cartão daqueles, e depois mais um. Cartões para raspar a sorte, que não parece abundar. O homem terá ganho dez euros, há dias. Aquela, se tinha entrado antes, tinha ficado com o cartão de cinco euros. Contas de somar. Das de subtrair não se fala. A televisão, sempre ligada, ora alimenta conversas de ocasião como serve de banda sonora. Programas sobre vida selvagem, aquela dos outros animais.</p><p>No mundo de fora há duas pequenas mesas quadradas, junto às janelas, com cadeiras desalinhadas de plástico verde, entrançado. Uma extensão do mundo de dentro, paredes meias com o passeio, as pessoas andando, os carros parados à base de moedas, a rua que é, sobretudo, de passagem.</p><p>O homem entra, pede um café, e senta-se consigo no mundo de fora. Pedro, chamemos-lhe assim, porque precisa de nome, terá mais de trinta anos e menos de quarenta, talvez. Cabelo escuro e barba farta, que há muito não vêm tesoura. Usa uma gabardina, escura de cor, escura também da cor dos passeios e recantos onde deve ter dormido esta noite, onde deve dormir as noites. Pousado ao lado, o saco, onde transporta o cobertor. Na mão, de dedos enegrecidos e unhas longas, o cigarro aceso, fumado lentamente. Olhando o passeio, rosto pálido, olhos semicerrados para a vida. Ficou por ali algum tempo. Em transição, entre a noite que já foi e o dia que anda por aí. Levantou-se. Partiu. Discreto.</p><p>Chega depois Maria, chamemos-lhe assim, porque precisa de nome. Deverá andar pela mesma idade de Pedro. Magra, desalinhada entre o arranjo que parece querer mostrar e o desarranjo que se nota. Agitada, senta-se primeiro, lá fora, levanta-se e entra, depois. Um café? As moedas não chegam para tanto. Um copo de água, para ter direito a sentar-se um pouco no mundo de fora, que afinal parece ser o meu. Tosse. Agitada, percorre o telemóvel, murmura umas palavras. Tosse. Sorri para uma criança que passa, pela mão. Volta ao telemóvel. A tosse repete-se, torna-se insistente. Levantou-se. Partiu. Agitada.</p><p>No lugar onde estava Pedro, senta-se agora Sílvio, chamemos-lhe assim, porque precisa de nome. Cabelo quase rapado de lado, mais espesso em cima, penteado para trás, barba aparada. Jeans escuros e botas a brilhar de limpas. Camisola de gola alta e casaco aberto. Na mesa um café. Na mão um telemóvel, daqueles de dimensões generosas, com três, ou serão quatro, câmaras fotográficas na parte de trás, para capturar pedaços do seu mundo, e lançá-los nos fios que tecem as redes, ditas sociais. Os dedos deslizam à superfície. As imagens são sobretudo de botas e de sapatos, ampliadas, analisadas atentamente, reduzidas. Imagens com marca e preço, conjeturo. Longos minutos feitos de sapatos para andar. Umas quantas mensagens. Um telefonema. Levantou-se. Partiu. Calçado.</p><p>Arrumo os óculos e o lápis. Fecho o bloco, com fragmentos de escritas. Pago o café. Saio do mundo de dentro. Entro no mundo de fora.</p>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-44478814566646253922022-04-24T12:04:00.004+01:002022-04-24T12:05:15.582+01:00Siga o dinheiro!<p> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCucQDznInrxmJoctknuqgwr37aCPcSQMDwlRv4JvD5ls2xt5PUSbEo3fLmp7mCWMjijrGmvlfSbmKYykiXmk1OuJ72q4jF3cfBKdEOmLUH3irxv4GgvApBPRK0m2UcbdrWX9jSewwZBE7UTfQpbKJyazimDxKSgK1K26RudxFRaWEpyWQq8WSdkns/s400/The-money-trail.webp" style="clear: left; display: inline; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="250" data-original-width="400" height="125" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCucQDznInrxmJoctknuqgwr37aCPcSQMDwlRv4JvD5ls2xt5PUSbEo3fLmp7mCWMjijrGmvlfSbmKYykiXmk1OuJ72q4jF3cfBKdEOmLUH3irxv4GgvApBPRK0m2UcbdrWX9jSewwZBE7UTfQpbKJyazimDxKSgK1K26RudxFRaWEpyWQq8WSdkns/w200-h125/The-money-trail.webp" width="200" /></a><br /><br /></p><p>Este não é um texto sobre as vantagens de bem posicionar <i>os nossos</i>, quando vão para cargos de maior poder, na expetativa que demonstrem uma maior ..., chamemos-lhe assim ..., <i>sensibilidade, </i>para com os problemas e as particularidades sempre presentes na casa de origem. Um comportamento que se observa facilmente a vários níveis e várias escalas, em claro contraste com o que os mesmos atores apelidam, enfaticamente, de <i>favorecimento escandaloso</i>, quando são <i>outros </i>que estão em causa, e não <i>os nossos</i>.</p><p>Este não é um texto sobre o financiamento do ISCTE-IUL, os projetos aprovados ou rejeitados pelas Finanças, as propostas submetidas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a passagem do anterior Ministro das Finanças a Vice-Reitor, as incompatibilidades de facto, questões de ética, ou um nível salarial de cargos políticos compatível com eventuais períodos de nojo. </p><p>Este é apenas um texto sobre o que sabemos sobre o financiamento das instituições de Ensino Superior, em particular das instituições públicas. Sobre o que sabemos de forma pública, transparente e completa, abrangendo todas as instituições.</p><p>Ora, o que sabemos sobre isto, de facto? Nada! Rigorosamente, nada! </p><p>Este é, assim, um texto sobre o nada.</p><p>Podemos procurar nos sítios oficiais, Direção-Geral do Ensino Superior, Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, área do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior no portal do Governo. Encontraremos relatórios e folhas de cálculo, dados e séries históricas, muitos números e gráficos. Vagas, alunos inscritos, abandono, diplomados, doutorados, desemprego, emprego científico, docentes, não docentes. Sobre finanças, o vazio. Dinheiro, nem vê-lo, como se não fizesse parte da equação, como se não tivesse qualquer relevância. </p><p>Sim, é possível encontrar uns números, globais, sobre o financiamento do <i>sistema</i>. Mas nenhuma informação cabalmente desagregada e individualizada por instituição.</p><p>É estranho, porque é algo que está sempre presente em todas as discussões, de forma explícita ou imlícita.</p><p>Receitas. Financiamento direto do Orçamento de Estado; programas especiais de contratação; programas operacionais nacionais e regionais; propinas; projetos de investigação nacionais e internacionais; mecenato; prestação de serviços; aluguer de espaços e venda de bens.</p><p>Despesas. Pessoas, docentes, investigadores, não-não ou outra designação politicamente mais correta; aquisição, manutenção e reparação de equipamentos; construção e manutenção de espaços; livros, revistas e bases de dados; consumíveis; água, eletricidade, gás e comunicações, participações financeiras.</p><p>Sim, é possível vasculhar a execução do Orçamento de Estado de cada ano, mais as sucessivas alterações orçamentais. Sim, é possível percorrer os relatórios de contas de cada instituição. E esperar que a classificação contabilística mais as práticas de cada instituição forneçam alguma informação, esperando que os dados encontrados sejam comparáveis. Mas isso é trabalho para especialistas, com veia de detetive.</p><p>Nada disto se encontra facilmente acessível.</p><p>Pode ser feito? Sim, se houver vontade. Basta esticar os olhos para lá do canal da Mancha, para a jangada de pedra divergente, e confirma-se o óbvio. Pode fazer-se, faz-se, e é feito, no caso pela HESA, a Higher Education Statistics Agency. Estatística sobre muita coisa, incluindo <a href="https://www.hesa.ac.uk/data-and-analysis/finances">aspetos financeiros</a>, individualizados, das instituições.</p><p>Deve ser feito? A necessidade parece evidente, até porque, recorrentemente, se anuncia a discussão sobre o "modelo" de financiamento do Ensino Superior. Um modelo que parece esgotar-se apenas em dois parâmetros: transferência direta do Orçamento de Estado e propinas, ou uma qualquer compensação pela ausência, ou diminuição, das ditas... </p><p>É possível discutir o financiamento público a instituições públicas sem estes dados na mesa? Poder, pode-se, mas não é a mesma coisa! Porque permite jogos e pressupostos, baseados em mundos paralelos, desejados ou invocados. Neste contexto, não há Big Data, Machine Learning, Artificial Inteligence, ou Modernização digital que valham.</p><p>Não é fácil seguir o dinheiro do Ensino Superior!</p>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-55892206992138680062022-02-17T19:17:00.000+00:002022-02-17T19:17:19.489+00:00A fórmula mágica<p> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhNBd9GABfGdeTm_A-ZM894zjHQ15Xw2N0275ai6NRxEyLeZfFOLkxN2hGQGS78ozt1KZtAgwdFYVx-S-Vm8XRqsByTR3KULDoqqlZo5KAwW80OuWlalLbAJrRjj0vfVwi3WLBOTz136q_Kt-6n81aOE2rLRIUr-0fzGjTlfsB9W2kKRfXWh__tMDkD=s290" imageanchor="1"><img border="0" data-original-height="174" data-original-width="290" height="120" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhNBd9GABfGdeTm_A-ZM894zjHQ15Xw2N0275ai6NRxEyLeZfFOLkxN2hGQGS78ozt1KZtAgwdFYVx-S-Vm8XRqsByTR3KULDoqqlZo5KAwW80OuWlalLbAJrRjj0vfVwi3WLBOTz136q_Kt-6n81aOE2rLRIUr-0fzGjTlfsB9W2kKRfXWh__tMDkD=w200-h120" width="200" /></a><br /><br />O Expresso do passado dia 11 cita Maria de Lurdes Rodrigues, reeleita Reitora do ISCTE, a propósito do financiamento do Ensino Superior: "<i>Há 13 anos que a lei do financiamento não é aplicada. De então para cá as dotações das universidades têm sido calculadas usando o histórico dos anos anteriores, independentemente dos critérios da fórmula, que assenta sobretudo no número de alunos. O ISCTE é uma das instituições que mais tem crescido, mas que tem sido prejudicada face a outras que até perderam estudantes. Se a lei não está bem tem que ser mudada. Fingir que o problema não existe não o resolve."</i></p><p>Tendo acompanhado de perto, e analisado, a lei de financiado de 2003, e as sucessivas fórmulas usadas e deixadas de usar, este é um bom mote para visitar algumas das reflexões que fui partilhando sobre esta matéria.</p><p>"(...) No entanto, e de forma paradoxal, a Lei que estabelece as bases do financiamento do Ensino Superior, e que data de 2003, manteve-se inalterada na forma e, talvez por isso, quase votada ao esquecimento. Senão vejamos. Associa o valor das propinas à qualidade dos cursos; nunca aconteceu. Estipula que as propinas devem reverter para o acréscimo de qualidade no sistema; carece de demonstração. Consagra um financiamento por fórmula e com indicadores de desempenho; a última fórmula foi publicada em 2006, sofreu algumas mutações e sucumbiu, dando lugar a um orçamento em que o passado é quem mais ordena; captar estudantes, realizar melhor investigação ou ter um corpo docente mais qualificado deixou de ter relação com a dotação atribuída pelo Estado. A Lei foi assim desaparecendo, sem combate, com a conivência de Governos, Assembleia da República e Instituições de Ensino Superior. (...)"</p><p style="text-align: right;"><a href="https://observador.pt/opiniao/a-reforma-por-fazer/">Publicado no Observador</a>, em 18 de maio de 2017.</p><p>"(...) O financiamento público do ensino superior vai mudar radicalmente, qualquer que seja a configuração do governo, ou dos governos, nos próximos anos. Será mais estável, terá uma base plurianual e será contratualizado. (...) Esta é a certeza que se retira dos recentes programas eleitorais das maiores forças políticas: Portugal à Frente, Partido Socialista, Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português. As três primeiras são claríssimas quanto à necessidade de um financiamento plurianual, numa convergência de 92% dos deputados, bem mais do que as ditas frentes “europeístas” ou “anti-austeridade”. (...) O futuro parece, pois, promissor para o Ensino Superior. A menos que estas propostas sejam desejos e não compromissos. A menos que quem escreveu sobre ensino superior não tenha falado com quem escreveu sobre finanças. A menos que se repita o incumprimento, pelos sucessivos Governos, de contratos, como os assinados com as Universidades-Fundação. A menos que o destino seja o mesmo de um Contrato, a que se chamou “de Confiança”, e de que já ninguém se lembra. (...)"</p><p style="text-align: right;"><a href="http://notasdasuperficie.blogspot.com/2015/11/um-fenomeno-estranho.html">Passou na Antena 1</a>, no programa Click, a 12 de dezembro de 2015</p><p>"(...) Mas, para além do modelo em si, que permitirá distribuir um orçamento pelas instituições, é preciso aferir qual o montante que a sociedade está disposta a dedicar a esta setor, em particular quando é reconhecida, por todos, a necessidade de aumentar a percentagem de portugueses com formação superior. (...)"</p><p style="text-align: right;"><a href="https://notasdasuperficie.blogspot.com/2014/05/um-novo-modelo-de-financiamento.html">Publicado aqui nas Notas</a>, em 24 de maio de 2014.</p><p>"(...) Uma coisa é certa: não há, em lugar algum, ensino gratuito: o ensino superior tem custos e alguém os suporta. Trata-se, isso sim, de definir quem paga, em que proporção, como e quando. Podem ser os contribuintes, os estudantes e as suas famílias, os estudantes já não enquanto tal mas enquanto trabalhadores, ou, porque não, também os próprios empregadores? Ou ainda uma combinação de tudo isto em função de decisões sobre a responsabilidade no ensino, o colectivo e o individual, possibilidades de escolha, gastos no presente e expectativas de ganhos no futuro. É uma discussão ideológica, e ainda bem que assim é!"</p><p style="text-align: right;"><a href="https://notasdasuperficie.blogspot.com/2014/11/falando-de-propinas.html">Passou na Antena 1</a>, no programa Click, em 15 de novembro de 2014.</p><p>"(...) Reconhecendo que as fórmulas têm as suas limitações, eis uma proposta, apenas para início de discussão. A de um financiamento assente em três componentes independentes: uma, relacionada com o número de estudantes, o nível de ensino e as áreas de formação; outra, relacionada com indicadores de qualidade dos cursos e das próprias instituições, funcionando como estímulo às melhores práticas; e uma terceira, contratual, negociada, com objetivos bem concretos, permitindo o desenvolvimento das universidades e da rede de ensino superior, como um todo. Fica a sugestão."</p><p style="text-align: right;"><a href="http://notasdasuperficie.blogspot.com/2012/03/financiamento-do-ensino-superior-ii.html">Passou na Antena 1</a>, no programa Click, a 31 de março de 2012.</p><p>"(...) Nos termos da Lei, devem constar da fórmula: - a relação padrão pessoal docente/estudante e pessoal docente/pessoal não docente; - incentivos à qualificação do pessoal docente e não docente; - indicadores de qualidade do pessoal docente; - indicadores de eficiência pedagógica dos cursos; - indicadores de eficiência científica dos cursos de mestrado e doutoramento; - indicadores de eficiência de gestão das instituições; - classificação do mérito resultante da avaliação do curso / instituição; - estrutura orçamental traduzida na relação entre desepesas de pessoal e outras despesas de funcionamento; - classificação de mérito das unidades de investigação. Uma considerável mistura de indicadores de diferente natureza mas que, na sua essência, pressupõe que o Estado financia um processo-tipo de ensino, suscetível de ser caraterizado, por exemplo, através de relações padrão pessoal docente/estudante; e que pressupõe igualmente a existência de processos de avaliação abrangentes (a cursos e instituições), além de uma abundância de dados fiáveis nas diferentes vertentes. A fórmula, com todos os seus pormenores, seria publicada em Portaria. A última foi publicada em 2006, tendo no entanto a fórmula sido sucessivamente alterada e aplicada até ao orçamento para 2009."</p><p style="text-align: right;"><a href="https://notasdasuperficie.blogspot.com/2011/11/financiamento-do-ensino-superior-i.html">Publicado aqui nas Notas</a>, em 19 de novembro de 2011.</p><p>Muito ainda se poderia revisitar ou acrescentar. Talvez fique para outra ocasião, quem sabe?</p><p><br /></p>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-35486226899814318272020-10-30T20:36:00.003+00:002020-10-30T20:36:31.232+00:00O Erre<p> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLkzr90FEeEbp259I_zq5l43pKzRWpCjF3YyomgtvbNPlbUy3zqBpZhdJ-3rnBjsjuzgC9V56B_fncQObLaY7cyygGDGFc9-JQhd9GxtXFe1uDKccWFMpgWKtvzbPF3IXi4ULN41QVeNE/s732/O+Erre.png" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="475" data-original-width="732" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLkzr90FEeEbp259I_zq5l43pKzRWpCjF3YyomgtvbNPlbUy3zqBpZhdJ-3rnBjsjuzgC9V56B_fncQObLaY7cyygGDGFc9-JQhd9GxtXFe1uDKccWFMpgWKtvzbPF3IXi4ULN41QVeNE/w200-h130/O+Erre.png" width="200" /></a><br /><br /></p><div style="text-align: left;">O R já não mora aqui.</div><div style="text-align: left;">Chegou, talvez, em meados de abril.</div><div style="text-align: left;">Apresentado pela mão dos epidemiologistas de profissão.</div><div style="text-align: left;">Rapidamente apropriado por políticos, e generalizado por comentadores.</div><div style="text-align: left;">A par da descoberta das exponenciais, dos modelos matemáticos, das previsões.</div><div style="text-align: left;">Feitas por especialistas, por curiosos dos números e por opinadores.</div><div style="text-align: left;">Havia uma curva que crescia, e que era preciso achatar.</div><div style="text-align: left;">A ciência teria a chave, a política seguiria a ciência.</div><div style="text-align: left;">A crise, geral, global, mortal, levou ao consenso.</div><div style="text-align: left;">Fechar para reduzir o Erre e achatar a curva.</div><div style="text-align: left;">As pessoas aceitaram parar.</div><div style="text-align: left;">Sustendo a respiração.</div><div style="text-align: left;">Resistindo.</div><div style="text-align: left;">À espera.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Resultou.</div><div style="text-align: left;">A curva infletiu.</div><div style="text-align: left;">Suspirou-se de alívio.</div><div style="text-align: left;">Fizeram-se contas aos danos.</div><div style="text-align: left;">Começaram a desenhar-se apoios.</div><div style="text-align: left;">A anunciada segunda vaga parecia uma má profecia.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">A segunda vaga chegou.</div><div style="text-align: left;">Mais lentamente que a primeira.</div><div style="text-align: left;">Talvez por andarmos de máscara.</div><div style="text-align: left;">O Erre desapareceu da comunicação.</div><div style="text-align: left;">A forma da curva já não é discutida.</div><div style="text-align: left;">É a Ministra que anuncia as previsões.</div><div style="text-align: left;">Os números soam a inevitabilidade.</div><div style="text-align: left;">O consenso foi desaparecendo.</div><div style="text-align: left;">A responsabilidade fica com o Governo.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">A segunda vaga chegou.</div><div style="text-align: left;">Bem mais alta que a primeira.</div><div style="text-align: left;">A vacina ainda não chegou.</div><div style="text-align: left;">Não se sabe ao certo quando chegará.</div><div style="text-align: left;">Não se sabe ao certo o efeito que terá.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div>Fala-se pouco em planear.</div><div style="text-align: left;">Parece reagir-se dia após dia.</div><div style="text-align: left;">Fala-se em gestão das expetativas.</div><div style="text-align: left;">Entre a economia e a saúde.</div><div style="text-align: left;">Entre a certeza e o risco.</div><div style="text-align: left;">Não é o que se precisa.</div><div style="text-align: left;">A gestão dos outros.</div><div style="text-align: left;">Precisa-se planear para um cenário difícil.</div><div style="text-align: left;">Precisa-se planear para além do Natal.</div><div style="text-align: left;">Precisa-se admitir que vai durar.</div><div style="text-align: left;">Precisa-se construir uma linha de fundo participada.</div><div style="text-align: left;">Como fazer para apoiar quem mais necessita.</div><div style="text-align: left;">Como fazer para manter a saúde a funcionar.</div><div style="text-align: left;">Como criar alternativas para as pessoas.</div><div style="text-align: left;">Como reinventar atividades.</div><div style="text-align: left;">Como gerir a mudança.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Sim, vai ser preciso muito dinheiro, e mais do que dinheiro.</div><div style="text-align: left;">Sim, vai ser preciso reorientar as bazucas da Europa e as de trazer por casa.</div><div style="text-align: left;">Não é tempo de voltar ao que era antes, embora esse seja o desejo compreensível.</div><div>Não é tempo de um modelo dependente da construção e do turismo.</div><div style="text-align: left;">Porque é possível, e preciso, muito mais do que isso.</div><div style="text-align: left;">Não é tempo de aeroportos e de obras para daqui a umas décadas.</div><div>Porque é preciso saber como vamos atravessar os anos.</div><div><br /></div><div style="text-align: left;">Vagueando por entre outros Erres.</div><div style="text-align: left;">Risco, Resistência, Resignação, Revolta,</div><div style="text-align: left;">Reinvenção, Resultado, Remodelação, Respeito, </div><div style="text-align: left;">Recusa, Retórica, Reincidência, Razão, Riqueza, Retrocesso, Razoável, Resposta.</div><div style="text-align: left;"><br /></div>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-36308628134919185842020-08-14T11:11:00.002+01:002020-08-14T11:11:35.573+01:00Universidades no Verão - Parte II<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOtyqjP-_Wq_tCqx-t6vG0LDXHv8aXC1ON6ikg_djHP61smvg40Eih3WiGGneTKPvMPez22eAjBwnzyD5x-RYFG29F_bwQed4cqxelktV5IupGQYXl0ccdEHllg9sm1uH3NKeXTDMmO-A/s2048/IMG_7276.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1365" data-original-width="2048" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOtyqjP-_Wq_tCqx-t6vG0LDXHv8aXC1ON6ikg_djHP61smvg40Eih3WiGGneTKPvMPez22eAjBwnzyD5x-RYFG29F_bwQed4cqxelktV5IupGQYXl0ccdEHllg9sm1uH3NKeXTDMmO-A/w200-h133/IMG_7276.JPG" width="200" /></a></div><p>Reflexões em duas fases. O contexto, na <a href="http://notasdasuperficie.blogspot.com/2020/08/universidades-no-verao-parte-i.html">primeira</a>. As teses, nesta segunda.</p><p><i>Nota: trabalhando na Universidade de Aveiro há duas décadas, desempenhei funções de apoio direto à formulação e implementação de políticas institucionais entre 1999 e 2016, com o inerente acompanhamento próximo das políticas de ensino superior.</i></p><p>Parte II - As teses</p><p>Ainda a antecedê-las, o mote reforçado <i>"Da universidade depende a possibilidade de Portugal acontecer e ter futuro.". </i>Diria que futuros há muitos, em aberto e, por definição, por traçar. E para o futuro que há-de vir será o resultado da contribuição de muitas componentes, universidade incluída mas não exclusiva. Mas passemos às teses. Para quem não leu o artigo, vale a pena resumi-las aqui, transcrevendo o que no jornal estava a negrito, e que era, em cada caso, seguido por curto parágrafo explicitando o conceito:</p><p></p><ol style="text-align: left;"><li><i>A universidade do futuro existe para fazer acontecer, e não para esperar o que lhe acontece.</i></li><li><i>A universidade do futuro é colaborativa e compete em ambiente supranacional.</i></li><li><i>A universidade do futuro será estúdio e não fábrica, um espaço de criatividade e não de repetição.</i></li><li><i>A universidade do futuro será sempre repositório de memória cultural.</i></li><li><i>A universidade do futuro é cosmopolita, um espaço de inclusão e respeito pela diversidade.</i></li><li><i>A universidade do futuro é uma instituição livre e plural.</i></li><li><i>A universidade do futuro não tem muros, está aberta à sociedade e aos seus desafios.</i></li><li><i>A universidade do futuro promove um futuro melhor.</i></li><li><i>A universidade do futuro é humana num contexto tecnológico.</i></li><li><i>A universidade do futuro é uma força transformadora.</i></li></ol><p></p><p>Desta vez, ao contrário de outras, resisti a pegar no escalpelo e dissecar o texto, camada a camada, para tentar melhor compreender este corpo, e descortinar ligações e intenções. A primeira impressão que o texto me causou foi de estranheza, até mesmo desconforto, meio vago, assim ainda por definir e por explicar. Soube a pouco. </p><p>Será o estilo, e a repetição exaustiva, deliberada, da expressão "<i>A universidade do futuro</i>"? É possível. O facto de só se falar no futuro, e nunca na universidade do presente, suscita novas interrogações: a universidade do presente já é a do futuro, já coloca Portugal num futuro, e teme-se um retrocesso? Ou, a não ser assim, a universidade do presente nada ou pouco encerra destes motes? Apregoa-se a manutenção, uma transformação, um incremento? E o que é preciso para passar do presente ao futuro, são apenas os "recursos imprescindíveis", "estabilidade legislativa" e "autonomia"? Sim, o estilo talvez dificulte a mensagem e desfoque a atenção.</p><p>Mas não é apenas isso. O desenvolvimento das ideias nem sempre está bem alinhado com os temas. Um exemplo apenas. "<i>A universidade do futuro promove um futuro melhor". </i>Uma frase ambiciosa, que permite esperar muito, em muitos domínios da nossa vida comum. Mas que se traduz em <i>"A universidade orienta-se para proporcionar a todos um futuro profissionalmente estimulante e para promover a capacidade de aspirar</i>." A ideia passou pelo funil da universidade profissionalizante, longe do ideal do desenvolvimento integral do indivíduo, ou do contributo para a participação crítica e ativa das pessoas. </p><p>Serão, também, os motes selecionados? Experimentei trocar, nas 10 teses, "A universidade do futuro" por "A empresa do futuro". Também funciona em praticamente todas, não é verdade? E, também aqui, estes mesmos motes estarão já em muitas empresas do presente. </p><p>Ainda, sobre as teses, continuo a resistir à tentação de as percorrer em detalhe, uma a uma. Ao invés, decidi escolher três delas: a Ausente, a Incompleta e a Chocante.</p><p>A Ausente, não foi, obviamente, incluída. E considero que é, provavelmente, um dos redutos quase exclusivos das Universidades, em particular e em Portugal, públicas. Sei que não seguirá a corrente, nem apela necessariamente à simpatia pública ou de muitos mecanismos de financiamento. Percebo que para alguns pareça elitista, um privilégio ou mesmo um luxo. Mas é indispensável para o futuro, diz-nos o presente e a histórias das civilizações e da tecnologia. Refiro-me à criação do conhecimento pelo conhecimento, aquele que alarga a nossa visão sobre, aquele que permite que outros, anos, décadas ou séculos depois encontrem, por vezes, utilidades impensáveis. Sem séculos de pessoas a observar os céus e os astros, enquanto outras tentavam penetrar nas profundezas da terra, não tínhamos hoje, por exemplo, esta comunicação global, baseada em satélites e no uso de materiais raros. </p><p>A Incompleta, porque assumindo o papel transformador da universidade, não evidencia o principal agente da transformação. Sim, <i>A universidade é fundamental na transformação da sociedade</i>, ou, pelo menos, tem um papel relevante e próprio nessa transformação. Mas não é uma influência direta da Universidade, ou, pelo menos, não é essa a maior influência. A principal transformação é indireta e diferida no tempo. A principal transformação depende de quem estudos e investigou numa universidade, mas já lá não se encontra. A principal transformação dependerá das dezenas de milhares de pessoas que anualmente se graduam, que vão desenvolver a sua atividade profissional noutras instituições, públicas ou privadas, que vão tomar decisões com visões de futuro, que vão ser afetados por decisões de outros, que vão participar ou ser passivos. É preciso assumir explicitamente a importância transformadora deste papel indireto, e por essa via consagrar a importância interna, no seio das próprias universidades, da componente ensino, com todas as implicações que isso acarreta. Por uma questão de coerência.</p><p>A Chocante, na lista das teses associada ao mágico número 7. <i>A universidade do futuro não tem muros, está aberta à sociedade e aos seus desafios</i>. Sim, são questões de semântica, porque trata-se aqui de significados, do que se quer dizer, do que se escreve, do que pode ser lido. Sim, são questões sobre mundos que continuam separados. Sim, são questões preocupantes, que me chocam, porque, pelos vistos traduzem uma visão do futuro, que se vem dizendo já ser passado. A universidade que se diz "aberta" à sociedade e aos seus desafios, coloca-se do lado de fora da sociedade. Diz-se aberta, por benevolência, estratégia ou convicção. Pouco importa. São uns e os outros. Como se os recursos não fossem partilhados, como se os problemas não fossem de todos, como se observador e observado não fossem o mesmo. Como se as pessoas saíssem da sociedade, para entrar, por uma porta aberta, na universidade, e depois regressassem à sociedade, como se os docentes e investigadores mudassem completamente de fato, oscilando entre o ser em sociedade e o ser na universidade. É verdade que em muitos aspetos, até pelas próprias regras por que se regem, as universidade continuam a ser um mundo à parte. Mas esta é a visão de uma universidade retiro, ou retirada. No século XXI e para o futuro. Pode não ser uma torre de marfim ou não ter muros. Mas parece continuar a ter as barreiras mais difíceis de ultrapassar, as mentais.</p><p>Sim, as razões do desconforto sentido passam por tudo isto.</p>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-57275462862953570992020-08-11T18:19:00.000+01:002020-08-11T18:19:47.663+01:00Universidades no Verão - Parte I<p> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrXAdQai5CdTz2r7sma1AADqgwDDBoLlm4frVNNWnHBsuFLFYotiqkmaRIe1Bz3o-Fn3IV9lzec5zDBI_nZ-HJdoIFNaIxfoRKqafkVPmfKFewOJ68w5uWCpClytAdt6Uw603HVS6qZRc/s2048/IMG_7276.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1365" data-original-width="2048" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrXAdQai5CdTz2r7sma1AADqgwDDBoLlm4frVNNWnHBsuFLFYotiqkmaRIe1Bz3o-Fn3IV9lzec5zDBI_nZ-HJdoIFNaIxfoRKqafkVPmfKFewOJ68w5uWCpClytAdt6Uw603HVS6qZRc/w200-h133/IMG_7276.JPG" width="200" /></a></p><p>Não estava propriamente nos planos escrever, nesta altura, sobre as Universidades. A volumosa biografia na mesa de cabeceira ainda vai a meio, as solicitações noutros domínios têm sido várias, e o Verão convida a outros olhares, mais afastados dos temas do dia a dia. Mas a leitura de um jornal suscitou reflexões, estas conduziram à escrita, e este blog, que continua a existir, assegura o registo e a partilha.</p><p>O texto culpado é um artigo de opinião intitulado <i>A universidade portuguesa e o futuro: 10 teses e uma visão comum</i>, subscrito por todos os dirigentes máximos das instituições universitárias públicas, concordatárias e militares, e publicado no Expresso de 8 de agosto, com o mote jornalístico <i>Reitores das universidades assinam apelo comum</i>.</p><p>Reflexões em duas fase. Primeiro, o contexto. Na segunda parte, as 10 teses.</p><p><i>Nota: trabalhando na Universidade de Aveiro há duas décadas, desempenhei funções de apoio direto à formulação e implementação de políticas institucionais entre 1999 e 2016, com o inerente acompanhamento próximo das políticas de ensino superior.</i></p><p>Parte I - O contexto</p><p>Um artigo de opinião, no principal semanário do País, em pleno mês de agosto, da autoria de um coletivo de dirigentes institucionais, é um ato politico. Um ato com objetivos e destinatários, ainda que não sejam, nem uns, nem outros, explicitamente referidos. Um ato que permite várias análises e interpretações, baseadas na palavra lida, que pode ser diferente da palavra escrita, e no seu contexto. Esta é a minha leitura.</p><p><b>O universo abrangido</b>. Não se trata de um texto de dirigentes representativos do ensino superior português no seu todo, uma vez que não inclui o ensino superior privado nem o ensino superior politécnico. Trata-se, como referi, de um artigo subscrito pelos dirigentes máximos das instituições universitárias públicas, concordatárias (Universidade Católica) e militares (Instituto Universitário Militar), ou seja por todos os membros que integram o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). </p><p><b>A autoria</b>. Podendo parecer uma mera subtileza, ou uma questão de somenos, o texto é subscrito individualmente, em nome próprio e com designação das instituições, pelos dezasseis dirigentes, em lugar, como era mais comum, de uma posição do CRUP. Esta diferença assegura uma personalização do ato, com rostos por detrás do texto, com nomes das instituições, que na maioria dos casos evocam as próprias regiões onde se situam, induzindo assim um efeito de proximidade nos leitores e de abrangência nacional e, talvez mais importante, transmitindo um sentimento de unidade e de unanimidade. Uma posição de um órgão colegial, certamente desconhecido de muitas pessoas, esconde, frequentemente, profundas divergências internas, encerra um certo grau de anonimato e tem uma conotação, sem dúvida, de índole mais corporativo.</p><p><b>O momento. </b>Porquê agora? Porquê em agosto, este mês normalmente diferente para muitas pessoas, de férias para uns, de mais trabalho para outros, de uma agenda política e mediática mais reduzida? Qual a urgência? No domínio do ensino superior público, agosto, mês de transição entre anos letivos, está associado a dois processos de importância elevada: o concurso nacional de acesso ao ensino superior e os trabalhos de preparação do orçamento de estado para o próximo ano. </p><p>O concurso nacional de acesso ao ensino superior deste ano decorre num quadro dominado pelos efeitos da COVID, com incerteza quanto à evolução da pandemia e, consequentemente, ao modo de funcionamento de cursos e aulas. Assegurar a capacidade de funcionamento adequado, quanto aos conteúdos e métodos, e em segurança, e estabelecer uma relação de confiança na instituição, é fundamental para futuros e atuais estudantes. </p><p>Por outro lado, também o orçamento que aí vem será fortemente condicionado pela crise despoletada pela reação à pandemia, pelas medidas de compensação e de recuperação, e pelos avultados fundos que hão-de chegar através das medidas específicas de apoio acordadas na União Europeia. E, como sempre acontece nestes casos, competição interna pelos fundos não irá faltar, entres instituições, associações, regiões, ministérios, ministros!</p><p><b>Os objetivos</b>. A introdução e as dez teses dedicam-se a sublinhar a importância da Universidade, colocada já semanticamente "no futuro", ou a caminho dele, como é reiterado inúmeras vezes ao longo do artigo, procurando explicitar algumas faceta ou características dessa universidade por vir. </p><p>Mas dos potenciais objetivos parece ficar mais claro, quando juntamos as partes iniciais e finais do texto, saltando por cima das teses: "<i>Da universidade depende a possibilidade de Portugal acontecer e ter futuro." (...) "[A universidade do futuro] deve ser dotada dos recursos imprescindíveis ao desenvolvimento da sua missão. (...) Deve desenvolver a atividade no âmbito de um quadro legislativo estável e adequado, que promova a autonomia e responsabilização. Só assim (...) poderá continuar a assegurar o seu papel vital.". </i></p><p>Há, portanto, duas linhas que aqui se evidenciam, e onde talvez o jornalista tenha visto o "apelo" a que o cabeçalho do artigo alude: ter os recursos imprescindíveis e um quadro de promoção da autonomia. Falta aqui clareza. Começando pelo final: promover a autonomia. </p><p>A autonomia das universidades face ao Estado tem muitas vertentes - estatutária, pedagógica, científica, cultural, administrativa, financeira, patrimonial e disciplinar -, e não menos gradientes, uma vez que, não se trata de ter ou não ter autonomia. E, portanto, era preciso, nesta designada visão comum, definir qual a autonomia que se preconiza, se é mais que a atual, ou se a existente se encontra ameaçada. </p><p>De modo similar, quanto aos recursos, é preciso caracterizar o que são os recursos "imprescindíveis", e qual é a situação atual. Normalmente, isto significa querer mais recursos. Mas aqui entra ainda uma outra outra distinção fundamental: a Universidade, como instituição coletiva, não significa o mesmo que a soma das universidades atualmente existentes. Aliás, sem por em causa a continuidade da Universidade em Portugal, em tempos idos, o atual Reitor da Universidade de Lisboa <a href="https://notasdasuperficie.blogspot.com/2012/01/numeros-magicos.html">defendia </a>uma redução significativa do número de universidades em Portugal. E tivemos também a apologia da concentração, das fusões, dos consórcios e das ofertas de formação regionalmente coordenadas. As modas foram efémeras e agora estaremos na fase em que todas as instituições (ou quase todas) serão indispensáveis. Em todo o caso, falar de recursos para o ensino superior, sem abordar a lógica e méritos de repartição dos mesmos pelas diferentes instituições, o que terá o condão de esbater unanimidades, ou aludindo apenas a recursos "imprescindíveis", é manifestamente insuficiente em termos de direção. </p><p>É provável que o objetivo primordial seja traçar aqui um pano de fundo para futuras reivindicações em sede de orçamento, visando a obtenção de maiores recursos, ou pelo menos evitando uma diminuição dos mesmos. E procurando, também, assegurar benefícios em termo de autonomia, ou evitar limitações, em que a lei orçamental tem sido abundante.</p><p><b>Os destinatários</b>. Há vários destinatários possíveis, em simultâneo. A opinião pública, que se pretende sensiblizar e manter do lado do desenvolvimento, do futuro e, assim, do papel das Universidades. O Ministro da tutela, tendo em vista a negociação orçamental que se aproxima, em duplo sentido: pressionando-o diretamente, por um lado, e fornecendo-lhe argumentos para esgrimir em Conselho de Ministros, ou pelo menos face ao Minsitro das Finanças. O Governo como um todo, ou o Primeiro-Ministro em particular, acentuando o papel das Universidades para um futuro com mais peso do conhecimento. Os vários partidos, porque o Governo é minoritário. O Presidente da República, que é sempre um órgão a que se apela, discretamente ou abertamente, como recurso.</p><p>Continua na Parte II.</p>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-72555126375242453662020-06-08T19:20:00.000+01:002020-06-08T19:20:04.311+01:00PEES, com os pés?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVaMEwL2BuaLnMvPey_PRB2URIgOj_9cLvQJ-6SxSY4RJoW3TP4t8PjKZtxuic2VXyWD5_yf2xrAiyVbvIxAEUltezP7NrdAN8_OwXDw_NVRstONW61KpSwCx-k1HmhQ_sCu3_a_LPQU0/s1600/P%25C3%25A9s.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="512" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVaMEwL2BuaLnMvPey_PRB2URIgOj_9cLvQJ-6SxSY4RJoW3TP4t8PjKZtxuic2VXyWD5_yf2xrAiyVbvIxAEUltezP7NrdAN8_OwXDw_NVRstONW61KpSwCx-k1HmhQ_sCu3_a_LPQU0/s200/P%25C3%25A9s.png" width="200" /></a></div>
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Terá sido falta de revisão? Um erro de copiar e colar? Uma data trocada? Uma linha de tempo que, no fundo, tantas vezes não interessa? Um sentido de urgência? Um sentido de normalidade? Uma visão ministerial independente da realidade? Um programa que depois se ajusta?<br />
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Ou será que é mesmo para acontecer tudo a partir de julho, à revelia dos regulamentos e calendários existentes, com o conhecimento e o envolvimento garantido das universidades e politécnicos, docentes e investigadores, quando a situação ainda não é sequer "normal", ou seja, "presencial", para os alunos já inscritos?<br />
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Este "tudo" é o que consta no <a href="https://pees.gov.pt/wp-content/uploads/2020/06/PEES-Programa-de-Estabilizacao-Economica-e-Social.pdf">Programa de Estabilização Económica e Social</a> definido pelo Governo, no âmbito das três medidas agrupadas sobre o lema <i>Requalificação profissional no ensino superior.</i><br />
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Vejamos.<br />
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<i>Apoiar a inserção de 10 000 jovens e adultos, em formações iniciais curtas no ensino superior politécnico (cTESPs) em articulação com empregadores, <b>a iniciar com ações presenciais em julho 2020</b>.</i><br />
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<i>Apoiar a inserção de 10 000 adultos (maiores 23 anos), incluindo desempregados e </i><i>pessoas em lay-off, em <b>licenciaturas </b>no ensino superior, <b>sobretudo em regime pós-laboral</b>, </i><i><b>a iniciar com ações presenciais em julho 2020</b>.</i><br />
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<i>Apoiar a inserção de 10 000 adultos, incluindo desempregados e pessoas em lay-off, </i><i>em <b>pós-graduações</b> no ensino superior, sobretudo de <b>curta duração</b>,<b> a iniciar com ações </b></i><i><b>presenciais em julho 2020</b>, <b>em regime pós-laboral</b> e em articulação com empregadores e </i><i>unidades de I&D, instituições científicas e centros de inovação.</i><br />
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Pelo meio haverá (?) necessariamente a programação dos cursos, um regime de acesso com a realização de concursos, a colocação de candidatos, a preparação de um regime pós-laboral que, diga-se, é escasso em quase todas as universidades, e pouco procurado mesmo nos anos em que mais se apostou nesta modalidade.<br />
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E isto num momento em que as instituições procuram regressar ao funcionamento mais pleno, em que quase todas elas não retomarão aulas presenciais alargadas antes do novo ano letivo, em que esse mesmo ano começará mais tarde do que o habitual, e em que é incerto os moldes em que vai arrancar.<br />
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Julho de 2020? Bom para por os pés na água!</div>
Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-7623312358459416692020-05-16T16:13:00.000+01:002020-05-16T16:31:34.812+01:00Conformidades <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixnecWsd61EUQMWCW09mv_AHn3V2lIZI2NKZ5H0X9P6lfhmgFJa0AjpuAnvfRIld4mrroKwOUG5p_m_0dJDIqA04sdgqBdn0HOOm8so1aZ_4HWcaa_skVG4q9GYXhBZlv1w8MyolCzaTA/s1600/meeting-1293980_1280.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1044" data-original-width="1280" height="163" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixnecWsd61EUQMWCW09mv_AHn3V2lIZI2NKZ5H0X9P6lfhmgFJa0AjpuAnvfRIld4mrroKwOUG5p_m_0dJDIqA04sdgqBdn0HOOm8so1aZ_4HWcaa_skVG4q9GYXhBZlv1w8MyolCzaTA/s200/meeting-1293980_1280.png" width="200" /></a></div>
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Folheando leituras de há uns anos.<br />
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Um livro de 2011, editado pela Bertrand no ano seguinte, adquirido e lido em 2017. Duas entradas nas Notas, nesse mesmo ano.<br />
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A primeira, "<a href="https://notasdasuperficie.blogspot.com/2017/05/capitulo-1.html">Capítulo 1</a>", então ainda em início de leitura, num momento em que a escrita de um tempo passado parecia irromper bruscamente pela realidade, através das notícias de última hora. O dito capítulo intitula-se "A onda mexicana e o bombista suicida". Na Grã-Bretanha do autor tinha acabado de acontecer o atentado na Manchester Arena.<br />
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O livro regressou às Notas, um par de meses depois, com alguns excertos e parafraseando o autor, "<a href="https://notasdasuperficie.blogspot.com/2017/06/eu-sei-porque-o-fiz.html">Eu sei, porque o fiz</a>". Reflexões pessoais sobre sistemas de poder e os indivíduos, sobre os outros, sobre nós, sobre governos. Como poderia ser sobre outras instituições. Aqui fica mais um, nesta mesma linha.<br />
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"<i>De início pensei que pudesse ajudar a alargar este espaço de decisão possível e a empurrar os seus limites. No entanto, com o passar do tempo, tornou-se mais fácil brincar nesse pequeno aglomerado de árvores, enquanto fazia de conta que se tratava da floresta inteira. Os limites do politicamente disponível passaram a definir os limites do meu pensamento. Tendo em consideração que não valia a pena pensar naquilo que não me seria permitido, fui lentamente aprendendo a não me preocupar. A minha visão do mundo começou cada vez mais a parecer-se com a visão de todos os outros funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros. As minhas cartas, telegramas e discursos - fui durante um tempo o redator de discursos do ministro dos Negócios Estrangeiros - tornaram-se iguais aos de todos os outros. Articulados, bem concebidos, até mesmo impressionantes, mas absolutamente convencionais. Estranhamente, à medida que fui subindo na hierarquia, não passei a gozar de mais espaço para expressar os meus pontos de vista; na realidade, até passei a ter menos. Quanto mais elevado o meu grau hierárquico, mais importante se tornava que as minhas opiniões pessoais não se afastassem da linha oficial. Olhava para o meu embaixador em busca de um exemplo: nada do que dizia, em privado ou em público, se afastava da linha política seguida pela Grã-Bretanha. Era consistente, o diplomata completo. Era profissional e nunca questionava nada</i>."<br />
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Carne Ross, A revolução sem líder, Bertrand Editora.Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-61766352754804001572020-04-25T17:06:00.004+01:002020-04-25T17:06:50.021+01:00Terceiro andamento, Largo: O mundo afastou-se<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSBgXo0TKpT1W3LSHwSCBXqjBMlWiVNWQ91gBRe3KVJ2MDyQpdig8byFqdMcuTa7tNOOV8ufFxpX5RgSGVcONiDEvrBsDIYVInlvi1ul5zl-r1D3Bs5H2LNzmn0zt7_vNzQZLCOA2GZCk/s1600/Serra.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1066" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSBgXo0TKpT1W3LSHwSCBXqjBMlWiVNWQ91gBRe3KVJ2MDyQpdig8byFqdMcuTa7tNOOV8ufFxpX5RgSGVcONiDEvrBsDIYVInlvi1ul5zl-r1D3Bs5H2LNzmn0zt7_vNzQZLCOA2GZCk/s200/Serra.JPG" width="200" /></a></div>
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Levantei os olhos do computador e da secretária, e espreguicei-os através da janela. Do lado de lá via os campos, sob o sol filtrado pelas nuvens, e, mais longe, a serra. Uma vista que se foi tornando habitual, a pouco e pouco, desde aquela altura em que trocara a cidade junto ao litoral por esta terra do interior.<br />
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Não fora uma decisão para mudar de vida, perto dos sessenta, nem por uma questão de poupança, ou sequer de acesso a apoios de repovoamento. Pelo contrário, os preços no interior tinham subido muito, em movimento quase simétrico com a descida que ocorria nas grandes cidades. Fora, sobretudo, pela necessidade de afastamento imposta por estes tempos.<br />
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O meu olhar voltou para dentro, e eu com ele, pousando sobre o teclado que aguardava, pacientemente, pelos dedos. O trabalho, afinal, quase não sofrera alterações com esta mudança. Continuava a ser feito à distância, como naquele outro tempo, através de trocas constantes de mensagens, reuniões periódicas através dos écrans, receção e envio de documentos, análises de dados, produção de relatórios. Ganhara algo, no entanto, agora que este forma de trabalho passara a ser a norma para muitas atividades: a gestão do meu tempo, apenas em função dos objetivos e dos prazos estabelecidos. Podia, por isso, trocar uma manhã ou uma tarde de escritório, por um passeio pelos trilhos, para saborear o sol ou a chuva, e regressar ao computador à noite ou durante o fim de semana.<br />
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Como eu, muitos outros tomaram o caminho do interior, em busca de sítios mais pequenos. Foi o tempo da mudança, não de regresso a um mundo que já não era, mas para a frente, ou para o lado, ou para cima, para uma qualquer outra direção. Construíram-se casas, recuperaram-se campos, criaram-se serviços, instalaram-se escolas e hospitais, vieram as empresas. Sem replicar as grandes cidades de outrora. Dando uso a estradas pouco habituadas a este movimento. Estendendo-se pela paisagem. Trocando as economias de escala por uma nova escala da economia. Tecendo uma nova rede, larga, espalhada, afastada, viva!<br />
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As cidades, essas, esvaziaram-se, perdendo ar como um balão. Sem ficarem desertas, ajustaram a sua dimensão, e achataram, ganhando espaços vazios no que antes eram torres preenchidas. As casas que ficaram vazias foram sendo ocupadas, não por novos habitantes que afluíam às cidades, como antes acontecia, mas por quem antes não tinha casa e, principalmente, pelos que, ficando, procuravam a distância necessária. Outras zonas ficaram apenas ao abandono, permitindo o regresso da natureza, definindo os novos limites da cidade.<br />
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As pessoas, essas, tinham mudado, reflexo daquele outro tempo, que se prolongava por este adentro. Mantinham uma distância entre si, definida pela ciência, pelos limites da ciência, pela experiência passada, e pelo receio ou pela prudência. Porque a possibilidade de surgir “The Big One” continuava no pensamento de todos. Davam abraços de longe. Trocavam de passeio, para reduzir os cruzamentos de perto. Esperavam, ordeiramente, em filas espaçadas. Usavam máscaras, ou até fatos inteiros de proteção se a situação o requeria. Não entregavam coisas de mão em mão: umas pousavam-nas, outras recolhiam-nas. Os testes eram frequentes. Os movimentos controlados. As quarentenas obrigatórias, prolongando os tempos de deslocação. Os isolamentos locais habituais, sempre que apareciam novos casos.<br />
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Volto a esta sala, com janela para a serra. O mundo afastou-se, mas não parou. As pessoas mudaram, mas as proximidades mantêm-se. Os ritmos são outros, mas alguns hábitos são os mesmos. Estamos em maio, as férias de Verão estão cada vez mais perto, e vou voltar a mergulhar no mar! Ganhara uma das vagas possíveis, no sorteio anual que permite evitar as concentrações de outrora.Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-30704919651553347492020-04-18T16:15:00.002+01:002020-04-25T16:55:53.499+01:00Segundo andamento, Rubato: O mundo dividira-se<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRlu1n_Zk4CZvuXuZC4JX9qQMRS1JPAiPoMRSRgGDKYFy6kIC6Vc4iMHHJDbR2Tsrph84bAacRc_3eydWPZfCwqdiYpU8DKg3bP7JsH498-0mGsZrcfOioTWCnrgTU4dWKCibfn1rBiUo/s1600/Farpas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="959" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRlu1n_Zk4CZvuXuZC4JX9qQMRS1JPAiPoMRSRgGDKYFy6kIC6Vc4iMHHJDbR2Tsrph84bAacRc_3eydWPZfCwqdiYpU8DKg3bP7JsH498-0mGsZrcfOioTWCnrgTU4dWKCibfn1rBiUo/s200/Farpas.jpg" width="200" /></a></div>
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Enquanto <a href="http://notasdasuperficie.blogspot.com/2020/04/primeiro-andamento-rallentando-o-mundo.html">encolhia</a>, o mundo dividira-se. Mesmo depois de parar, continuou a estilhaçar, formando fragmentos cada vez mais pequenos, com muitas faces, cada uma do tamanho de uma vida. Vidas diferentes, vislumbrando-se umas às outras, entre sombras e efeitos de luz, que atenuam o sentir, que não permitem entender na plenitude a vida que se encontra do outro lado.<br />
<br />
Vidas. Divididas. Entre as que agora começam e as que já terminaram. As que adoecem e as que são dedicadas a tentar salvar. As que se encontram suspensas e as que continuam, quase inalteradas. As confinadas em casa por dever, as confinadas no local de trabalho para segurança dos outros, as que são feitas de idas e vindas, porque são precisas. As que ficaram subitamente isoladas, não havendo redes que cheguem, e as que ficaram de repente demasiado cheias, por não haver para onde ir. As que têm condições para ficar em casa, aquelas para quem a casa é um sítio difícil e as que nem sequer têm onde ficar. As que são feitas da imprescindível ação, e as que são feitas adiáveis, feitas de passividade necessária, ainda que antes fossem importantes. As que decidem sobre os outros e as que seguem as decisões. As que vêm o trabalho redobrar, apesar dos riscos, e as que ficaram sem trabalho, ou que não sabem por quanto tempo terão trabalho. As que vêm os rendimentos mantidos e as que vêm os rendimentos desaparecidos. As que já precisavam de auxílio, as que apesar de tudo ainda encontram apoio e as que prosseguem apesar de ele faltar. Novas divisões, que se sobrepõem às que já existiam no mundo que havia antes,<br />
<br />
Sou um privilegiado, no meio de todos estes fragmentos, vislumbrando outras vidas, sem as entender completamente, porque outras vidas são vidas de outros, e as palavras não abarcam tudo o que se sente. É difícil perceber para onde foi este mês que já passou, e talvez ainda mais um que irá passar. Tempo roubado, vivido a diferentes velocidades. Mais difícil, ainda, é antever o efeito que este estilhaçar terá para o futuro, próximo e no receio de uma recaída, e mais longínquo, no que significamos todos nós, os grupos, as fronteiras, o modo de vida.Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-71318889328469036712020-04-14T19:10:00.003+01:002020-04-25T16:56:04.122+01:00Primeiro andamento, Rallentando: O mundo encolhera<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisAt83fc_lPtKv5HJLnPCywlJrvB0k40d9b9NDSQo4CdiFuPYxOaA2_dT7JFaqjhQaaQGamqEm3cUR8Gllo5HNaXotGMeoAOVEFMjOPLNKSyiipw4WIOyMtQK_9nb0zPTqhiHx9vnFZEs/s1600/IMG_6248.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisAt83fc_lPtKv5HJLnPCywlJrvB0k40d9b9NDSQo4CdiFuPYxOaA2_dT7JFaqjhQaaQGamqEm3cUR8Gllo5HNaXotGMeoAOVEFMjOPLNKSyiipw4WIOyMtQK_9nb0zPTqhiHx9vnFZEs/s200/IMG_6248.JPG" width="200" /></a></div>
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O mundo encolhera. Não de repente, não de uma só vez, não com estrondo. Começou bem longe, a Oriente, extremo na geografia e no significado. Estremecendo e parando, contraindo-se, aproximando-se. Sabíamos que também aqui encolheria, mas isso não bastou para que estivéssemos preparados.<br />
<br />
Os mundos e as coisas, de vez em quando, encolhem. Já vira isso há anos, na Instituição. Também ela se tinha contraído, de tal forma que as pessoas pareciam ser menos, os grandes planos reduzidos a tarefas desligadas, os assuntos mais rarefeitos, as rotinas esbatendo o tempo, os pontos de contacto corroídos. Encolhera a tal ponto que parecia ser mais pequena do que eu, e eu, sendo maior do que ela, já não cabia do lado de dentro, mas apenas do lado de fora.<br />
<br />
Mas agora era diferente. Não me parecia estar do lado de fora do mundo, portanto devo ter encolhido com ele.<br />
<br />
Os países deixaram de ser um contínuo, em que as fronteiras nem sempre tinham significado, para voltarem a ser fragmentos. As viagens cessaram, e ir lá fora deixou de ser possível, sendo também impossível ir para fora cá dentro. O mundo tornou-se país, o país tornou-se cidade, a cidade tornou-se bairro, o bairro tornou-se casa. A casa, para além de casa, tornou-se local de trabalho, restaurante, mercearia, cinema, palco, livraria, pousada, ginásio e salão de jogos. O terraço tornou-se observatório, serra e praia. A televisão e o computador assumiram-se como as janelas para o mundo, permitindo alternar entre realidade e ficção com um simples carregar de botão, ou um rápido deslizar sobre as teclas. Janelas seletivas, de ampliar, diminuir, distorcer. Ficção imitando a realidade. Realidade imitando a ficção. Mundo plano, sem tacto, sem cheiro, selecionado por outros, contado por outros.<br />
<br />
Dizem que é uma guerra, mas não me parece, eu que não estive em nenhuma. De guerras, passadas e presentes, saberão outros. Daquelas guerras, que deixaram de ser notícia no mundo da televisão, e onde se morre porque alguém mata, ou porque tudo falta. Aqui, a dita linha da frente pode estar em cada um de nós. Aqui, de onde escrevo, continua a haver luz, água e gás, telefones e internet. Não há, por agora, racionamentos. Não há mobilizações gerais, como naquela guerra que há pouco fez cem anos, dita a Grande, e depois a Primeira, mas paralisações, suspensões, ou reduções. Aqui, o inimigo não saberá sequer que é inimigo.Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-18852464266453787962020-03-14T10:30:00.001+00:002020-03-14T10:32:04.715+00:00Doze Anos, Doze Dias - 2019<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEie_1mEJxyypb9O3w0r1kd5PIIqkYAyTMnwwCZ4KVEnljb5FBIJks1SE-Qb5RSe9TF13kNDKwBmfF5CsN9O3Grv9k9xImo7mF4MQe6Lo21znq90NujQgmOrpeKHkMHprIuA1RE0IBkNYvI/s1600/thor-alvis-Gc-sbPFGmYc-unsplash.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEie_1mEJxyypb9O3w0r1kd5PIIqkYAyTMnwwCZ4KVEnljb5FBIJks1SE-Qb5RSe9TF13kNDKwBmfF5CsN9O3Grv9k9xImo7mF4MQe6Lo21znq90NujQgmOrpeKHkMHprIuA1RE0IBkNYvI/s200/thor-alvis-Gc-sbPFGmYc-unsplash.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;"><span style="color: #111111; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "san francisco" , "helvetica neue" , "helvetica" , "ubuntu" , "roboto" , "noto" , "segoe ui" , "arial" , sans-serif; white-space: nowrap;">Photo by </span><a href="https://unsplash.com/@terminath0r?utm_source=unsplash&utm_medium=referral&utm_content=creditCopyText" style="box-sizing: border-box; color: #767676; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "San Francisco", "Helvetica Neue", Helvetica, Ubuntu, Roboto, Noto, "Segoe UI", Arial, sans-serif; text-align: start; text-decoration-skip-ink: auto; transition: color 0.1s ease-in-out 0s, opacity 0.1s ease-in-out 0s; white-space: nowrap;">Thor Alvis</a><span style="color: #111111; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "san francisco" , "helvetica neue" , "helvetica" , "ubuntu" , "roboto" , "noto" , "segoe ui" , "arial" , sans-serif; white-space: nowrap;"> on </span><a href="https://unsplash.com/s/photos/number?utm_source=unsplash&utm_medium=referral&utm_content=creditCopyText" style="box-sizing: border-box; color: #767676; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "San Francisco", "Helvetica Neue", Helvetica, Ubuntu, Roboto, Noto, "Segoe UI", Arial, sans-serif; text-align: start; text-decoration-skip-ink: auto; transition: color 0.1s ease-in-out 0s, opacity 0.1s ease-in-out 0s; white-space: nowrap;">Unsplash</a></span></td></tr>
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Dia 12.<br />
Um dos propósitos das Notas: não ficar pelo ruído dos cabeçalhos, pelos lugares-comuns e pelos soundbytes ou soundbits, mergulhar para lá da superfície e da espuma, escalpelizar, analisar, ir ao pormenor, refletir, testar coerências, identificar incoerências, criticar. Porque ter opinião, fundamentada, dá trabalho. Sobre programas de partidos e de governos, propostas legislativas, documentos em consulta pública, dados e relatórios, artigos de opinião.<br />
<br />
E no final, partilhar, para quem quiser ler. Em alguns casos, procurando mesmo chegar a mais pessoas, através de textos dirigidos a jornais como o <a href="http://notasdasuperficie.blogspot.com/search/label/Jornal%20P%C3%BAblico">Público</a>. Foi o caso deste, publicado nas Cartas ao Diretor, em versão adaptada e super condensada.<br />
<br />
<br />
<b>CDS não faz os TPC e chumba no acesso</b><br />
1 de agosto de 2019<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhsRM51j2tI9skzAO861hOZDJwF0GhOnR5YrYUoiV0jXYVHUhu-U9Y7mfplFpwbBnI7nQGXCwReo-wwc2ax3reM6zimuUMkEx_N8TkKnhllb6a6OpgHMLDJhuTSyv8Wzo6imtfNKJ9d1A/s1600/1024px-Correct.svg.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="1024" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhsRM51j2tI9skzAO861hOZDJwF0GhOnR5YrYUoiV0jXYVHUhu-U9Y7mfplFpwbBnI7nQGXCwReo-wwc2ax3reM6zimuUMkEx_N8TkKnhllb6a6OpgHMLDJhuTSyv8Wzo6imtfNKJ9d1A/s200/1024px-Correct.svg.png" width="200" /></a></div>
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A caminho das eleições.<br />
Um percurso longo, lento e ruidoso.<br />
Poucas vezes profundo, aprofundado ou esclarecedor.<br />
Programas que não são bem para serem lidos, discutidos ou executados.<br />
Programas que ficarão reduzidos a alguns chavões.<br />
Chavões que se destinam à repetição.<br />
Sons que mordem.<br />
<br />
Ainda assim, vale a pena olhar para aquilo que melhor se conhece. E confirmar, corrigir, contestar ou desmentir. Para que não se fique pela superfície. Porque não vale tudo.<br />
<br />
Olhemos para uma proposta que se intitula <a href="https://www.cds.pt/assets/proposta_cds_n.pdf"><b>CDS quer dar oportunidades a quem ficou de fora do Numerus Clausus</b></a>. Um documento curto, cheio de incorreções, omissões e afirmações que facilmente induzem leituras distorcidas.<br />
<br />
Leiam comigo, ponto por ponto (a itálico o texto da proposta do CDS).<br />
<br />
<b><i>O que acontece a um aluno que não tenha vaga no ensino superior público?</i></b><br />
<i>Tem três opções: uma universidade privada, uma universidade no estrangeiro ou desiste de entrar numa universidade.</i><br />
<br />
Suponhamos que, para o CDS e neste contexto, “universidade” abrange todas as instituições do ensino superior universitário e politécnico, evitando aqui uma discussão sobre a natureza do sistema de ensino superior.<br />
<br />
Suponhamos ainda que é claro que se trata aqui, só e apenas, das vagas gerais do Concurso Nacional de Acesso.<br />
<br />
Encontro pelo menos uma alternativa à desistência: prosseguir a formação através de outros cursos ou de disciplinas isoladas, voltando a tentar o ingresso no ano letivo subsequente.<br />
<b><i><br /></i></b>
<b><i>Mas essas vagas correspondem à capacidade máxima de cada universidade para receber alunos?</i></b><br />
<i>Não. Tanto assim é que, depois, as universidades públicas recebem alunos estrangeiros que pagam os seus estudos a preços de mercado.</i><br />
<br />
A primeira parte, "Não", está certa. As Universidades recebem alunos, em número muito significativo, por vias distintas do chamado Contingente Geral do Concurso Nacional (as “vagas” a que o CDS se refere).<br />
<br />
São contingentes especiais do Concurso Nacional destinados a candidatos: oriundos da RA dos Açores e da RA da Madeira; emigrantes portugueses e familiares que com eles residam; militares em regime de contrato; com Deficiência Física ou Sensorial.<br />
<br />
São concursos especiais para: maiores de 23 anos; titulares de diploma de especialização tecnológicas locais; titulares de diploma de técnico superior profissional; para titulares de outros cursos superiores.<br />
<br />
São regimes especiais abrangendo: missão diplomática portuguesa no estrangeiro; portugueses bolseiros no estrangeiro e funcionários públicos em missão oficial no estrangeiro; oficiais das forças armadas portuguesas; bolseiros nacionais dos países africanos de expressão portuguesa; missão diplomática acreditada em Portugal; praticantes desportivos de alto rendimento; naturais e filhos de naturais de Timor-Leste.<br />
<br />
E, sim, também um concurso especial de acesso para estudantes internacionais.<br />
<br />
A seguir já está só assim-assim. Não é "depois" que as universidades públicas recebem alunos estrangeiros. Na maior parte dos casos há duas ou três fase de concurso, ao longo do ano, para admissão de estudantes internacionais.<br />
<br />
Estranha-se aliás, face ao número de diferentes regimes, esta fixação no estrangeiro. A não ser que … sim … aí entra o argumento seguinte: “<i>que pagam os seus estudos a preço de mercado</i>”.<br />
<br />
Primeiro, também para estes há vagas, seriação e alunos que não entram. Não se trata de uma entrada ilimitada de estrangeiros que podem pagar.<br />
<br />
Segundo, as universidades recebem muito alunos estrangeiros da União Europeia, que são tratados como estudantes nacionais.<br />
<b><i><br /></i></b>
<b><i>Então a que é que correspondem essas vagas?</i></b><br />
<i>Essas vagas correspondem ao numerus clausus: o Estado define, anualmente, o número máximo de vagas que cada instituição pode abrir no concurso de acesso ao ensino superior, tendo em conta o montante de orçamento de que dispõe para o efeito. Determina também a propina máxima a ser cobrada por essas vagas.</i><br />
<br />
“Estado” é um bocadinho vago. Vamos ser mais precisos. O Governo emite, anualmente, um despacho orientador para a fixação das vagas das licenciaturas e mestrados integrados. Este despacho impõe limites globais por instituição e critérios aplicáveis a todos ou a alguns cursos.<br />
<br />
Há ainda que ter em consideração que a Agência para a Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) define valores máximos de vagas para cada curso, no âmbito da acreditação, tendo em conta, designadamente, as instalações e os docentes existentes, visando garantir a qualidade do ensino.<br />
<br />
A relação com o orçamento é abordada no ponto seguinte.<br />
<br />
Já a propina máxima é automaticamente calculada para cada ano, com base num valor pré-histórico e no Índice de Preços ao Consumidor, de acordo com uma Lei da Assembleia da República. Recentemente, e na prática de remeter para o Orçamento de Estado muita coisa que deveria ser tratada noutras sedes, este valor máximo tem sido alterado por este diploma, também ele competência da Assembleia da República.<br />
<br />
Compete às instituições de ensino superior fixar o valor da propina e nem todas adotam o valor máximo.<br />
<b><i><br /></i></b>
<b><i>Então as vagas estão relacionadas com a capacidade de o Estado pagar?</i></b><br />
<i>Precisamente. O Estado só manda abrir as vagas que está em condições de financiar. É essencialmente por isso que há vagas limitadas. Se fosse por questões de capacidade, as universidades não aceitariam depois os alunos estrangeiros de fora da UE.</i><br />
<br />
Err ... Errado. Se fixar a atenção no que o Estado "manda" abrir ou não, para que a premissa fosse verdade era preciso que o financiamento do ensino superior, o financiamento das instituições de ensino superior, estivesse indexado ao número de alunos. Até, em parte deveria ser assim, nos termos da lei da Assembleia da República que se encontra em vigor, mas que é desrespeitada pelos sucessivos governos, há pelo menos uma década, perante a complacência generalizada.<br />
<br />
Aliás, o sistema de <i>numerus clausus </i>foi criado para controlar o excesso de afluência a determinados cursos (medicina, por exemplo) e não por questões financeiras. Bem, pelo menos o CDS não foi pela lógica da "empregabilidade" e do ensino superior como mero instrumento ao serviço da economia.<br />
<br />
As questões de capacidade são, como referido, avaliadas pela A3ES.<br />
<i><b><br /></b></i>
<i><b>Se os alunos que ficaram classificados nos lugares
imediatamente a seguir às vagas quiserem entrar, pagando do seu dinheiro,
podem?</b></i><br />
<i>Não podem, porque o Estado não permite.</i><br />
<br />
Sim, o "Estado" entende que o critério de acesso é o mérito, traduzido numa nota de candidatura, e não o poder do bolso.<br />
<b><br /></b>
<b>Mas alunos estrangeiros podem?</b><br />
<i>Podem: alunos vindos de fora da UE podem, alunos que se candidataram ao nosso sistema de acesso é que não.</i><br />
<br />
Aqui já é mais difícil de qualificar. Não me parece incompetência. Nem má-fé. Algo bem pior.<br />
<br />
Vou repetir: os alunos vindos de fora da EU entram por um sistema, independente, mas análogo ao dos nacionais: um concurso, com vagas, em que só entram os melhores classificados até ao limite das vagas. O dinheiro, só por si, não permite entrar.<br />
<b><i><br /></i></b>
<b><i>Qual é o sentido desta regra?</i></b><br />
<i>Nenhum. Não faz qualquer sentido que uma família portuguesa, cujo filho não se classificou para a entrada no curso ou na escola da sua preferência, dado o número clausus, não possa escolher aceder a essa vaga, pagando o seu custo real, tal como pode escolher uma universidade privada ou uma universidade estrangeira.</i><br />
<br />
É difícil ser mais eloquente. A questão nem sequer é posta para qualquer um poder escolher o curso que quer, onde quer. É apenas o poder pagar. Quanto à gestão de recursos ou outras missões do Estado remete-se para uma qualquer reforma ou buraco.<br />
<br />
Para quem quiser dissertar sobre outras questões: "família", "família portuguesa", "filho".<br />
<b><br /></b>
<b>Como funciona o sistema proposto pelo CDS?</b><br />
<i>Se uma instituição de ensino superior público tiver capacidade para receber mais alunos para além do número clausus, essas vagas devem ser disponibilizadas também a alunos portugueses, seguindo as regras do Concurso Nacional de Acesso (CNA). Ou seja, os alunos que ficaram de fora podem, se quiserem entrar pela sua ordem de classificação, pagando os preços de mercado.</i><br />
<br />
E aqui, afinal, pode ficar quase tudo na mesma!<br />
<br />
Porque é "se" houver capacidade para além do <i>numerus clausus. </i>Resta saber se os restantes regimes que referi são também afetados ou se a lógica, não afirmada mas implícita é, primeiro as vagas são ocupadas por alunos portugueses (não sei aqui se está a falar apenas de alunos com cidadania portuguesa) e, as sobrantes, por estrangeiros exteriores à União Europeia.<br />
<br />
Porque afinal se mantém a seriação do CNA.<br />
<br />
E portanto não é qualquer um poder escolher!<br />
<b><i><br /></i></b>
<b><i>Mas estes alunos terão de pagar?</i></b><br />
<i>Estes são os que alunos ficaram fora do numerus clausus. E, portanto, têm apenas três hipóteses atualmente ou pagam a uma universidade privada, ou vão para o estrangeiro, ou esperam mais um ano. O que estamos a propor é a dar-lhes outra opção: a de entrar numa universidade pública.</i><br />
<br />
Ora se à entrada a terceira opção era desistir do ensino superior (merece mais 5 pontos pelo efeito dramático), agora, quase à saída, já aparece a via de esperar mais um ano.<br />
<br />
Não esquecer que esta é uma opção condicionada!<br />
<b><i><br /></i></b>
<b><i>Haverá ajudas para esse efeito?</i></b><br />
<i>Propomos um sistema de ação social reforçado. Propomos também que seja reforçado o sistema de empréstimos de garantia mútua para que as famílias possam ter forma de financiar a sua livre escolha.</i><br />
<br />
Isto parece mais um Nim, menos taxativo que os pontos anteriores.<br />
<br />
Ou é acessível para quem tem bolsa, ou para quem tem capacidade de contrair um novo empréstimo ou pago através da ação social, mas aqui a um valor substancialmente superior do que o dos restantes alunos! Simples, não?<br />
<br />
Para além de que alunos que, no final, entraram através do mesmo concurso, pagarão propinas significativamente diferentes!<br />
<b><i><br /></i></b>
<b><i>Isto não prejudica as Universidades privadas?</i></b><br />
<i>Isto aumenta a concorrência entre todas as universidades, e isso é bom para todos. Quanto maior a concorrência, melhor será o ensino.</i><br />
<br />
Porque aqui poderíamos ter outra conversa longa, sobre o mercado do ensino ou o ensino no mercado, e sobre como o ensino superior está longe de constituir um mercado funcional nos seus mais variados aspetos, as falhas de mercado e etecetera e tal.<br />
<b><br /></b>
<b>Qual a vantagem para a universidade pública?</b><br />
<i>As instituições, seguindo os critérios da CNA, poderão ter mais alunos portugueses ou de outras origens. Mitigar a limitação atual permitir-lhes-á tomar decisões relevantes e autónomas numa estratégia de longo prazo e explorar uma linha de receitas próprias para potenciar o seu financiamento?</i><br />
<br />
Bom, estamos quase na quadratura do círculo.<br />
<br />
Como se dizia na proposta, mais acima “<i>essas vagas devem ser disponibilizadas <u>também </u>a alunos portugueses</i>”.<br />
<br />
A não ser que haja um excesso de capacidade gritante (e pode haver em algumas áreas e em algumas instituições, mas não será nem nas instituições mais procuradas nem nas áreas mais pretendidas), não haverá grande acréscimo de alunos nas instituições, antes uma eventual substituição de alunos estrangeiros por nacionais, resultando, portanto, num saldo nulo.<br />
<b><i><br /></i></b>
<b><i>Estamos a prejudicar alunos?</i></b><br />
<i>Não, ninguém ficar prejudicado. Quem antes entrava,
continuava a entrar. Simplesmente estamos a aumentar a escolha dos alunos que ficaram
“de fora”, e que poderão optar, seguindo os critérios do CNA, por uma vaga paga
no ensino superior público, por uma vaga paga no ensino superior privado ou por
uma vaga numa universidade fora de Portugal.</i><br />
<br />
Aqui fica uma alternativa, menos retorcida, para conduzir ao mesmo efeito: aumenta-se o <i>numero clausus</i> (que o CDS não propôs extinguir) com base na eventual capacidade excedentária e na redução das vagas para estudantes estrangeiros externos à União Europeia e, em simultâneo, implementa-se um verdadeiro sistema de financiamento do Ensino Superior.<br />
<br />
É capaz de ser suficiente para um programa a quatro anos.<br />
<br />
Simples, não?<br />
<br />
<i>Versão curta publicada no jornal Público, Cartas ao Diretor, de 3 de agosto.</i><br />
<a href="https://www.publico.pt/2019/08/03/opiniao/opiniao/cartas-director-1882181">https://www.publico.pt/2019/08/03/opiniao/opiniao/cartas-director-1882181</a>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYjtkkIAHU31OHsZN8Ngll7cx_tsBvRLhxnMSLfzbaxaialNiP9AYWsi85zZTsCz_wvBazccUcDaWBw60guzIDXNWpU_FAOL5j25jWoLWZfKDP2ZDzAo21PXCxbJnM4b6zDMDEbvfvJ7o/s1600/jon-tyson-TB2_M4B4o2I-unsplash.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYjtkkIAHU31OHsZN8Ngll7cx_tsBvRLhxnMSLfzbaxaialNiP9AYWsi85zZTsCz_wvBazccUcDaWBw60guzIDXNWpU_FAOL5j25jWoLWZfKDP2ZDzAo21PXCxbJnM4b6zDMDEbvfvJ7o/s200/jon-tyson-TB2_M4B4o2I-unsplash.jpg" width="150" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;"><span style="color: #111111; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "san francisco" , "helvetica neue" , "helvetica" , "ubuntu" , "roboto" , "noto" , "segoe ui" , "arial" , sans-serif; white-space: nowrap;">Photo by </span><a href="https://unsplash.com/@jontyson?utm_source=unsplash&utm_medium=referral&utm_content=creditCopyText" style="box-sizing: border-box; color: #767676; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "San Francisco", "Helvetica Neue", Helvetica, Ubuntu, Roboto, Noto, "Segoe UI", Arial, sans-serif; text-align: start; text-decoration-skip-ink: auto; transition: color 0.1s ease-in-out 0s, opacity 0.1s ease-in-out 0s; white-space: nowrap;">Jon Tyson</a><span style="color: #111111; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "san francisco" , "helvetica neue" , "helvetica" , "ubuntu" , "roboto" , "noto" , "segoe ui" , "arial" , sans-serif; white-space: nowrap;"> on </span><a href="https://unsplash.com/s/photos/number?utm_source=unsplash&utm_medium=referral&utm_content=creditCopyText" style="box-sizing: border-box; color: #767676; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "San Francisco", "Helvetica Neue", Helvetica, Ubuntu, Roboto, Noto, "Segoe UI", Arial, sans-serif; text-align: start; text-decoration-skip-ink: auto; transition: color 0.1s ease-in-out 0s, opacity 0.1s ease-in-out 0s; white-space: nowrap;">Unsplash</a></span></td></tr>
</tbody></table>
<br />
E assim terminam estes Doze Anos, Doze Dias.<br />
Uma amostra das Notas pensadas e escritas.<br />
Outras ficaram apenas em pensamento.<br />
Inacabadas em conteúdo e forma.<br />
<br />
Estamos em 2020.<br />
As Notas ainda andam por aqui.<br />
Nesta espécie de monólogo público.<br />
Mesmo a um ritmo de menor intensidade.<br />
Ao sabor dos tempos, da inspiração e da vontade.<br />
<br />
<br />Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3461821682792847977.post-36292702644929256962020-03-13T18:06:00.000+00:002020-03-13T18:06:02.044+00:00Doze Anos, Doze Dias - 2018<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTDKz-hLwmkHFkdsPnieIhjLa-U03h68YMdzNIMRv6IA0qUHw1HkC2mX-3j50R1yzZIRj-9ZNlirDXCKCO7C8OGa7JFlqJTPhUWmCBHVz2PAb1GFs5J8uqqUbS5akfL7QQLqksKI7QFD0/s1600/bekky-bekks-MAC5PqkYsF4-unsplash.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTDKz-hLwmkHFkdsPnieIhjLa-U03h68YMdzNIMRv6IA0qUHw1HkC2mX-3j50R1yzZIRj-9ZNlirDXCKCO7C8OGa7JFlqJTPhUWmCBHVz2PAb1GFs5J8uqqUbS5akfL7QQLqksKI7QFD0/s200/bekky-bekks-MAC5PqkYsF4-unsplash.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;"><span style="color: #111111; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "san francisco" , "helvetica neue" , "helvetica" , "ubuntu" , "roboto" , "noto" , "segoe ui" , "arial" , sans-serif; white-space: nowrap;">Photo by </span><a href="https://unsplash.com/@bekky_bekks?utm_source=unsplash&utm_medium=referral&utm_content=creditCopyText" style="box-sizing: border-box; color: #767676; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "San Francisco", "Helvetica Neue", Helvetica, Ubuntu, Roboto, Noto, "Segoe UI", Arial, sans-serif; text-align: start; text-decoration-skip-ink: auto; transition: color 0.1s ease-in-out 0s, opacity 0.1s ease-in-out 0s; white-space: nowrap;">Bekky Bekks</a><span style="color: #111111; font-family: , "blinkmacsystemfont" , "san francisco" , "helvetica neue" , "helvetica" , "ubuntu" , "roboto" , "noto" , "segoe ui" , "arial" , sans-serif; white-space: nowrap;"> on </span><a href="https://unsplash.com/s/photos/number?utm_source=unsplash&utm_medium=referral&utm_content=creditCopyText" style="box-sizing: border-box; color: #767676; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "San Francisco", "Helvetica Neue", Helvetica, Ubuntu, Roboto, Noto, "Segoe UI", Arial, sans-serif; text-align: start; text-decoration-skip-ink: auto; transition: color 0.1s ease-in-out 0s, opacity 0.1s ease-in-out 0s; white-space: nowrap;">Unsplash</a></span></td></tr>
</tbody></table>
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Dia 11.<br />
Um ensaio sobre informação, comunicação, literacia, hierarquias, modas, cabeçalhos.<br />
A propósito da procura de cursos de ensino superior.<br />
Num estilo diferente, ficcionado.<br />
<br />
<br />
<b>"Crime!" - disse ele.</b><br />
8 de março de 2018<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmTrGxBSY54Np11_95e_s7gEcgV9Xg-GledE_vDD9e9Rb1fKQn7dW5KLBbZFuyix6bcEjQ5jg7NTG019bvcJRs1_XCU2sB7mArZyykxXUGmfDv9en9rlGqAg8nU5biDeoRI4rtzrcGPfk/s1600/crimescene.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="300" height="112" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmTrGxBSY54Np11_95e_s7gEcgV9Xg-GledE_vDD9e9Rb1fKQn7dW5KLBbZFuyix6bcEjQ5jg7NTG019bvcJRs1_XCU2sB7mArZyykxXUGmfDv9en9rlGqAg8nU5biDeoRI4rtzrcGPfk/s200/crimescene.jpg" width="200" /></a></div>
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Esta é uma história em atmosfera de policial negro, série B. Daquelas com um detetive, de meia-idade indefinida, barba por fazer, rosto sério, voz cava. Um escritório pequeno, em permanente penumbra, para onde a luz se esgueira, com esforço, através das estreitas frinchas da persiana. Luz cinza-amarelada do dia, isto quando não chove. Luz cinza-amarelada, mais esbatida, escorrendo do poste de iluminação, ligeiramente debruçado sobre a calçada estreita, vendo quem passa. O ar espesso, fumo em movimento, empurrado por uma ventoinha a um canto, sobre o soalho gasto. Um bengaleiro com uma gabardine escura, encimada por um chapéu de abas. Uma secretária coberta de papéis, um par de cadeiras, uma mesa redonda, um cesto de papéis, estantes com capas de cor indistinta. Uma garrafa e um copo, sempre mais meio vazio do que meio cheio.<br />
<b style="font-size: small;">Aviso a passar em rodapé, em letras apropriadamente mais pequenas</b><b style="font-size: small;">: qualquer parecença com a realidade pode não ser apenas mera coincidência.</b><br />
<br />
<i>Era um fim de tarde. Mais um, pensei. Estava escuro. Chovia lá fora. O candeeiro desenhava um círculo de luz sobre a secretária. Um círculo de luz sobre as letras do jornal. Nada de especial. As notícias de sempre. A cabeça doía, a reclamar descanso. Meio copo e está na hora de fechar. E de trocar o escritório vazio pela casa, também ela vazia. De longe, de mais longe do que o habitual, chega o ruído da porta da rua, batendo com força. Ouço a escada de madeira a ranger, sob o peso de passos que se aproximam, rapidamente. A sombra assoma, por detrás do vidro fosco. A porta abre-se de supetão. O silêncio é bruscamente interrompido. Logo agora que ia sair.</i><br />
<i><br /></i>
- Chefe! Chefe! Encontraram-na!<br />
- Hã...?<br />
- Encontraram-na!<br />
- Hmmm ...? O quê ...? Quem ...?<br />
<br />
<i>Resmungo entre dentes. A dor de cabeça parece tornar-se mais intensa. O nevoeiro que não se dissipa. Logo agora que ia sair, penso novamente.</i><br />
<br />
- Encontraram-na: a mais procurada no País, a mais difícil de alcançar!<br />
- Quem ...?<br />
- A licenciatura mais procurada do País!!<br />
- Sim ...? E então ...?<br />
<br />
<i>Nada que não pudesse, certamente, esperar por amanhã. Nada que não pudesse esperar pela luz de um novo dia. Mesmo de um novo dia de chuva. Nada que me possa causar surpresa, penso. A mente continua a vaguear, perdida. É só esperar mais uns segundos. Depois a notícia. E depois posso ir para casa. </i><br />
<br />
- Encontraram-na: é a Criminologia!<br />
<i><br /></i>
<i>As palavras atravessaram o ar espesso, como se este tivesse, subitamente, parado. Entraram na minha cabeça. </i><i>Começaram a formar um turbilhão. </i><i>Agitaram-me, de dentro para fora. Pressenti o que vinha a seguir. Conheço demasiado bem os sintomas. Voltam sempre que algo está desalinhado na ordem das coisas. S</i><i>empre que surge um novo caso.</i><br />
<i><br /></i>
- Tens a certeza? A Criminologia ... Por essa não esperava.<br />
<br />
<i>Digo, tentando ainda fazer parar o turbilhão, que começara a rodar. Em vão.</i><br />
<i><br /></i>
- Está em todos os jornais!<br />
- Em todos?<br />
- Bem, pelo menos em alguns ... diários, aqueles de economia, e até ... até ... em semanários!<br />
- Hmmmm ....<br />
- Parece sólido, Chefe. Há testemunhos. Todos no mesmo sentido.<br />
- ...<br />
<br />
<i>O turbilhão roda cada vez mais depressa. Não era nenhum dos suspeitos habituais que me vinham à cabeça: medicina, engenharia especial ou espacial, biotecs ou techies, direitos ou tortos, gestão. Estranho. Algo não fazia sentido.</i><br />
<i><br /></i>
- Está muito calado, Chefe. Acha que pode não ser ela?<br />
- Não sei ... ainda.<br />
- Mas fazemos alguma coisa?<br />
- Recolhe os jornais. Todos. E deixa-os na minha secretária. Para amanhã. Preciso pensar.<br />
- Ok, Chefe. Até amanhã.<br />
<i><br /></i>
<i>Visto a gabardina. Coloco o chapéu, enquanto desço as escadas de madeira, em direção à rua. Entro na chuva fria. Criminologia ... sim ... uma licenciatura jovem, sexy, com um certo ar, com uma certa pose, assim de estrela de cinema, ou de televisão por cabo. Não tenho dúvida de que sabe suscitar o interesse. </i><i>Ainda assim ... criminologia, a mais procurada, não me parece. Suspiro. Amanhã veremos. </i><br />
<i>...<br />Foi uma noite difícil, como sempre quando me embrenho num novo caso. O turbilhão que gira. E voltou o pesadelo. Quase sempre o mesmo, com pequenas variações. Casos abertos. Ou melhor, "o" caso nunca fechado. Quando me defrontei com um bando de equações, que se multiplicavam, membros por todos os lados. Um sistema de resolução impossível. A angústia de não encontrar solução. Sucumbindo.</i><br />
<i>...</i><br />
<i>Entro no escritório. Sirvo-me de café, sem reparar se é de ontem ou do dia. Em cima da secretária os jornais, como combinado. Já marcados. </i><i>Círculos vermelhos à volta dos indícios. "A licenciatura de Criminologia e Justiça Criminal da Universidade do Minho foi a de mais difícil entrada no ano letivo 2017/2018 no ensino superior público português", "o mais procurado em todo o país", "o que mais alunos deixou à porta", "a de mais difícil acesso". Todos apontam no mesmo sentido. Todos referem uma mesma testemunha: a Satisfação. Satisfação da Procura, de seu nome completo. </i><i>Teremos de a ouvir, sem dúvida. </i><i>Um Indicador ...</i><br />
<i><br /></i>
- Bom dia, Chefe. Deixei os jornais em cima da sua secretária.<br />
- ... dia ... sim ... já vi ...<br />
- E então? Que lhe parece? Temos caso?<br />
- Vamos ter de os ouvir.<br />
- A quem?<br />
- Números e Indicadores. Números e Indicadores. Quem mais poderia ser? Desde logo a Satisfação.<br />
- Essa parece ser a fonte de todos os jornalistas.<br />
- Pois ... por agora é a ligação mais óbvia à Criminologia. Mas quero ouvir os outros. Não podemos deixar pontas soltas.<br />
- Vou procurá-los?<br />
- Sim. Sabes como é. Conheces a rotina. Nestas ocasiões costumam andar por aquele bairro ... a DGES. Andam por lá, tenho a certeza. Escondidos nos Estudos, nos Relatórios ou nas Bases. Mudando de sítio. Ou de aspeto. Ou de nome. Tens de ter cuidado. Às vezes andam em grupo. Mas sempre os encontrámos, no passado. E não costumam ser difíceis de convencer a falar. De certa forma gosta de atenção.<br />
- Certo, Chefe! Voltarei o mais depressa possível!<br />
<br />
<i>Números e indicadores. Outra vez. </i><i>Difíceis de ler. Problemáticos. </i><i>Perigosos mesmo. Mas no fim ... são apenas mais uns. Número e Indicadores. Não me posso ligar a eles. </i><i>E esta chuva, sempre. Entranhando-se. Tornando o ar mais pesado. Bafiento. Número e Indicadores. E se também eu não for mais do que isso? Números e Indicadores. </i><i>Pareço o Blade Runner, pensei, abanando a cabeça para afastar estes pensamentos. </i><br />
<i><br /></i>
<i>Volto ao café, ainda mais frio se tal for possível. Volto às notícias dos jornais, em busca de outros indícios. Há mais, de facto. Pequenas subtilezas perdidas, longe dos cabeçalhos, que gritam "Criminologia". Apontando noutras direções. "estes cursos [direito] são dos que mais procura reúnem", os dois cursos que exigiram as médias de entrada mais alta - Engenharia aerosespacial e Engenharia Física e Tecnológica". Mas depois voltam à tónica. À Criminologia. E à Satisfação como prova provada.</i><br />
<br />
- Chefe, já estão aqui, todos os que encontrei.<br />
- Muito bem! Vamos a isto!<br />
<br />
<i>Números e indicadores. Mais diretos os primeiros. Mais propensos a incendiar discussões, os segundos. Personalidades mais complexas. Comecemos então pela Satisfação. Satisfação da Procura. Senhora do seu nariz. Provocadora de conversas alheias.</i><br />
<br />
- Portanto é a Satisfação da Procura?<br />
- Sim, sou.<br />
- Um Indicador ...<br />
- Que mal tem ser um Indicador? É proibido, Sr. Detetive? Faz-me suspeita? A mim?<br />
- Não, não é proibido. Mas se andar a enganar as pessoas ...<br />
- Euuuuu? A enganar ...? Vê-se que não me conhece! Sou séria!<br />
- Bem, vamos por partes. O que faz?<br />
- Olhe, é assim. Conhece o Candidatos, não conhece? Não precisa responder. É uma pergunta ... como se diz ... teórica.<br />
- Retórica. Pergunta retórica.<br />
- Ou isso. Não importa. Onde é que eu ia? Ah, pois, o Candidatos. Sempre a contar, a contar, a contar. A arrumar tudo, muito direitinho, em tabelas. Parece uma vida aborrecida, pouco interessante, pouco útil ... Vida dos Números, está a ver?<br />
- E ...?<br />
- E ... e ...., pronto, gosto de o juntar com as Vagas. É muito mais divertido!<br />
- Não estou a perceber.<br />
- Então Sr. Detetive? Olhe, é assim. Vagas sobre Candidatos. Candidatos sobre Vagas. É como quiserem. Não acha divertido? Veja. Temos 20 Vagas. Faça de conta que há 100 candidatos. Pronto, só satisfaz 1 em cada 5, poucochinho não acha, só 0,2. Os outros 4 não ficam nada satisfeitos. Ficam Insatisfeitos.<br />
- Mas é satisfação ou insatisfação, aquilo com que estamos a lidar?<br />
- Se for comigo é Satisfação. Insatisfação é com a minha irmã gémea! Não a quer entrevistar também?<br />
- Não, não quero. Pelo menos por agora. Só me faltava ter que lidar com gémeas... Então e Criminologia?<br />
- Ah ... Criminologia ... Isso é mais com a minha irmã.<br />
- Como?<br />
- Tem pouca Satisfação da Procura. Portanto, tem muita Insatisfação, está a ver?!<br />
- Sim, sim, já percebi o esquema! Então mantém que Criminologia é o curso com maior procura?<br />
- Mantenho? Mas eu nunca disse isso, Detetive! Comigo é uma questão de Satisfação, compreende do que estou a falar, não é verdade?<br />
- Mas é o que vem nos jornais. Em vários. Todos a apontam como testemunha. A testemunha que mostra que Criminologia é a Licenciatura mais procurada!<br />
- Nunca disse tal coisa! Não me podem meter nesta embrulhada. Era o que faltava!<br />
- Mas então o que foi que disse, mesmo, sobre ela?<br />
- Oh! Coitadita. Só disse que a Satisfação era muito baixa. Muito baixa mesmo. A menor. E pronto, já contei tudo. Agora quero voltar para a DGES!<br />
<br />
<i>Registei: Criminologia. A menor Satisfação da Procura.</i><br />
<i><br /></i>
- Ainda não acabei. Mas isso não é o mesmo que dizer que é a mais procurada, jogando com as palavras?<br />
- Não, Sr. Detetive. Procura e Satisfação de Procura não é a mesma coisa.<br />
- Mas sabe que também a chamam Procura?<br />
- Não me importo que me chamem. Não é por mal. Mas o meu nome próprio é Satisfação. Faz toda a diferença, não acha? Agora quero mesmo ir embora.<br />
- Só mais uma pergunta.<br />
- Sim?<br />
- Quantos Candidatos ficam à porta?<br />
- Como quer que eu saiba? Eu divido. Vagas e Candidatos. Não subtraio. Candidatos e vagas. Isso não é comigo. Gosto de os juntar, às Vagas e Candidatos. Mas com a operação certa. Percebe?<br />
- Obrigado. Não se afaste muito. Posso precisar de voltar a interrogá-la.<br />
<div>
<br /></div>
<i>Sublinho: Criminologia Insatisfeita. Satisfação da Procura não confirma a informação. Vamos ao próximo. Candidatos. A Satisfação tinha razão. Um sujeito com ar algo aborrecido. Eficiente, mas frio. Um Número, sem dúvida. </i><br />
<br />
- Nome?<br />
- Candidatos.<br />
- O que faz?<br />
- Conto quem procura uma licenciatura.<br />
- Conta? Apenas?<br />
- Sim. Só conto. Sabe como é: tantos para aqui ... tantos para ali.<br />
- Conta ... Sempre da mesma maneira?<br />
- Pois, com certeza. Temos que ser rigorosos. Não podemos falhar. Agora o que me pedem mais são os candidatos em 1ª opção. Mas às vezes querem outras coisas. Contar por fases, primeira, segunda, terceira. Ou por região. Coisas assim.<br />
- O que me pode dizer sobre a Criminologia?<br />
- Criminologia? Essa é nova na zona. Só anda por aqui há um par de anos.<br />
- E então?<br />
- Então ... Já deu nas vistas, isso é certo, mas não é das que me dá mais trabalho. Anda agora nos 170 Candidatos. Acho que ainda é capaz de subir. Mas isto às vezes é por modas. Como aconteceu há anos com a Civil. Subiu e depois desceu, desceu, desceu. Agora está outra vez a subir.<br />
- Então a Criminologia não é a que a tem mais Candidatos.<br />
- Não, nem de longe. Há outros. Vários.<br />
- Ai, sim? Isso é muito vago. Preciso de nomes!! Nomes que possa verificar.<br />
- Calma ... calma ... não é difícil. Assim de repente, daqueles que estão aí para cima de quatrocentos, lembro-me de várias medicinas, direitos, gestão ...<br />
- Espera aí. Deixe-me apontar. E olhe que vou confirmar. Um a um. Por isso é bom que a informação esteja correta!<br />
- ... gestão, engenharia informática, enfermagem.<br />
- Portanto, Criminologia não é das mais procuradas?<br />
- Criminologia ?! Claro que não!! Sei muito bem o trabalho que tenho!<br />
- Diz-se por aí que é quem tem menos Satisfação da Procura.<br />
- Disso não sei nada. Eu sei quantos procuram. Conheço-os a todos. De onde vêm, com que média, para onde querem ir. O que preferem. Olhe, até dava para lhes fazer aparecer uns anúncios da internet, daqueles à medida! Vender-lhes umas coisitas. Para fazer uns dinheirinhos extra.<br />
- Muito engraçado, sem dúvida ... Olhe ... e quanto a candidatos à porta?<br />
- Nada sei sobre isso. Está a perguntar à pessoa errada. O que lhe digo é que em Direito, em Lisboa, são mais de 800. Acha que me ia esquecer de números assim?<br />
- Sabe quem me poderá dizer alguma coisa sobre isso, sobre os que ficam à porta?<br />
- Assim de repente, nem por isso ... a não ser que ...<br />
- A não ser que?<br />
- A não ser que fale com as Vagas. Mas essas são muito constantes. Parece que não envelhecem, quase iguais de ano para ano.<br />
<br />
<i>Vagas, registei, para usar em caso de necessidade. Candidatos. 170, muito menos que 800. </i><i>Sim, pensei, alguns daqueles nomes são mais credíveis para os mais procurados. Desenhei um ponto de interrogação. Dois pontos de interrogação. Candidatos igual a Procura? Procura diferente de Satisfação da Procura?</i><br />
<br />
- Então, Chefe? Vamos ao último?<br />
- Espera. Falta-nos perceber a relação disto tudo com as Vagas.<br />
- Quer que a vá procurar?<br />
- Não, não. Talvez não seja preciso. Dizem que variam pouco. Tens aquelas listas, com a identificação das Vagas?<br />
- Sim, estão aqui Chefe.<br />
- Hum.... Direito, Lisboa, 560 vagas. Candidatos eram, escrevi aqui, mais de 800. São quase 250 que ficam de fora.<br />
- São muitos, Chefe.<br />
- Pois, isso. Criminologia, 25 vagas. Candidatos eram 170. Menos de 150 de fora. E há mais assim. Realmente tem a ver com Candidatos e Vagas.<br />
- Não percebo.<br />
- Procura, Satisfação de Procura, Candidatos que ficam de fora.<br />
- Não estou a perceber ... E o que acontece à Criminologia?<br />
- Vamos falar com a Média.<br />
<br />
<i>As peças começam a encaixar. </i><i>Preciso de obter as informações que me faltam. Venha a Média. Terei de a pressionar. Sei que não gosta que façam juízos sobre ela. Irrita-se quando dizem que é injusta e que causa problemas a muita gente. É um ponto de partida. E depois de começar a falar ...</i><br />
<i><br /></i>
- Média. Ou devo dizer Dificuldade?<br />
- Dificuldade?<br />
- Sim, não é outro dos seus nomes? Dificuldade? Dificuldade de entrada? Média exigida? Barreira? Empecilho?<br />
- N...n....n...não ....<br />
- Não?! Não quer pensar melhor?! Não é quem decide quem entra e quem fica de fora?<br />
- Não, não, não ... não faço nada disso!<br />
- Assusta muitos Candidatos! Sabe que sim! Vamos lá ...<br />
- Isso não é justo! Eu só apareço depois, no fim, no fim de tudo, quando está tudo decidido, não tenho nada a ver com o que se passa. Não tenho nada a ver com as entradas.<br />
- Não acredito! Tenho aqui um elemento de prova que diz "Engenharia aeroespacial - nota do último colocado 188". 188! Parece-lhe bem?<br />
- Mas ... mas ...<br />
- Diga-me: como se faz isto?<br />
- Estou farta de ser olhada de lado! As pessoas não percebem! Eu não apareço no início. Não digo a ninguém: "para entrares aí tens de ter esta média". É ao contrário. Primeiro entram todos, ordenados, pelas médias, claro. E quando entra o último eu pergunto: qual é a tua? Ele diz e pronto. É assim que apareço. Sou a nota do último colocado. Não é ao contrário! Não é como se o Governo decidisse o meu valor! Nem podia. Já me informei dos meus direitos! Mas também não é como se as Universidades decidissem o meu valor. Até podiam, que eu sei. Mas não costumam. Nada que seja muito acima da positiva. E ...<br />
- Mais devagar, quer dizer ...<br />
- Perguntou e eu estou a responder! Estou a dizer a verdade! Não sou eu que tenho a culpa. As pessoas olham para o meu passado, para o que fiz no outro Verão, e dizem que quem tiver menos já não entra, que é preciso ter aquela nota, que só assim ...<br />
- Espere aí! Deixe-me tomar nota. Portanto, só aparece depois.<br />
<br />
<i>Média aparece no fim, escrevo. Declina qualquer responsabilidade.</i><br />
<br />
- Sim, já disse isso. Não me está a ouvir? É sempre a mesma coisa. E depois sou eu ..<br />
- Indicadores ... sempre mais difíceis ...<br />
- Também não é preciso insultar. Sim sou um Indicador! Mas comigo é a mesma como quando vai aos bancos. Aqueles anúncios em letras pequeninas. Rendimentos passados não garantem rendimentos futuros! Aqui é a mesma coisa. Médias passadas não impõem médias futuras. Tudo depende das notas dos Candidatos, dos exames, das escolhas, das Vagas, etc, etc. Só não depende de mim! Porque eu ...<br />
- Sim. Já sei: só aparece no fim.<br />
- Exatamente! Finalmente está a perceber!<br />
- Hmmmm. Então porque é que lhe chamam também Dificuldade?<br />
- Acham mais simples assim, imagino.<br />
- Então 188 a Aeroespacial não quer dizer que é difícil?<br />
- É 188 porque quem tinha essas medidas quis ir para lá.<br />
- Mas ter 188 é difícil.<br />
- Lá está outra vez com a mesma ideia fixa! É difícil, pois. Mas olhe, há gente que chegou lá. E até há quem chegue aos 200. E pronto, quando um grupo assim procura uma licenciatura ... em algum lado a Média vai ser alta. Já lhe falei das Vagas? Sabe, é que reparei que se as Vagas não forem muitas é mais fácil eu ser mais alta. Engraçado, não é?<br />
- Mas Criminologia, não é a mais difícil?<br />
- Criminologia? Essa miúda? Acho que ficou pelos 160. Mas não sei se é mais difícil ou mais fácil. Olhe, se os Aeroespaciais, todos, procurassem entrar para o Crime até acho que me davam um valor mais elevado. Era capaz de chegar aos 195, digo eu. Era bonito, não? E se o Crime fosse para o espaço podiam trocar as Médias, quer dizer, trocarem-me a mim. Ai! Já estou a ficar baralhada.<br />
- Então tudo depende da Procura, e da Satisfação da procura.<br />
- Isso já não sei. Não me dou bem com essa gente. Mas de mim não é. Eu só ...<br />
- Aparece no fim, já sei. Agradeço o seu depoimento. Foi muito útil.<br />
- Mas não acha que as Universidades podiam fixar um número mais engraçado, sei lá 12, ou 14, ou até um número ímpar?<br />
- Se quer que lhe diga, isso não me interessa. Não faz parte deste caso.<br />
<br />
<i>Tudo se tornava agora claro na minha mente.</i><br />
<br />
- Então, Chefe? Terminamos?<br />
- Sim. Criminologia não é a licenciatura mais procurada. Nem a que mais Candidatos deixa à porta. Nem a mais difícil de entrar, se prestarmos atenção ao que nos disse a Média.<br />
- Inocente? Em tudo?<br />
- Vê bem. Direito tem muito mais Candidatos. Direito e outros. E também esses deixam mais candidatos à porta, se olharmos bem para as Vagas. E não tem a Média mais elevada embora aí seja mais complicado porque ...<br />
- Porque a Média só aparece no fim, quando as escolhas já foram feitas e ... e .... também tem a ver com as Vagas.<br />
- Isso mesmo! Ainda vais chegar a Detetive.<br />
- Mas, então, como se explica que tenha sido a Criminologia a ser identificada?<br />
- Identidades trocadas. Satisfação da Procura e Procura. Apenas têm o apelido em comum. Mas são muito, mesmo muito diferentes. Se vires bem, Procura e Candidatos são um e o mesmo. Números, percebes. Absolutos, de leitura direta. Já a Satisfação é um Indicador, tens de ter muita atenção ao que diz e, mais ainda, ao que pode querer dizer.<br />
- Lá muito para dizer tinha ela ...<br />
- Pois ... assim que começa a falar ... gosta de ter audiência.<br />
- Ainda assim, custa-me a perceber como é que ninguém duvidou...<br />
- A Criminologia deu nas vistas, assim que chegou. Essa miúda tornou-se um alvo, atraente. Fica bem nas fotografias e nos cabeçalhos. Mas não foi ela, e isso é que importa.<br />
<br />
<i>Caso resolvido. Visto a gabardina e pego no chapéu.</i><br />
<br />
- Chefe?<br />
- Sim?<br />
- Acha que a Criminologia, alguma vez ... alguma vez será a mais procurada?<br />
- Talvez ... quem sabe?<br />
<br />
<i>Fecho a porta do escritório. Faço ranger os degraus da escada de madeira. Saio para a rua mal iluminada. O poste inclinado parece olhar para mim. A luz pálida estremece. N</i><i>úmeros e Indicadores. É preciso pensar como eles. Pelo menos, hoje, não irei sonhar com o sistema de equações impossível de resolver. </i>Miguel Conceiçãohttp://www.blogger.com/profile/09087359336885297688noreply@blogger.com0