Sobre empregabilidade, emprego e desemprego, no Click de hoje, Antena 1.
Empregabilidade é o termo do momento no ensino superior: está presente nas “Linhas de orientação estratégica”, do Governo, e no documento de trabalho lançado pelo Partido Socialista; em discursos vários, nas academias, nos jornais; parece ser um novo imperativo para toda e qualquer formação. De tanto uso, em tão pouco tempo, é um termo já gasto e que vai perdendo o seu significado real. Mais ainda porque, em simultâneo, os números que nos inundam são de emprego e de desemprego, o que são coisas distintas.
Ora empregabilidade é uma capacidade, não é um estado. É a capacidade para arranjar emprego, para se manter empregado, para evoluir e se adaptar, e não a situação de estar, num dado momento, com trabalho. Por isso, as respostas sobre a valia dos cursos superiores não se encontram nas estatísticas dos centros de emprego e formação profissional. Por isso, a solução cómoda de usar esses dados, os únicos recolhidos de forma consistente e em todo o território nacional, não serve. Por isso, são outras as perguntas que é preciso fazer, as que revelam alguns aspetos da relação entre a formação e o emprego, são outras.
Não basta pois saber se o diplomado transitou para o mercado de trabalho e se o conseguiu em um mês ou em um ano. É necessário saber, desde logo, se o trabalho em causa requer o nível de habilitação superior detido, licenciatura, mestrado ou doutoramento, ou se, ao invés, pode ser desempenhado por pessoas com menores habilitações. Este será o critério mínimo para aferir sobre a empregabilidade própria de um curso superior.
É preciso, depois, passar a um segundo nível de análise: o da correspondência entre a área de ocupação e a área de formação, tornando mais evidente se o conhecimento obtido é requerido para o emprego alcançado. Para o retrato ser mais fiel, deveremos aprofundar a análise: níveis remuneratórios alcançados; perspetivas de evolução; impacto de outras formações, académicas ou profissionais, obtidas ao longo da vida ativa; que empregadores existem; em que cidades, regiões ou países. Esta informação não existe ainda, de forma consistente e comparável, para todos os cursos nacionais. E levará, certamente, algum tempo até que tal aconteça.
Entretanto, o mundo muda, os empregos mudam, de natureza e até de lugar, e, assim, a capacidade para os obter, em 2020, não será igual à de 2015.
Por tudo isto, a escolha de um curso superior, bem como as estratégias das universidades e dos governos, não devem ficar reféns dos dados de desemprego, os quais têm um significado muito limitado, e são, apenas, um olhar sobre o que foi, não permitindo vislumbrar o que será.
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