domingo, 8 de fevereiro de 2015

Túnel

O som chega até mim.
Abafado. Vindo das profundezas.
Crescente. Insistente. Impossível de ignorar.
A mão move-se. Sozinha. Extingue o som.
Silêncio de novo.
Acordo.
Levanto-me na penumbra.
É quase dia. É quase dia à superfície.
Saio de casa.
Entro no túnel.
Elevador. Cabo de aço. Uma porta. Quatro paredes. Confinado.
Poço vertical.
Descendo.
Rua. Um sopro de ar.
Carro. Portas. Chão. Tejadilho.
Estrada.
Cápsulas deslizando nos dois sentidos.
Poço horizontal. Sem cabos. Com limites.
Vislumbre de luz.
Noção de verde.
Elevador. Cabo de aço. Quatro paredes.
Confinado. Subindo. Parando antes do azul.
Três paredes e uma janela.
Mina com vista a céu aberto.
Para pássaros que voam.
Para árvores com estações.
Turno que se escoa.
Dez horas que passam.
Sol que já se foi.
Regresso.
Saio da mina.
Saio do túnel.
Saio do dia.
Entro na noite.

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