Os números são muitas vezes usados, vezes demais, no discurso político, que não se restringe ao discurso partidário, como a prova de uma ideia, de um conceito, de uma linha de ação, de uma superioridade. São usados e, mais frequentemente ainda, abusados, distorcidos, isolados, desmembrados, manipulados, convertidos. Esquecendo que os números também vivem em sociedade, que há um antes, um agora e um depois, e que um número, sendo sempre o mesmo, também é diferente no que nos diz. Por vezes são discutidos, esgrimidos uns contra os outros, pelos seus donos, nas lutas entre números, populares em alguns bairros. E há mesmo quem deles fale, com abundância e certeza, sem nunca os ter visto. Mas raramente são lidos, palavra a palavra, contando histórias, com finais certos ou com finais por terminar, por outros números que ainda hão-de vir.
Aqui ficam uns números, expostos, com as histórias que neles quiserem ler, com as suas características próprias e os contextos que nem sempre percebemos. Para comparar com algumas leituras com que nos embalam todas as noites.
102.895 estudantes matricularam-se, pela primeira vez, no ensino superior público, no ano de 2011. O maior número de que há registo. Números em queda desde então, para já menos de 90.000 em 2013, aos níveis de 2009-2010.
Dizem-nos que a rede de ensino deve encolher, porque há menos peixe. Mas a rede só serve para pescar o peixe que pela primeira vez está no mar?
Dizem-nos ao mesmo tempo que as universidades devem requalificar portugueses, que os portugueses devem voltar, repito - voltar, à universidade. Dizem-nos ao mesmo tempo que as universidades devem oferecer novas formações, a públicos mais diversos. Mas esses números parecem valer menos que outros números, ainda que iguais em dignidade.
O ano de 2012 foi aquele em que se registaram mais alunos matriculados no ensino superior público: 311.574. Quase mais 30.000 do que em 2009; mais 8.000 do que em 2013 de acordo com a informação mais recente, já de dezembro, disponível por exemplo na Pordata. O Ensino Superior público está a desaparecer?
O ano de 2013 é aquele que conta com menos alunos matriculados no ensino superior privado desde 1997, e encontra-se ao nível de 1992: 67.290 estudantes. O Ensino Superior privado está a desaparecer?
No seu conjunto, e nos últimos anos, só existe diminuição de número de estudantes em 2012 e 2013. Os totais são isso mesmo, totais, mais complexos que as parcelas. Abrangem aqui alunos de licenciatura, mestrado e doutoramento; estudantes que permanecem no sistema durante anos; estudantes que podem até já não estar lá, em mente, ainda que os corpos sejam contados. Não devem por isso conduzir a conclusões absolutas e imediatas.
A relação com os números dá trabalho: é preciso aprender a conhecê-los, respeitá-los, escutá-los. Mesmo quando nos contrariam. E é preciso tempo.
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