segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Mundos paralelos
Habito mundos paralelos. Como este em que me encontro agora, do tamanho de uma sala, lareira acesa, luz de inverno entrando pela janela, o som do lápis sobre o papel, o som da cidade, abafado, que hoje parece apenas feito de pássaros. Mas há outros mundos, tão reais como este. Imateriais. Materiais. Mundos em que se vive e se sente. Povoados por gente, por seres que não são gente, por fantasmas e demónios, por objetos iguais mas diferentes, por paisagens incompletas, por cores de outras paletas. Sei que existem: já lá estive. Em sonhos dormidos. Em sonhos acordados. Ao passado que foi. Ao passado evitado. Ao passado que podia ter sido. E ao futuro que vai ser, que talvez venha a ser. Por vezes basta um cheiro familiar, já há muito não sentido, e eis que atravesso uma porta, entrando num outro tempo. Mais do que regressar ao passado é como se um pedaço de passado se incrustasse no presente, arrastando com ele sombras difusas, e criando um agora diferente. Há outras portas, mas só sabemos que o são quando por elas passamos: palavras, objetos, rostos, olhares, pensamentos. Por vezes são janelas, mantendo alguma ordem nos mundos, permitindo apenas olhar, às vezes ouvir, quem sabe, ser visto. Outras vezes ainda são espelhos, refletindo o olhar de quem olha. Mundos separados, misturados, ligados. Não estou sempre aqui, embora não deixe nunca de estar aqui. Sou habitado por mundos paralelos.
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