sábado, 29 de março de 2014

A ponta da cauda

Notas no Click de hoje; passou na Antena 1.

A educação em Portugal mudou muito, e para melhor, nos últimos 40 anos: muito mais pessoas acedem à educação, por mais tempo, com maior igualdade entre sexos. De quase 1,8 milhões de analfabetos passámos para 500.000.

Mas continuamos mal em muitos dos indicadores. Sobretudo, porque a formação é um exercício de longo prazo, em que a má posição de partida, as perdas e as hesitações, têm um efeito cumulativo e levam muito tempo a recuperar; não só no percurso de cada um, como em termos da utilização do conhecimento na economia e na inovação, neste mundo em que a posição em relação aos outros, importa.

Recuperação que é hoje mais complicada, pela conjugação de três fatores: baixa natalidade, que significa menos estudantes, menos trabalhadores, menos capacidade de renovação; elevada taxa de abandono escolar, só superada pela da Espanha, o que limita as perspectivas de futuro; desemprego elevadíssimo, que desperdiça o potencial existente em tantas pessoas.

É um problema de quantidade, neste país pequeno e a encolher, e de qualidade, com pessoas, em média, menos qualificadas do que as dos nossos parceiros e concorrentes.

Veja-se a população entre os 25 e 64 anos que completou o ensino secundário. Portugal apresenta, em 2013, o pior resultado da União, não chegando sequer a 40%; bem longe da média que vai em 75%; mais distante ainda dos países da antiga Europa de leste.

Um outro exemplo, menos influenciado pelo peso do atraso histórico: a geração da integração europeia, nascida no início dos anos 90. Apenas 69% dos jovens com 20 a 24 anos têm o ensino secundário, face, por exemplo, a 87% na Grécia ou a 89% na Irlanda, nossos parceiros da crise.

Enfrentar esta questão, estrutural, requer a valorização da aprendizagem, o reforço do ensino em todos os níveis e, principalmente, uma nova formação ao longo da vida, única via para inverter, de forma significativa esta realidade. E requer uma mudança no tecido económico, nas organizações e nas lideranças da sociedade, de forma a gerar, não só, mais emprego, como um emprego diferente.

Não se trata, por isso, de entrar, rapidamente, num qualquer pelotão da frente. Nem sequer de atingir a média, ao virar da esquina. Trata-se de uma luta de longo prazo para sair da cauda, ou mais precisamente, para sair da ponta da cauda.

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