"(...) A lógica do urgente desestrutura a nossa relação com o tempo, sempre subordinado ao momento presente.
É neste contexto que se inserem a falta de ambição colectiva das nossas sociedades, a extenuação do desejo, o nosso medo difuso, o retrair-se para os interesses individuais, a carência de perspectivas. Poderíamos dizer que o processo triunfou sobre o projecto, o post sobre o pro, e que o tom dos comportamentos de antecipação é mais de prevenção e precaução do que prospectiva e projecto. Essa miopia temporal está a prejudicar a nossa capacidade de representação do porvir. Não é a urgência que impede a elaboração de projectos de longo prazo: a ausência de projeto é que nos submete à tirania do presente. O movimento contemporâneo, a incessante adaptação à mudança que nos é exigida, é vivido segundo uma lógica de sobrevivência, não da esperança. À força de se explicar que as "grandes narrativas" morreram, o lugar delas foi ocupado pela defesa dos "direitos adquiridos"; o vazio deixado pela imaginação do futuro foi preenchido pela preocupação do instante; e onde não se prepara o futuro a política limita-se a gerir o presente."
Daniel Innerarity (2011), O futuro e os seus inimigos - Uma defesa da esperança política, Teorema.
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