Martim Avillez de Figueiredo escreveu, no Expresso de ontem, a propósito do guião para a reforma do Estado, apresentado pelo Governo, que "a irrelevância do seu conteúdo é a melhor demonstração da atual inutilidade do Estado. Não é ironia: se ao fim de um ano de trabalho o melhor que a equipa de Portas consegue fazer é isto, então é razoável não esperar muito mais da máquina pública."
Ao fazê-lo comete um erro crasso, pois confunde, desde logo, Governo com Estado.
Não sei como o documento foi elaborado, mas imagino que o tenha sido no recato de uns quantos gabinetes governamentais (quem sabe para impedir as habituais fugas de informação) e, em boa parte, por pessoas de passagem, mais ligadas à máquina partidária do que à máquina pública.
Já li muitos relatórios, participei na sua elaboração, coordenei alguns e revi uns quantos, ao longo de mais de duas décadas e em vários domínios de atuação. Sei como se faz. Sei os erros que se cometem. E sei que não é assim tão difícil fazer um documento, ainda por cima quando se pretende aberto para discussão; se, claro, se souber o que se quer discutir, para onde se quer caminhar, dentro de que limites. O que não deveria constituir um problema para quem se preparou para chegar ao poder, apresentou um programa de Governo, leva mais de dois anos em funções e conta com dois políticos de carreira. A menos que seja esse o problema: serem dois e de carreira.
Daí que talvez seja mais acertado o "lead" do referido artigo, e que diz assim: "O guião da reforma do Estado revela a ineficácia de quem o lidera". Ou seja do Governo, deste Governo. Não é pois o Estado que está em estado de inutilidade, mas o próprio Governo de quem, de facto, é razoável não esperar muito mais.
O Estado, ou pelo menos muitas partes do Estado, conseguem fazer melhor, muito melhor do que "isto". E em muito menos tempo. Valha-nos isso.
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