domingo, 9 de fevereiro de 2014
Existência líquida
Chove. O mundo liquefaz-se. O ar é agora cinzento de água. As janelas deformam o olhar. As pedras escorrem, imóveis, pela rua abaixo. A estrada por onde passo é feita apenas de reflexos e de sombras. Ainda se sente terra. Ainda se pressente céu. Chuva. Gotas empurradas pelo vento. Gotas que tocam a pele, ficando connosco um momento. Gotas que tombam formando poças, correndo juntas, sem saber destino, em riachos que já foram nuvens, sopradas em direção a um mar qualquer. Gotas separadas, que ficam à margem, vendo as outras a passar. Gotas diferentes, em contra-corrente, buscando o impossível. Chove mais. Mais ainda. Os contornos esbatem-se. Tudo se torna indistinto. Tudo se confunde. As gotas caem agora do chão, feito nuvem, para a nuvem, feita chão. Também eu caio para uma nuvem. Acordo. Sou uma gota.
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