Escrever criticamente. Em dimensão que se procura adequar à velocidade dos dias. Uma luta pela adaptação ao espaço, que se mede em caracteres; ao tempo, que se escoa em segundos; a quem lê, permanentemente solicitado, dividindo a atenção, submerso em informação que não transforma em conhecimento. Simplificar sem falsear. Agora, como há sessenta anos.
"A concisão, por mais elegante e útil à memória que seja, não pode nunca, pela natureza das coisas, fazer justiça a todos os factos de uma situação complexa. Sobre um tema dessa natureza, só se pode ser conciso por omissão e simplificação, dois processos que apenas nos ajudam a compreender - e, em muitos casos, erradamente - as noções formuladas por quem é conciso, e não a vasta e ramificada realidade a partir da qual estas noções foram arbitrariamente abstraídas.
Mas a vida é curta e ninguém tem o conhecimento infinito: ninguém tem tempo para tudo. Na prática, somos geralmente forçados a escolher entre uma exposição indevidamente concisa e a impossibilidade de expor. A concisão é um mal necessário, e àquele que a pratica só resta fazer o melhor que puder numa tarefa que, embora intrinsecamente má, é mesmo assim melhor do que nada. Ele tem de aprender a simplificar, mas não a ponto de falsificar. Tem de aprender a concentrar-se nos aspectos essenciais de uma situação, mas sem ignorar demasiados outros aspectos significativos da realidade. Desta maneira, poderá ser capaz de transmitir, não certamente toda a verdade (pois toda a verdade sobre praticamente qualquer assunto importante é incompatível com concisão), mas consideravelmente mais do que perigosos quartos de verdade e meias-verdades, que foram sempre a moeda corrente do pensamento."
Aldous Huxley (1958) em Regresso ao admirável mundo novo, edição de 2014, Antígona.
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