sábado, 27 de dezembro de 2014

Internacionalizar

Última emissão de 2014, no Click de 27 de dezembro, Antena 1.

Internacionalizar é a palavra de 2014 para o Ensino Superior. Internacionalizar e Exportar. Neste ano foi criado o Estatuto do Estudante Internacional, abrindo uma via de acesso para estudantes não comunitários; a AICEP - Agência para o Investimento e o Comércio Externo de Portugal, interessou-se por esta área, num claro sinal da relevância económica do setor; e foi divulgado o relatório de um grupo de missão, que contém 40 recomendações sobre esta matéria. A isto juntam-se os novos programas comunitários Horizon 2020 e Erasmus+, o estabelecimento de parcerias internacionais e a participação em feiras dedicadas à educação.

Visto de fora pode parecer que se está no início de um processo estimulante. Mas na verdade, a universidade, como instituição, atravessou já oito séculos, com a internacionalização sempre presente: no movimento de pessoas, através da Europa, em busca dos mestres mais afamados; na correspondência entre cientistas; na construção do conhecimento ignorando as fronteiras dos estados; na exploração de outros territórios.

No Portugal das décadas de 70 e 80 o ensino superior expandiu-se, e os docentes doutoravam-se no estrangeiro, numa viagem de ida, com volta garantida. A adesão do País ao projeto europeu abriu as portas dos programas-quadro de investigação e desenvolvimento e de mobilidade, fomentando a inserção em redes. As avaliações e comparações internacionais são, hoje, práticas comuns e aceites.

Neste mundo, que entretanto cresceu e se transformou, abrem-se muitas outras possibilidades: ensino presencial, à distância ou misto; cursos e recursos online; o uso do português como língua estratégica e o uso do inglês como língua franca; ou o uso de outras línguas; uma captação quase regional de estudantes nacionais, em simultâneo com a captação de estudantes estrangeiros, de mais países e de maior distância, geográfica ou cultural; a criação de consórcios, de pólos ou de instalações em países terceiros.

E há ainda muito mais por explorar, na relação com os antigos alunos, na internacionalização do pessoal administrativo, na chamada terceira missão das universidades, na criação de um verdadeiro ambiente internacional.

Este é uma área de grande competição entre instituições, e mesmo entre países. Que requer opções. E uma procura dos novos desequilíbrios que são motores de mudança.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Profissão: docente.

"Actualmente a falta de prémios para as letras, as despesas dos tempos e a diminuição dos estudantes nas universidades são tão notáveis e as remunerações e salários dos professores são tão abaixo do que costumavam ser que, como resultado, os académicos sábios e sérios não podem manter-se nas universidades e procuram posições mais adequadas ao seu sustento."

Não é conversa de corredor. Não é exposição de sindicato. Não é negociação salarial. Não é pedido de financiamento ao Governo. Não é, sequer, uma situação generalizável no tempo e no espaço. Neste caso é uma declaração das Cortes Espanholas de ... 1627! Já não falta muito para fazer 400 anos!

Pagamentos em géneros. Condições diferenciadas em termos de impostos ou de outras obrigações. Rendimento dependente do número de alunos e, portanto, da disciplina lecionada e da fama alcançada. Salários governamentais ou da cidade. Pagamentos avultados para atrair docentes talentosos. Exercício de outras atividades remuneradas. Exercício de cargos em conselhos de universidade ou de faculdade. Aulas privadas em paralelo com as aulas nas instituições. Falta de pagamento regular.

Absentismo. Aulas confiadas a substitutos de segunda classe.

"Em Coimbra são muito frequentes as ausências dos lentes titulares, muitas vezes autorizadas e formalmente compensadas pela nomeação momentânea de substitutos, feita nalguns casos pelo próprio professor que se ausentava."

Meios, reputação.

"Não é coincidência que as universidades cujos professores não tinham estes problemas financeiros, tais como Leida no século XVII, fossem capazes de se expandirem e gozassem de uma boa reputação científica."

Exclusividade.

"Em Königsberg, o governo proibiu os professores de exercerem funções paralelas num esforço bem intencionado de forçar o professorado a prestar toda a atenção aos assuntos académicos. Infelizmente, aqui o governo não deu o passo lógico seguinte que seria aumentar os salários dos professores."

Séculos XVI, XVII, XVIII ... XXI?

ECDU, Exclusividade.

Vale a pena ler. Momentos diferentes mas buscas de pontos de equilíbrio semelhantes. Circunstâncias distintas mas iguais lutas de poder. E dilemas entre o individual, o institucional, o coletivo maior.

Os extratos são de "Uma história da Universidade na Europa", vol II, As Universidades na Europa Moderna (1500-1800), edição coordenada por Hilde de Ridder-Symoens.