quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pequenas coisas

Estou convencido que uma parte significativa da tão falada falta de produtividade do nosso país se deve à incapacidade de fazer, bem, um sem número de pequenas coisas. Coisas que sendo mal feitas causam desperdício de tempo, energia, motivação e dinheiro, alguns dos principais recursos ao nosso dispor para fazer face aos desafios que temos pela frente.

Um exemplo, entre muitos outros, existentes nos mais diversos domínios, é a recente alteração do calendário escolar para o 11º e 12º anos. As actividades lectivas que estavam programadas para terminar a 9 de Junho, terça-feira, serão agora dadas por concluídas a 5 de Junho, a sexta-feira anterior. A menos que os dias agora subtraídos tenham sido, à partida, dados como “perdidos”, será agora necessário efectuar ajustes de programação, afectando professores, alunos e famílias envolvidas.

Justificações apresentadas no despacho publicado: a necessidade de concluir o processo de exames antes das férias, a conciliação dos interesses das famílias com os decorrentes da organização das escolas, o direito às férias dos intervenientes nas actividades escolares, o processo de acesso ao ensino superior e os constrangimentos associados aos feriados nacionais.

Aspectos sem dúvida relevantes e que deverão ser tidos em conta em todos os anos lectivos, mas que não surgiram, subitamente, em Janeiro de 2009! Fica assim por explicar porque não foram considerados há 6 meses, no momento da definição do calendário escolar para o ano 2008/09.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Justiça social

Competitividade, internacionalização, rankings, prestígio, parcerias com empresas, contributo para o desenvolvimento económico, prestação de serviços, diversificação do financiamento, atracção dos melhores estudantes, eficácia, eficiência, qualidade.
Estas são algumas das expressões mais frequentemente usadas na formulação de políticas para o ensino superior, e também na definção de estratégias pelas próprias instituições.

Vale por isso a pena ler a transcrição da palestra proferida por Lord Giddens a 11 de Novembro de 2008, por ocasião da 6ª palestra anual do Higher Education Policy Institute, e que intitulou Reflections on the future of universities.

Este antigo director da London School of Economics (LSE) decidiu focar a sua intervenção na relação entre ensino superior e justiça social, tema que considera ser um dos mais importantes em matéria de ensino superior.

No cerne da sua reflexão encontra-se a constatação de que subsiste uma enorme estratificação social no acesso ao ensino superior, apesar de todas as mudanças ocorridas nas últimas décadas no que se refere à estrutura da sociedade, ao mercado de trabalho e aos sistemas de ensino. No caso inglês, refere, citando trabalhos recentes da LSE, que apenas ingressam na universidade 11% dos filhos e 15% das filhas de trabalhadores não qualificados! Mais preocupante ainda a constatação de que cerca de 10% da população não é apenas pobre, mas encontra-se realmente encurralada na pobreza, sem mecanismos adequados que lhe possibilitem uma saída.

Embora as raízes destes problemas estejam a montante dos sistemas de ensino superior há aqui um enorme campo de intervenção em que também os actores do ensino superior têm de participar. Políticas de acesso e de apoio social, aproximação entre as instituições e as comunidades locais (o que significa não só trazer outras pessoas às universidades mas também levar as universidades às pessoas), valorização social do conhecimento e da aprendizagem, desenvolvimento de percursos individuais apropriados, informação sobre o ensino e sobre as actividades profissionais.

Nestas décadas de tempo acelerado é cada vez mais necessário saber fazer uma pausa, reflectir, questionar algumas "inevitabilidades" e escolher novos rumos.