terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Ensino Superior em Debate - Reino Unido

O Secretário de Estado John Denham anunciou, em discurso proferido em Fevereiro de 2008, a intenção de desenvolver um novo quadro de referência para o Ensino Superior Britânico, para os próximos 10 a 15 anos.

"So, at the end of this process, we should aim to produce together a 10 to 15 year framework for the expansion and development of higher education. One that sets out what universities should aspire to achieve. And one that is clear about the role of government."
Elencando um vasto conjunto de temas de trabalho para os quais solicitou contributos específicos a instituições e individualidades (as questões internacionais do Ensino Superior, a Academia e o desenvolvimento de políticas públicas, o desempenho das instituições de ensino superior, estudos em regime de tempo parcial, o ensino e a vivência dos estudantes, liderança mundial em e-learning, carreiras de investigação, o impacto do desafio demográfico sobre as instituições, a propriedade intelectual), conclui afirmando:
"The challenge, then, is to be at least as proud of our university system in 15 years' time as we justifiably can be today. To do that, we need shared aims. We must accept the scale of the challenge and agree about the importance of success. We must be prepared, where necessary, for radical reform and change. We need a long-term framework for expansion and development. Bold leadership from universities and a clear understanding of how government will provide support. That is what we must now work towards."

Para mais informações e acesso aos documentos já produzidos para informar o debate, aceder ao sítio The Debate on the Future of Higher Education em http://www.dius.gov.uk/policy/he-debate.html

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Ironias

Um deputado do PSD, julgo que Pedro Duarte, em intervenção recente no Parlamento dirigiu-se à Ministra da Educação afirmando que se ela fosse sujeita a avaliação certamente já não ocuparia o lugar que ocupa. Não retive as palavras exactas mas o sentido era este e o tom irónico.
Ironia fácil, mas vazia, tão comum no nosso registo parlamentar. O senhor deputado por certo não ignorará que os ministros são avaliados pelo Primeiro-Ministro e que, em democracia, os governos são avaliados pelos eleitores.
Foi aliás a avaliação dos últimos governos PSD que, em grande medida, permitiu ao PS alcançar a maioria absoluta.

domingo, 16 de novembro de 2008

Luxemburgo

O Luxemburgo é hoje um país com cerca de 450.000 habitantes, dos quais quase 40% são estrangeiros e 64.000 são Portugueses. De condado, no início do II Milénio, só alcançou o estatuto de País no final do mesmo, depois de uma história atribulada, própria do centro da Europa, como atesta esta passagem do Grande Dicionário Enciclopédico Ediclube:

"No séc. X o Luxemburgo era um condado, convertido em ducado em 1354. Esteve unido à Borgonha em 1444, à Espanha em 1555, à França em 1659, ao Império em 1713 e de novo à França desde 1793 a 1815, em que pelo Congresso de Viena o Grão-Ducado foi admitido como membro da Confederação Germânica, embora estivesse vinculado à coroa holandesa. Com a dissolução, em 1866, da Confederação e de acordo com o Congresso de Londres de 1867 garantiu-se a independência do Luxemburgo."

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Change

Barack Obama será o próximo inquilino da Casa Branca, ao conquistar um resultado de especial significado na história dos EUA. A sua eleição representa, para muitos, o concretizar do sonho americano: a ascensão, por mérito próprio, de um cidadão afro-americano ao cargo mais alto da nação; um símbolo da igualdade de oportunidades, num país em que parte dos actuais eleitores viveu o período de segregação racial. Mais do que isso, o carismático Obama tornou-se, para milhões de norte-americanos, o rosto da esperança e da mudança que desejam. Finda esta etapa tem pela frente o desafio de liderar o processo da proclamada mudança. Em termos internacionais é bom não esquecer que o modo de Obama ver o mundo será, seguramente, diferente da visão de um europeu. Estamos, afinal, a falar do líder da única superpotência ocidental, bem consciente do papel que o seu país quer desempenhar, e que zelará, primeiro que tudo, pelo interesse americano.

Estas terão sido, seguramente, as eleições mais seguidas de sempre em todo o planeta. O reality show das primárias democratas, com os candidatos a desistirem com o passar das semanas, os duelos Obama-Clinton e McCain-Obama, golpes baixos q.b., o espectáculo à americana, a importância dos EUA no mundo e a extensa cobertura mediática contribuíram com a sua quota parte. Mas estou convencido que muito se deveu às características dos próprios candidatos, que por si só encarnam sonhos e aspirações diferentes: McCain, o patriota descendente de linhagem militar, herói e prisioneiro de guerra, realidade conhecida por muitas famílias americanas, desalinhado de posições do próprio partido; Obama, o advogado negro, filho de um africano, e que permite um virar de página na história dos EUA; Clinton, ex-primeira dama, senadora e que esteve quase a tornar-se na primeira mulher a enfrentar a votação final para o cargo de Presidente.

Impressionou-me o entusiasmo de muitos portugueses por estas eleições, e pela vitória de Obama, principalmente pelo contraste com o olhar dos mesmos sobre a política partidária portuguesa. Entre nós é comum dizer-se que os políticos são todos iguais, que as diferenças entre os grandes partidos são cada vez menores, e que as eleições são sobretudo uma dança de cadeiras. Nada de decisivo, pois, até porque Bruxelas manda cada vez mais…As eleições nos EUA mostraram que há, de facto, políticos diferentes e que a discussão ideológica não está enterrada. Votar a preto e branco é definitivamente um exercício mais mobilizador do que optar entre diferentes cambiantes de cinzento.

Can we change?

Publicado, em versão reduzida, no jornal Público, Cartas ao Director, em 12/11/08

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

3 Questões sobre os mercados financeiros

1. As trocas (compras e vendas) de curto prazo contribuem para a solidez da economia real?
2. Faz sentido taxar (limita de forma desigual - quem pode paga) ou limitar verdadeiramente este tipo de trocas?
3. Devemos caminhar para um novo sistema em que não tenhamos meros detentores de acções (shareholders) mas sim verdadeiras partes interessadas (stakeholders), em sintonia aliás com a perspectiva de longo prazo recomendada aos investidores?

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Autonomia universitária, a falta dela e os problemas da regulação

No contexto actual de crise global, que faz recentrar as atenções no papel das instituições, do Estado e dos poderes e mecanismos de supervisão e regulação, eis duas citações sobre a questão da(s) autonomia(s) universitária(s).


A propósito das diferentes concepções de autonomia presentes na Europa, e em especial da diferença entre o modelo britânico e o modelo continental, escreve Guy Neave:

"In effect, the Guardian Relationship between State and University in its Humboldtian version and its variants ensured Academic Autonomy. It did not necessary subscribe to Institutional Autonomy. On the contrary, the lines of accountability were laid down in the greatest detail..."

E mais à frente:

"This was not so in Britain. Institutional Autonomy was an essential principle." "Other differences follow from this condition, not least of which the view that Institutional Autonomy is the prior condition that guarantees Academic Autonomy. To the British academic, without the first, the second is precarious at best."

Extractos de "From Guardian to Overseer; Trends in Institutional Autonomy, Governance and Leadership" in Políticas de Ensino Superior - Quatro Temas em Debate, Edição do Conselho Nacional de Educação, 2007.


Na edição de hoje do Diário Económico,e a propósito do Orçamento de Estado para 2009, Pedro Lourtie escreve:

A recuperação orçamental que se anunciava para 2009, afinal não está à vista. E a promessa de que o MCTES acorrerá às situações de incapacidade para honrar os compromissos, com um fundo a distribuir casuisticamente, é perverso. As instituições ficam na dependência da caridade do MCTES e a autonomia torna-se uma noção remota. Por este andar, as reitorias e presidências das instituições de ensino superior públicas passarão, de facto, a morar no Palácio das Laranjeiras.

sábado, 13 de setembro de 2008

O tamanho importa

As Universidades enfrentam uma competição mais intensa e crescentes exigências da sociedade. Disponibilização de formações diversas, flexíveis e mais estreitamente ligadas ao mercado de trabalho; formação avançada; formação para activos; investigação com resultados aplicáveis a curto prazo; transferência de conhecimento e tecnologia para empresas e outras instituições; fomento de inovação e de atitudes empreendedoras; divulgação dos saberes; contribuir para a competitividade dos países e regiões. Actuação com maior qualidade, eficácia e eficiência; com transparência e prestação de contas. Competição por mais alunos e pelos melhores alunos; por financiamento do Estado e privado; por docentes e investigadores; por prestígio. Fazer mais, melhor e diferente.
As respostas a estas pressões não se confinam à modificação da oferta formativa, da natureza da relação com as empresas ou da relação com o Estado. Redes de cooperação, alianças estratégicas, consórcios e fusões são expressões que fazem já parte do quotidiano de muitas instituições, um pouco por toda a Europa ocidental. As Universidades estão a mudar de forma, e de tamanho. E o tamanho importa! Eis alguns exemplos.
  • Em Manchester, a UMIST e a Victoria University fundiram-se em 2004, dando lugar à Universidade de Manchester, uma das maiores do Reino-Unido, e criando "a powerful new force in British Higher Education". Nos objectivos expressos figura a ambição de se afirmar como uma das melhores universidades do mundo, até 2015.
  • O governo dinamarquês redesenhou o mapa do Ensino Superior, há pouco mais de um ano, promovendo a redução de 25 instituições a apenas 8 universidades e 3 instituições de investigação. Uma das páginas do Ministério que tutela o sector é sugestivamente intitulada "Research to be strengthened with fewer Danish Universities" e realça, sob este título, a criação de três grandes universidades (Copenhaga, Aarhus e Universidade Técnica) que posiciona entre as maiores da Europa em termos de recursos, e que serão responsáveis por dois terços da investigação pública e da formação universitária do país. Capacidade de atracção de estudantes e investigadores de qualidade, promoção de sinergias, acrescido potencial de formação e investigação, e a capacidade de aumentar a porção de financiamentos europeus captados pelo país são objectivos desta reforma.
  • Na Finlândia, o governo inscreveu nas suas linhas de acção a criação da "Innovation University", com aspiração a tornar-se uma instituição líder no panorama internacional. Esta universidade de Helsínquia será criada por fusão da Universidade de Tecnologia, da Escola de Economia e Gestão e da Universidade de Arte e Design. Terá cerca de 21 000 estudantes e actuará em áreas estratégicas para a Finlândia: tecnologia, gestão e arte.
  • Em França a Universidade de Estrasburgo foi criada por fusão de três universidades (Louis Pasteur, Marc Bloch e Robert Schuman). A comunidade universitária única assim criada congrega perto de 45 000 alunos, 2 900 docentes e investigadores e 2 600 não docentes. As motivações para a fusão incluem a vontade de alcançar uma posição entre as grandes universidades internacionais, acrescida capacidade de atracção de estudantes, promoção da interdisciplinaridade, diversificação das possibilidades formativas e projecção de uma imagem mais forte.
  • Mais a sul, a Universidade de Lyon foi criada em 2007 com o estatuto de estabelecimento público de cooperação científica. Este resultado de uma década de trabalhos preparatórios reúne, entre membros fundadores e associados, cerca de 20 instituições de ensino e investigação, tornando-se num gigante com mais de 120 000 estudantes e 5 500 docentes e investigadores.
  • No país vizinho está em desenvolvimento o projecto da Universidade da Catalunha, que associa 8 universidades da região. Este projecto tem por objectivo criar um sistema de formação e investigação forte e territorialmente equilibrado, baseado na colaboração e permitindo obter economias de escala, para contribuir para o desenvolvimento e competitividade da Catalunha, O conjunto destas universidades abrange 250 000 estudantes, mais de 11 000 docentes e investigadores, 7 000 não docentes.

E entre nós?

  • O Regime Jurídico aprovado em 2007 contempla novas formas de enquadramento institucional como sejam fundações públicas com regime de direito privado, associações e consórcios de instituições (embora vedando fusões entre universidades e institutos politécnicos, e gorando assim projectos desta natureza nas regiões de Lisboa e do Ave).
  • Nas Grandes Opções do Plano para 2009 (ver em www.min-financas.pt), figura a "criação de consórcios de instituições politécnicas de âmbito regional,…, e de instituições universitárias". Em consonância, e em nota do MCTES sobre o Orçamento para 2009 (ver em www.fenprof.pt), prevê-se a criação de um fundo específico de desenvolvimento do Ensino Superior, de natureza competitiva, e destinado, designadamente, à constituição de redes, estabelecimento de fundações e instalação de consórcios.
  • Em 14 de Julho último a Universidade de Lisboa, U. Técnica de Lisboa e a U. Nova de Lisboa assinaram um memorando de entendimento para reforçar a colaboração entre as três instituições. Na sua introdução reconhece-se "a necessidade de um entendimento que permita dar maior projecção à dimensão universitária da cidade de Lisboa e à capacidade de as suas instituições universitárias competirem no espaço europeu e internacional do ensino superior" e as instituições comprometem-se a realizar estudos "no sentido de uma análise do interesse e da pertinência de encarar modalidades futuras de ligação e associação" (www.unl.pt/noticiastodas).
São tempos de profunda mudança, no seio das próprias Universidades e no seu relacionamento com a sociedade. Um resultado possível em Portugal? Menos instituições, com apenas 2 ou 3 universidades de grande dimensão, com alguma projecção internacional, e com potencial para gerar um círculo vicioso: maior dimensão, atracção de alunos e recursos, capacidade de investimento, maior dimensão, … Maior estratificação do sistema, com uma hierarquia de prestígio, maior diferença entre as instituições, menor competição no panorama nacional. Redução da presença no interior do país, promovendo a deslocação de mais jovens e empresas para os grandes centros e agravando as assimetrias territoriais.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sinais

Extracto do sítio do Jornal de Notícias (30 de Agosto) a propósito da hipotética candidatura de Elisa Ferreira à Câmara Municipal do Porto e ao Parlamento Europeu:

"O candidato à Câmara deve dar todos os sinais de concentração no objectivo de vir a ser presidente", defendeu, por sua vez, Pedro Baptista. Isto "para não dar ideia de que vem cá fazer uma expedição". Porém o candidato à Distrital também admite "margem de manobra", como uma solução em que Elisa Ferreira abdicaria no lugar do PE, só após a eleição europeia, num acto de "generosidade política e amor ao Porto."

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Desperdiçadores de tempo

O tempo é um recurso não renovável. No entanto não o costumamos encarar como tal. Talvez a isso se deva uma parte da apregoada baixa produtividade nacional. Se identificar uma parte significativa do seu dia-a-dia nas linhas que se seguem faça um esforço, e mude alguma coisa!

Os 21 principais desperdiçadores de tempo
Fonte: Industrial Society survey

1. Interrupções frequentes - telefónicas ou outras.
2. Indecisão.
3. Reuniões longas demais ou mesmo desnecessárias.
4. Trocar de prioridades a meio do caminho.
5. Ausência de objectivos, prioridades ou planeamento diário.
6. Desorganização pessoal.
7. Um espaço de trabalho atravancado.
8. Incapacidade de delegar eficazmente.
9. Mudar apenas a papelada de lugar.
10. Limitações de equipamento ou material.
11. Ter de andar atrás das pessoas.
12. Tentar fazer demasiado - incapaz de dizer "Não."
13. Esvoaçar de tarefa em tarefa deixando-as todas inacabadas.
14. Informação ou comunicação de má qualidade.
15. Socialização excessiva.
16. Procedimentos não adequados.
17. Divisão pouco clara de responsabilidades ou autoridade.
18. Verificação constante de outros.
19. Mergulhar numa tarefa sem planeamento.
20. Baixa auto-disciplina.
21. Exaustão - como consequência dos pontos anteriores!

Tradução livre do quadro reproduzido em "The Higher Education Manager's Handbook", de Peter McCaffery.

sábado, 23 de agosto de 2008

Lentes para os mundos que fazem o nosso mundo

Um apanhado de destaques de primeira página de jornais dos cinco continentes, tendo como principais critérios de escolha a acessibilidade através da internet e a língua.
Edições de 20 a 24 de Agosto de 2008, com primeira página disponível na internet.

Portugal, Público
Ladrões preferem bancos mas carrinhas de valores rendem mais. Polícias e juízes criticam dificuldade de aplicar prisão preventiva, especialmente no caso de indivíduos na posse de armas de fogo ilegais.

Irlanda, Irish Independent
Doping row escalates over team ban threat - Hickey 'sick and tired' after drugs fiasco. A bitter row escalated last night after Ireland's Olympic chief threatened to ban the scandal-hit equestrian team from future Games.

Itália Corriere della Sera
Afghanistan, strage di bambini - Kabul accusa la coalizione. Feriti tre soldati italiani. Strage di civili in Afghanistan. Secondo quanto riferito dal ministero dell’Interno di Kabul, settantasei persone, tra cui 50 bambini, sono rimaste uccise durante un bombardamento delle forze della coalizione sotto il comando americano nella provincia occidentale di Herat.

Turquia, Today's Zaman
Police targeted in terrorist car bomb attack, 16 wounded. A car bomb that ripped a minibus in the Aegenian city of Izmir yesterday was an attack targeting the police department, authorities believe. Sixteen were injured in the explosion, including eight police officers.

Argélia, Le soir d'Algérie
Massacre à Bouira – onze citoyens morts et des dizaines de blessés dans un attentat à la voiture piégée.

Burkina Faso, Sidwaya
Tournee du premier-ministre dans les haut-bassins – Tertius Zongo visite les exploitations des producteurs modernes.

Madagáscar, MidiMadagasikara
Bac: Tension lors des délibérations, résultats probablement demain. Les séances de délibération de l’examen du bac à Tana ont connu quelques instants de tension entre les autorités universitaires et des correcteurs, hier matin au grand amphi de DEGS à Ankatso.

Seychelles, The Seychelles Nation
President sets up group to review education system – After the presentation last month of the special report on Seychelles’ education and training system, President James Michel has set up a 10 Member National Education Review Committee, which he will chair.

Irão, Iran Daily
Locating sites for nuclear plants. Managing director of the Production and development of Atomic Energy Company Ahmad Fayyazbakhsh tuesday said contracts have been signed with six domestic companies for locating places for building new nuclear power plants.

Camboja, PhnomPenh Post
Election claims to be heard – But opposition doubts fraud evidence will get fair review. Sam Rainsy Party officials said Thursday they doubted their election complaints would get a fair review as the Constitutional Council continued to examine the opposition's allegations of voter fraud stemming from last month's elections.

Japão, AsahiShimbun
NHK criticized for airing “government PR” – The broadcaster’s subsidiaries were paid to run symposiums sponsored by ministries.

Papua Nova-Guiné, Post-Courier
Police arrest Hami Yawari – Members of the police fraud squad in Port Moresby arrested and charged former Southern Highlands governor Hami Yawari with allegedly misappropriating project grants totalling more than K2.2 million.

Nova Zelândia, New Zeland Herald
Smacking law: now we’ll all get a vote – Referendum likely to revive bitter debate … and the Government can decide to ignore the result. Voters will get the chance to give their verdict on the anti-smacking law when a public referendum is held on the issue next year.

Canadá, La presse
Céline – Tout un cadeau por le 400e du Québec. Quelques 200000 personnes envahissent les plaines pour entendre la Diva.

Haiti, Haiti en marche
Puisque tout est négociable, pourquoi pas aussi le retour d’Aristide ! Tout est négociable en ce moment. Dans les grands marchandages conduits entre le palais national d’un côté et de l’autre un petit groupe de sénateurs et les partis politiques qu’ils représentent, on en est venu à mettre tout sur la table.

Guatemala, Siglo XXI
Girón se entrega. El gerente de MDF llega a PDH donde dice temer por su vida. Luego, juez lo procesa por caso especial de estafa y lavado de dinero.

Chile, El Mercurio de Santiago
Plan antiinflación de Hacienda tien un costo de US$1.000 milliones: Gobierno elimina impuesto de $163 que se paga por cheque y operación bancaria y baja el gravamen a las bencinas.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Declarações olímpicas

"Eu acho que já cheguei à conclusão que de manhã só 'tou bem é na caminha." - Marco Fortes, atleta olímpico do lançamento do peso, não qualificado para a final.
Hora de início da qualificação: 9h05.
No mesmo dia tinha começado, minutos antes, a primeira série dos 100m barreiras do heptatlo feminino, prova que continuou às 10h30 com o salto em altura, às 19h00 com o lançamento do peso e às 21h15 com os 200 metros.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Acesso ao Ensino Superior

Estamos em plena fase de candidatura ao Ensino Superior. Foram divulgadas as vagas e condições de acesso a cada par curso/estabelecimento (ver em http://www.dges.mctes.pt/), reacendendo discussões em torno do número de cursos, número de vagas, empregabilidade e facilitismo. Os panoramas são muito variados. Mas veja-se, a título de exemplo, quais as provas de ingresso exigidas pelas Universidades Públicas para a Licenciatura em Economia, e que têm um peso não inferior a 35% para a nota de candidatura:
  • a Matemática é a única prova de ingresso considerada na U. Coimbra e na U. Nova de Lisboa;
  • a Matemática é também obrigatória como prova de ingresso, podendo fazer par com outras disciplinas (Economia, Geografia, História ou Português) na U. Aveiro, U. Minho, U. Porto, U. Técnica de Lisboa e no ISCTE;
  • apenas é considerada uma única disciplina, de entre Matemática e Economia, nas provas de ingresso para a U. Açores e para a U. Madeira;
  • apenas é considerada uma única disciplina, de entre Geografia, Matemática e Economia para a U. Algarve, U. Beira Interior e U. Évora;
  • apenas é considerada uma única disciplina, de entre Português, Matemática e Economia na U. Trás-os-Montes e alto Douro.
No mesmo sítio é possível encontrar informações sobre o acesso a Universidades Privadas, embora reportada a 2007/08:
- Adiciona-se ao penúltimo grupo a U. Autónoma de Lisboa e a U. Portucalense;
- Adiciona-se ao último a U. Lusíada e a U. Lusófona.
Não estava disponível informação sobre a U. Católica.

Algo similar se constata, por exemplo, num grande número de cursos da área da contabilidade (não verifiquei se em todos), leccionados pelos Institutos Politécnicos, e em cujas provas de ingresso a Matemática é uma de três opções, a par, não raras vezes, com Português e outra disciplina. Assim vamos da Matemática obrigatória ao Português como possibilidade. Diferentes perfis de entrada, diferentes carências, diferentes problemas para superar e gerir durante o percurso superior, provavelmente diferentes perfis de saída. Está ainda por ver, na prática, que implicações tal diversidade acarretará no prosseguimento de estudos (acesso e sucesso em programas de segundo ciclo) e ao nível do emprego.

Estas são, provavelmente, algumas das consequências da combinação entre os resultados do Ensino Secundário em anos recentes, em especial a Matemática com a consequente síndrome de aversão/fuga a esta disciplina, do modelo de financiamento do Ensino Superior e das reduções orçamentais que estimulam à procura e manutenção de alunos, e de um déficit de regulação/coordenação do Sistema de Ensino Superior. Considero as soluções de modelo único , frequentemente, redutoras, mas já não me parece inadequado fixar um conjunto de requisitos mínimos com possibilidade de serem complementados, de modo livre, pelas instituições.

A secundarização da Matemática em algumas áreas, como táctica de captação de alunos para o Ensino Superior, envia um sinal perigoso para os alunos dos níveis básico e secundário: a temida Matemática não é assim tão importante. Sinal perigoso e contraditório com alguns esforços desencadeados ao nível da formação de professores, da divulgação e da motivação de alunos para esta mesma área. Já em relação ao domínio do Português, pelo menos ao nível das competências de comunicação, oral e escrita, correcta e articulada, era francamente desejável que se elevasse a fasquia.

domingo, 6 de julho de 2008

Portugal 2020 - Ciências Sociais, Empresariais e Direito

As instituições portuguesas de Ensino Superior, universitárias e politécnicas, públicas e privadas, diplomaram cerca de 720 000 pessoas nos últimos dez anos (de 1995/96 a 2006/07).

Quase um terço (32%) diplomaram-se nas áreas de Ciências Sociais (onde se inclui Sociologia, Psicologia e Economia), Ciências Empresariais (como Comércio, Contabilidade, Gestão e administração, Secretariado) e Direito. Por ordem decrescente do número de diplomados temos ainda:

  • 16% em Educação
  • 16% em Saúde
  • 14% em Eng.ª, Indústria transformadora, Arquitectura e Construção
  • 9% em Arte e Humanidades
  • 6% em Ciências, Matemática e Informática
  • 5% em Serviços
  • 2% em Agricultura

Os dados referentes às vagas e aos alunos que se inscreveram, neste aluno lectivo que está a terminar, no 1º ano e pela 1ª vez num qualquer nível de formação, confirmam as áreas em que existe maior oferta e maior procura, com uma única excepção: os cursos de educação tiveram apenas 6% dos recém-inscritos. Eis o top-três:
  • 34% em Ciências Sociais, Empresariais e Direito;
  • 17% em Eng.ª, Indústria Transformadora, Arquitectura e Construção
  • 16% em Saúde.

Fonte de dados: GPEARI, MCTES (2008), Vagas, Alunos e Diplomados no Ensino Superior. Apresentação de dados: destaques [Junho de 2008]. Disponível em http://www.estatisticas.gpeari.mctes.pt/

domingo, 29 de junho de 2008

Análise de uma moção de estratégia

Não sou filiado em nenhum partido e já votei em diferentes forças partidárias. Não tenho ainda definido o meu sentido de voto para o ciclo eleitoral de 2009. Provavelmente, por isso, li, pela primeira vez, uma moção de estratégia partidária – a que Manuela Ferreira Leite recentemente apresentou. Admito que não domino a lógica de funcionamento dos partidos e confesso que, de um modo geral, o que vejo não tende a aproximar-me dos partidos. Tinha, no entanto, algumas expectativas quanto ao conteúdo do documento. Após a leitura, e considerando que se refere ao partido que se pretende constituir como “a” alternativa ao actual Governo, achei francamente pobre: projecto alternativo não clarificado; ideias demasiado generalistas; discurso sobre um partido dito diferente, em paralelo com críticas de fundo ao seu percurso recente; mistura confusa entre mensagens para consumo interno e mensagens para o exterior do partido. Isto para além de questões de forma e pormenor.

O parágrafo introdutório do documento esclarece, respondendo a alguns, que uma moção não é um programa eleitoral. Não se esperem pois medidas concretas, mas sim a linha geral de actuação política do partido, dirigida, naturalmente, aos militantes do partido. Percebe-se e fica o registo para enquadrar a restante apreciação. Vamos por partes. Eis o que retive.

As críticas à actuação do Governo. Constam de um primeiro bloco de oito páginas (25% do texto), e de diversas outras referências ao longo da moção. Estando o País ciente da actual situação, e não existindo certamente nos congressistas uma afinidade com o Governo, qual o propósito desta longa introdução? Gerar um sentimento de união entre as hostes: o “inimigo” é externo e é altura de ultrapassar as divisões internas. Partilhar uma sensação de urgência, com base na gravidade da situação, e assim fazer acreditar na possibilidade real de vitória, factor que contribui para a mobilização. É também uma mensagem com eco na comunicação social e, como tal, com visibilidade acrescida fora do partido. No fundo trata-se de preparar o palco. Uma farpa adicional ao PS - “Os socialistas não souberam ou não quiseram seguir pelo caminho acertado”. Pelos vistos não será apenas uma questão de competência, mas de intencionalidade!

O PSD como única força alternativa ao PS, para o exercício do Governo. Tem sido assim, e assim será, provavelmente, a curto e médio prazo. O que não invalida, a prazo, a emergência de outras soluções. Líderes sobem e descem, e por vezes arrastam os partidos. Esta afirmação parece dirigir-se sobretudo ao eleitorado: só há duas escolhas, “eles”, os responsáveis pela crise, e “nós” que temos a solução. Tal é reforçado com a afirmação de que os períodos de governo conduzidos pelo PSD foram os de maior desenvolvimento do país. Algo que os eleitores não devem ter percebido quando escolhem outro partido. Esta tese parece também, e desde já, servir uma estratégia de apelo ao voto útil, dirigida aos descontentes. Uma maior divisão de votos pode conduzir a alianças ou a governos minoritários, sendo sempre de gestão política mais delicada. Assim, é preferível reduzir a escolha a dois candidatos: ou votam em "nós" ou "eles" continuam no governo.

O PSD-recente como partido em perda: no texto da moção o PSD é caracterizado como um partido que perdeu credibilidade, não é escutado pelo Governo nem pelo País, virou-se para dentro, discutiu pessoas e não ideias, e mudou frequentemente de líderes. Como é referido é um partido que “precisa de mudar o modo de agir politicamente”. Ficam, entre linhas, as críticas aos anteriores líderes e estruturas partidárias, mas que deveriam ser extensivas aos restantes militantes, aqueles que aprovam as políticas e escolhem as lideranças.

O PSD como partido diferente. É patente a dificuldade em conciliar, no mesmo discurso, os vários PSD que têm existido e que motivaram a candidatura de Manuela Ferreira Leite. Afirma-se que o PSD tem uma “diversa atitude face à política”. Mas qual PSD? O que, perdeu credibilidade e se virou para dentro? O que necessita de mudar a forma de agir politicamente? O PSD das bases? Os PSD de Luís Filipe Menezes, Santana Lopes, Pedro Passos Coelho? Ou o PSD da nova líder? Os militantes são, em qualquer dos casos, os mesmos. Alguém deu pela atitude diversa?
Um segundo aspecto em que temos de nos diferenciar do PS respeita ao valor da verdade na acção política.” Pelos vistos ainda não é diferente, “tem” de ser diferente… E, na mesma linha, defender “uma cultura política assente em valores fundamentais como a exigência, o rigor, a responsabilidade, o mérito, o respeito pela autoridade legítima.”
Afirma-se também que o PS tenta "ocupar o espacço político que sempre foi, e que continua a ser, o do PSD." Se estamos a falar de acção política leia-se, estão a fazer políticas que gostaríamos de ser nós a fazer, ainda que por "necessidade e não por uma qualquer convicção."
O modelo de desenvolvimento alternativo: a parte que considero mais frágil de um documento que se pretende estratégico.
Falta uma ideia para Portugal” – Não encontrei nenhuma proposta.
Nada, absolutamente nada, justifica que o País não tenha um presente e um futuro à altura da glória do seu passado” – soundbite para comício, aplausos, bandeirinhas agitadas e os gritos de Portugal-Portugal. A menos que, em lugar de consultores de imagem se contratem agora os autores de "O Segredo". Mesmo não sabendo de que era da nossa história se está a falar, é evidente que existiram factores que justificaram a dita glória passada e o seu desvanecimento. Há factores que ditam o nosso presente. Há factores que condicionam os caminhos que podem ser trilhados no futuro. Factores intrínsecos que incluem a capacidade de actuação política, a capacidade de gerar lideranças, o dinamismo da sociedade e o nível de competências individuais. Factores extrínsecos como a actuação dos parceiros e competidores nesta aldeia global. Não sei se escaparemos à "irrelevância internacional", mas não vejo que a evocação de grandezas históricas resolva alguma coisa e seja um elemento mobilizador.

Tarefas prioritárias para o Estado, para além das funções de soberania: “promoção da igualdade de oportunidades, a defesa dos mais fracos e vulneráveis, e o incentivo à criação da riqueza.” Parece consensual, não que isso seja um defeito.
O estado de “emergência social” impõe a necessidade de “adoptar medidas imediatas”. – Quais são? Nada mais é dito, o que é tanto mais preocupante quando o carácter é de urgência. Um dos aspectos mais concretos é a referência às desigualdades existentes entre o interior e o litoral. Aqui, querendo-se intervir a sério, não bastará assegurar o acesso a serviços básicos em condições similares.
É necessário apresentar um modelo alternativo de desenvolvimento. Tarefa que a nós próprios devemos impor.” – Ficamos a saber que temos de esperar, e que o PSD, partido que não nasceu agora, já foi governo e tem sido oposição, ainda vai definir o tal projecto.

Há momentos e, sobretudo, domínios e momentos em que os consensos alargados são desejáveis” - importa-se de especificar? É que a constante mudança de políticas e projectos entre governos, de cor diferente e até da mesma cor não tem ajudado.

A actuação futura.
A acção política do PSD deve ser conduzida pela estrita prossecução e defesa do interesse nacional.” - recado interno para as lutas eleitorais que se avizinham e que comprova que afinal o PSD não é assim tão diferente da ideia que muita gente tem dos partidos.
“… garantir que o modo de selecção dos candidatos [às eleições autárquicas] se faça …. no respeito integral pelas disposições estatutárias.” – idem.
Uma oposição firme, determinada e séria.” - Mais críticas internas, entre linhas, às anteriores direcções, e um aviso ao PS – agora é a sério. Os eleitores verão e julgarão.
A necessidade de uma liderança credível e de um projecto alternativo coerente.” – aguardemos então pelo projecto.
Devemos apresentar-nos ao eleitorado com um projecto político próprio e diferenciado dos demais.” - Sim, é conveniente!
O nosso objectivo eleitoral é claro: Vencer.” – Pois, até aí já tinha chegado.

Não estando o projecto feito fica por saber se o papel de oposição séria, designadamente na Assembleia da República, se vai confinar à reacção, avulsa, às propostas do Governo, e a preparar caminho para os actos eleitorais, abdicando do papel de propor verdadeiras alternativas que sejam também válidas à luz de um novo modelo.

A terminar
Seria interessante colocar as seguintes questões à líder do PSD, em termo de grandes linhas de orientação e medidas em curso:
- Que medidas adoptadas pelo Governo subscreve e tenciona manter?
- Com que medidas discorda mas para as quais o custo de as reverter seria demasiado grande?
- Que medidas revogar?
Fica a sugestão para os senhores jornalistas. Respostas a visionar em futuras edições dos programas “Toda a Verdade” e “Descubra as diferenças”.

P.S. I (sem conotações) - A entrevista a Morais Sarmento na SIC Notícias reforça as impressões que aqui deixei. Respostas previsíveis de quem nada de concreto tinha para dizer.
P.S. II - O artigo de Pacheco Pereira no Público sugere que esta nova liderança tem mudado as agulhas, no partido e no discurso político, e é oposto ao frenesim de outros. Eu também não sou adepto do frenesim, mas o que ouvi até agora lembra-me o título de um remix que passa nos canais de música - "Destination unknown".

quarta-feira, 25 de junho de 2008

TGV - o PSD a duas velocidades

Concordo com a necessidade de clarificar os benefícios, os custos e as fontes e modelos de financiamento, em especial em projectos de grande dimensão. Nâo posso no entanto deixar de notar posições públicas, quase simultâneas, de individualidades do principal partido de oposição, também ele, à semelhança do Governo, já em nítida pré-campanha 2009:

Morais Sarmento, com renovadas responsabilidades no PSD agora liderado por Manuela Ferreira Leite, defende que, entre outros, o argumento da urgência da ligação TGV a Espanha não colhe, estando os projectos do "lado de lá" em reapreciação.

Luís Filipe Menezes, líder do PSD até há bem pouco e autarca, defende a urgência da ligação TGV à Galiza, estando o lado de lá "muito avançado".

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Soundbits

"E por isso tomei uma decisão: isso não vai voltar a acontecer porque também decidi deixar de fumar." - José Sócrates.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Fast-food televisiva

12 de Maio - Abertura dos noticiários da noite. O tema omnipresente nos três principais canais nacionais, RTP1, SIC e TVI, é novamente o futebol. Não é uma reportagem sobre os estádios do Euro2004, sobre os resultados do campeonato ou sobre os mais recentes casos disciplinares do futebol nacional. É um directo: a intervenção do “mister”, o estágio da selecção, as reacções de jogadores e dirigentes, os comentadores em estúdio.
A SIC optou por um formato mais comedido: 8 minutos para começar, seguidos de outros acontecimentos do país e do mundo, e voltando à carga ao passar da meia hora. A RTP1 alongou-se por 17 minutos, e com a promessa de, após o intervalo, voltar à selecção e ainda ao adeus de Rui Costa. A TVI foi mais longe conseguindo ocupar 22 minutos consecutivos, antes do futebol ceder lugar a Fátima.
Julguei que já tínhamos ganho o Europeu! Mas afinal, não. Era apenas o anúncio da lista de jogadores convocados para a selecção nacional, rumo ao Euro2008. Confesso que me escapa a relevância e a primazia conferida a estes directos.
Felizmente não estamos limitados a estas fontes de informação, que se repetem sem imaginação, quais monoculturas intensivas que transformam o solo em deserto, nem à ditadura das imagens em directo, que se desenrolam perante os nossos olhos. Há mais canais televisivos, jornais, rádio e Internet, com edições on-line e opiniões de muitos. Não temos que consumir a fast-food que nos oferecem.

Plano Tecnológico

A mãe, docente no Ensino Superior - "E então perguntei aos meus alunos quem usava o computador para estudar.".
A filha, aluna do 10º ano, com computador em casa e acesso à internet, num misto de espanto e indignação - "Computador !? Para estudar!?"

sábado, 3 de maio de 2008

Usos e desusos do conhecimento

Numa sociedade denominada “do conhecimento” há ainda um longo caminho a percorrer no que se refere à utilização do conhecimento nos processos de decisão.

Uma caracterização de diversos problemas neste domínio, em conjunto com a sugestão de recomendações para os atenuar, são apresentados na obra Willingly and knowingly – The roles of knowledge about nature and the environment in policy processes, RMNO, Lemma Publishers, 2000. Nela são analisados os processos de decisão, a partir do estudo de casos complexos com repercussões em termos sociais, ambientais e económicos.

Alguns exemplos, extraídos a partir das conclusões:

  • a definição do problema condiciona fortemente o papel conferido ao conhecimento disponível (ver os estudos comparativos para o Novo Aeroporto de Lisboa entre localizações previamente definidas vs. a abertura à possibilidade de uma nova localização);
  • o conhecimento é utilizado estrategicamente, pelas partes envolvidas, como instrumento de legitimação de posições adoptadas a priori e como extensão da luta pelo poder;
  • a prevalência de uma visão da ciência como “objectiva”, “independente”, não influenciada por valores;
  • o uso da incerteza como instrumento de desacreditação do conhecimento (relembrar as discussões sobre o tratamento de resíduos perigosos);
  • a dificuldade de comunicação entre decisores e investigadores.

Eis um fragmento:

Observation 6: knowledge is often not used for the formulation of policy.
Large quantities of knowledge produced for the benefit of policy are never used in that policy-making. This selective (under)use of knowledge can be attributed to different factors. Some are person-bound (for instance: the paradigm of a policy-maker, interests of policy-makers and users, knowledge monopolies), other relate to the way in which knowledge is presented (too much, too little structure, too little interaction, bad timing).

terça-feira, 22 de abril de 2008

O País do futebol

2004 foi ano de festa. Foi o ano do Euro2004. A imagem de Portugal em casa de milhões de espectadores; a nossa selecção na final; o verde e o vermelho promovidos a cores da moda; cachecóis ao pescoço e bandeiras nas varandas; grita-se por Portugal; multidões na rua e nos estádios. Em dez estádios, do Minho ao Algarve, construídos de raiz ou profundamente remodelados. Triunfos da arquitectura e da engenharia, orgulho das cidades e dos clubes. A capacidade de Portugal organizar eventos internacionais de grande dimensão ficou, uma vez mais, comprovada.
Passaram quatro anos e o Euro joga-se agora na Áustria e na Suiça. A Europa já deve ter esquecido os nomes de Braga, Aveiro ou Leiria, da mesma forma que só com recurso à Internet sou capaz de dizer que, em 2000, os palcos foram Arnhem, Charleroi, Bruges. O espectáculo é efémero.
Ficaram os estádios. O do Algarve é utilizado por duas equipas que não disputam sequer as ligas profissionais: o Louletano, que joga na II Divisão, e o Farense, nos campeonatos regionais. Em Aveiro assistem a cada jogo, em média, um pouco mais de 1200 espectadores, pelo que nem juntando todos os espectadores dos 17 jogos já disputados nesta época seria possível esgotar a lotação! O panorama é semelhante em Leiria, com uma taxa média de ocupação de 9%. Em Coimbra e no Bessa a situação está longe de ser satisfatória, com uma ocupação média rondando os 20%.
As cadeiras coloridas são, agora, fiéis espectadores de lugar cativo.
Salvam-se, com naturalidade, os três grandes, Porto, Benfica e Sporting, aos quais se juntam Braga e Guimarães, clubes que, por norma, conseguem encher mais de meio estádio.
Este é o registo de um enorme desperdício de recursos. Ao invés do famoso dito do “futebolês” – prognósticos só no fim do jogo – custa a crer como não se antecipou o resultado final. Estádios com capacidade para 30000 espectadores, cidades de média dimensão, com 40000 a 100000 habitantes, e clubes de segunda linha, eram ingredientes de uma receita clara para o descalabro.
Os responsáveis? Governo, autarquias, partidos, clubes, enfim todos aqueles que alimentaram a ficção do desenvolvimento pelo futebol. Não consta que tenham reconhecido, publicamente, o disparate.
Tudo se dilui com o tempo, com a colectividade da decisão e com a mudança de cargos. Tudo, menos os efeitos negativos e os custos que continuarão a ter que ser pagos.

Estatísticas de espectadores disponíveis em http://www.lpfp.pt/ (site oficial da Liga Portuguesa de Futebol Profissional)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Soundbits

"Eu acho bem não haver uma sessão solene, acho que era dar uma péssima imagem da Madeira mostrar o bando de loucos que está dentro da Assembleia Legislativa." - Alberto João Jardim.

"São todos uns imbecis e eu sou o seu chefe." - General Nenpeuplus, em Astérix e os Godos.

domingo, 13 de abril de 2008

Regionalização

Modelos de descentralização ou de regionalização - a prática dos partidos:

PS - Sede Nacional: Largo do Rato, Lisboa.
PSD - Sede Nacional: R. de S. Caetano, Lisboa.
CDS - Sede Nacional: Largo Adelino Amaro da Costa, Lisboa.
PCP - Sede Nacional: R. Soeiro Pereira Gomes, Lisboa.
BE - Sede Nacional: Av. Almirante Reis, Lisboa.
Os Verdes - Sede Nacional: R. da Boavista, Lisboa.

Lisboa 6 - 0 Paisagem

domingo, 6 de abril de 2008

Peso político

Agora é a vez do TGV, como antes foi a do Novo Aeroporto de Lisboa, de estradas, pontes, capitais da cultura e tantos outros projectos. São considerados sinónimos do desenvolvimento do país, das regiões e das cidades (pena é que outros aspectos, mais reveladores da qualidade de vida, não tenham o mesmo estatuto).
Não admira, por isso, que suscitem a movimentação dos agentes políticos e económicos, tentando influenciar as decisões sobre tais projectos: uma estação de TGV só faz sentido em …, aqui a capital da cultura tem mais condições do que …, uma incineradora de resíduos ou um aterro bem longe de …. Cruzam-se interesses nacionais, regionais, locais e particulares. Promovem-se estudos técnicos com a esperança subjacente que legitimem posições já bem definidas a priori, seja com a ajuda da “incontestável verdade científica”, seja com o auxílio da inexistência de “consenso científico” sobre a matéria.
Decisões desta natureza são, necessariamente, políticas. Relacionam-se com o modelo de desenvolvimento que se pretende, e raramente se discute, para o país no seu conjunto. Têm um racional que vai para além da análise casuística, projecto a projecto, ministério a ministério, cidade a cidade.
A prevalecer, sistematicamente, a lógica baseada no número de pessoas a servir, nas economias de escala e no financiamento pelos utilizadores directos, podemos fechar o país, com excepção de Lisboa e Porto. E a União Europeia deveria optar por deixar partir as jangadas de pedra, em lugar de atribuir fundos de coesão.
O problema é que os protagonismos individuais e os interesses locais turvam, frequentemente, uma visão mais ampla. E aqui entra o factor “peso político”, assumido sem pudor no discurso dos partidos. O peso político não é mais do que a capacidade de influenciar as decisões, longe do escrutínio público, e frequentemente com a ajuda da cor certa no momento certo, e da posição detida numa determinada hierarquia. Disto se queixam os partidos quando a cor não é a certa. Do mesmo se vangloriam quando em sintonia.
O peso dos argumentos é substituído pelo argumento do peso. Não admira que a obesidade esteja a aumentar em Portugal o que, como se sabe, é sinónimo de menos saúde.

Publicado no Jornal Público, Cartas ao director, 12/04/08

segunda-feira, 24 de março de 2008

Universidades ontem e hoje

"Houve um tempo, quando cada magister leccionava independentemente e a designação universidade era desconhecida, em que as aulas e os debates eram mais numerosos e era maior o interesse pelas coisas do saber. Agora, pelo contrário, depois de vos haverdes reunido e formado uma universidade, as aulas e os debates tornaram-se menos frequentes; tudo é feito apressadamente, pouco se aprende e o tempo necessário ao estudo é deseperdiçado em encontros e reuniões. Enquanto os mais velhos debatem em reuniões e legalizam estatutos, os mais novos organizam conspirações infames e planeiam os seus ataques nocturnos."

Verger citado em Uma história da Universidade na Europa, Vol. I - As Universidades na Idade Média [pág. 14], coordenada por Walter Rüegg, e disponível em português em edição da Imprensa Nacional - Casa da Moeda.

Este texto não data dos dias de hoje: tem cerca de 800 anos! O seu autor, Philippus de Grevia, foi chanceler da Universidade de Paris de 1218 a 1236. Como a obra citada refere, não se tratava de um texto desinteressado, uma vez que Philippus representava os interesses da classe eclesiástica numa altura em que a universidade reduzia o direito, detido pela igreja, de supervisão dos estudos superiores.
Independentemente desse facto continua a merecer reflexão, em pleno séc. XXI, em tempo de ritmo acelerado (pelos vistos também já o era naquela época...), de processo de Bolonha, de elaboração de estatutos. Equilíbrio em terreno movediço - procura-se.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Os eleitos

Não se trata de uma referência ao filme do mesmo nome (The right stuff, no original), realizado por Philip Kaufman, e que tem por base a aventura espacial americana, nem, por associação, de um texto sobre as eleições nos EUA. Trata-se sim de uma referência directa aos que, entre nós, obtêm um mandato, através do voto, e ao que se sucede depois no mundo da política real.
Passaram pouco mais de três anos sobre as últimas eleições legislativas. A antecedê-las tivemos o habitual circo político-mediático: as lutas internas pela distribuição de lugares; a definição estratégica dos “cabeças de lista” pelos vários círculos eleitorais com o objectivo de atrair mais uns votos, recompensar fidelidades e assegurar posições; os vagos programas; os slogans; e o disparate da campanha propriamente dita, quase esgotada depois do estranho conceito de “pré-campanha” que é uma campanha-mas-sem-o-ser-porque-ainda-não-o-pode-ser, assim à moda das baixas de preços e dos saldos.
E afinal, quem elegemos nós para trabalhar na Assembleia da República (AR), para debater políticas, para fiscalizar o governo, para legislar, para tomar um sem número de decisões que a todos importam e afectam? Eis o que resulta de uma comparação entre os resultados das eleições legislativas [1] e a actual composição das bancadas parlamentares [2]:
  • mais de 60 dos 230 eleitos já não se encontram na AR, ou seja, aproximadamente 1 em cada 4 (!) não cumpre o mandato para que foi eleito;
  • ainda pior, um terço (!!) dos cabeças de lista eleitos, os tais que protagonizam campanhas em que prometem defender intransigentemente os interesses dos seus eleitores, não estão na AR;
  • é mesmo possível encontrar um círculo em que nenhum dos eleitos se encontra em funções na AR, como é o caso de Castelo Branco.
Dirão que alguns exercem funções governativas ou outros cargos públicos de relevo. É verdade. Mas tal não é mais do que um sinal de quão reduzida é a esfera do poder político-partidário. Uma outra nota no mesmo sentido:
  • cerca de 30% dos deputados portugueses eleitos para o Parlamento Europeu, em 2004 [3], tinham já sido eleitos deputados para a AR em 2002 [4] onde, por conseguinte, não concluíram o mandato.

Este é um retrato de políticos em trânsito, a que poderemos juntar ainda um primeiro-ministro, Durão Barroso, que deixou a política de um pequeno canto da Europa pelo centro da política europeia.

Da próxima vez que vos pedirem o voto (e é que é já a seguir...) exijam uma cláusula de indemnização, a accionar em caso de denúncia unilateral do contrato!

Fontes consultadas:
[1] Comissão Nacional de Eleições, Relação dos deputados eleitos e mapa oficial das eleições para a Assembleia da República realizadas em 20 de Fevereiro de 2005.
[2] Lista de deputados por círculo eleitoral, disponível em
www.parlamento.pt, consultada a 13/03/2008.
[3] Comissão Nacional de Eleições, Mapa oficial n.º 1/2004 – Eleições para o Parlamento Europeu realizadas em 13 de Junho de 2004.
[4] Comissão Nacional de Eleições, Relação dos deputados eleitos das eleições para a Assembleia da República realizadas em 17 de Março de 2002.
Os documentos da Comissão Nacional de Eleições estão disponíveis em
www.cne.pt.


sábado, 8 de março de 2008

Soundbits

"A resposta não a quero dar, porque se a desse tinha de dizer que sim." - Ângelo Correia.
Ouvi na Antena 1.

segunda-feira, 3 de março de 2008

A propósito de formação, emprego e facilitismo

Recomendo vivamente a leitura do conto "Profissão", da autoria de Isaac Asimov, e integrado, por exemplo, na colectânea Nove Amanhãs. Uma soberba alegoria, escrita na década de 50, onde se pode encontrar a aprendizagem instantânea, sem esforço, à medida de uma profissão e passaporte essencial para o emprego; a desactualização do conhecimento adquirido; a competição pelos melhores empregos; e os pobres de espírito que não aprendem instantaneamente, como as pessoas normais, mas através do estranho e obsoleto processo de estudar, reflectir e fazer.
Afinal é sempre preciso quem crie, de forma continuada, o conhecimento e os instrumentos necessários à "aprendizagem instantânea"! A ler e reler por alunos, professores e não só.

Sobre a forma de noticiar: um final alternativo.

Escutei, há dias, um trabalho radiofónico da TSF sobre uma intervenção no Parlamento da nova Ministra da Saúde. Apresentado o conteúdo geral do debate a peça terminava realçando a incapacidade da Ministra em captar a atenção dos deputados, apontando como prova o burburinho que se manteve durante toda a intervenção. Ocorreu-me uma forma alternativa de terminar peça: uma nota sobre a falta de educação dos mesmíssimos deputados.
Uma pequena frase, no momento e no tom certo, tem poder suficiente para criar uma imagem que perdura.