quarta-feira, 29 de abril de 2015

Ser diferente

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"A única salvação do que é diferente é ser diferente até ao fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas - batalhas para os outros, não para ele, que as percebe - há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos."

Agostinho da Silva, Diário de Alcestes.

domingo, 26 de abril de 2015

Ser apenas meio

Há realidades a preto e branco, poucas talvez, mas em que há uma fronteira com dois lados. Há realidades em tons de cinza, com matizes, subtilezas. Há os que são definidos pela positiva e os que são definidos pela negativa, ou por várias negativas. Para Thomas Friedman há um mundo que se torna mais plano, como resultado do fim da guerra fria, da tecnologia, de pessoas preparadas para a usar, de mudanças nas organizações que o permitem e promovem. Um mundo mais ligado em que a geografia conta menos. Que permite que este texto seja já acessível a milhões de pessoas; ou que uma fotografia seja partilhada em grupo, antes mesmo de ser vista pela pessoa que está ao lado. Que permite reorganizar processos através do globo, dando novas oportunidades a uns, tirando oportunidades a outros. Em que a mudança já aconteceu, ainda que nem todos a tenham ainda compreendido. Mas em que nem todos vivem. Mas em que muitos ficam do lado de fora.

"Não existe apenas o mundo plano e o mundo não-plano. Muitos vivem numa espécie de quinta dimensão situada entre ambos. Neste grupo incluem-se aqueles a quem identifico como os que não têm poder. São um vasto grupo de pessoas que não entraram completamente no mundo plano. Ao contrário dos que estão demasiado doentes, que ainda têm uma hipótese de entrar no mundo plano, os que não têm poder são aquelas que podemos dizer que estão num mundo "meio-plano". São pessoas saudáveis que vivem em países com zonas que já estão no mundo plano, mas que não dispõem das ferramentas, das competências ou das infra-estruturas necessárias para participarem, de forma significativa ou sustentada, no processo. Apenas dispõem de informação suficiente para saberem que o mundo em torno delas está a ficar plano e que elas não estão a recolher qualquer vantagem disso. Ser plano é positivo mas implica muita pressão. Não ser plano é terrível e implica muito sofrimento. Mas ser "meio plano" resulta numa situação muito especial de ansiedade."

T.L. Friedman (2005) "O mundo é plano. Uma história breve do século XXI".

sexta-feira, 24 de abril de 2015

24 de abril

24 de abril de 2015. É noite. Na minha sala Ray Charles canta Georgia on My Mind. Sons de 1960. Ainda não tinha nascido. Sons também de hoje. Escuto. Como se ele ainda estivesse aqui. E a luz fosse apenas meia. Por entre o fumo. Por entre a música. Salto no tempo. 24 de abril, 25 de abril, amanhã, ontem, há 41 anos, 1974. Memórias de uma revolução. Liberdade. Democracia. O tempo não pára. Recuo. 1945. Fim da guerra que não acabou com o mundo. Animais na Quinta que é deles. Animais de George Orwell. Pessoas. "Eram sempre os porcos que formulavam as moções. Os restantes animais percebiam como é que se votava, mas nunca conseguiam formular as suas próprias propostas.". O pêndulo oscila. 2015. Ano de eleições. Ano de votações. Democracia não são apenas eleições. Democracia não é apenas votar. Hit the Road Jack.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Das tribos

"Yet, ironically, many staff members are far more loyal to the university than students or faculty. In one sense this is because they are more permanent than students and faculty. Students are essentially tourists, spending only a few short years on the campus, and seeing relatively little of its myriads activities. Similarly, many faculty members view their appointments in the university as simply another step up the academic ladder. Their presence at and loyalty to the institution is limited, usually outweighted by their loyalty to their disciplines and their careers. In contrast many staff members spend their entire career at the same university, although may assume a variety of roles. As a result, they not only exhibit a greater institutional loyalty than faculty or students, but they also sustain the continuity, the corporate memory, and the momentum of the university. Ironically, they also sometimes develop a far broader view of the university, its array of activities, and even its history, than do the relative short-timers among the faculty and students."

James Duderstadt (2000), A University for the 21st century.