segunda-feira, 24 de março de 2008

Universidades ontem e hoje

"Houve um tempo, quando cada magister leccionava independentemente e a designação universidade era desconhecida, em que as aulas e os debates eram mais numerosos e era maior o interesse pelas coisas do saber. Agora, pelo contrário, depois de vos haverdes reunido e formado uma universidade, as aulas e os debates tornaram-se menos frequentes; tudo é feito apressadamente, pouco se aprende e o tempo necessário ao estudo é deseperdiçado em encontros e reuniões. Enquanto os mais velhos debatem em reuniões e legalizam estatutos, os mais novos organizam conspirações infames e planeiam os seus ataques nocturnos."

Verger citado em Uma história da Universidade na Europa, Vol. I - As Universidades na Idade Média [pág. 14], coordenada por Walter Rüegg, e disponível em português em edição da Imprensa Nacional - Casa da Moeda.

Este texto não data dos dias de hoje: tem cerca de 800 anos! O seu autor, Philippus de Grevia, foi chanceler da Universidade de Paris de 1218 a 1236. Como a obra citada refere, não se tratava de um texto desinteressado, uma vez que Philippus representava os interesses da classe eclesiástica numa altura em que a universidade reduzia o direito, detido pela igreja, de supervisão dos estudos superiores.
Independentemente desse facto continua a merecer reflexão, em pleno séc. XXI, em tempo de ritmo acelerado (pelos vistos também já o era naquela época...), de processo de Bolonha, de elaboração de estatutos. Equilíbrio em terreno movediço - procura-se.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Os eleitos

Não se trata de uma referência ao filme do mesmo nome (The right stuff, no original), realizado por Philip Kaufman, e que tem por base a aventura espacial americana, nem, por associação, de um texto sobre as eleições nos EUA. Trata-se sim de uma referência directa aos que, entre nós, obtêm um mandato, através do voto, e ao que se sucede depois no mundo da política real.
Passaram pouco mais de três anos sobre as últimas eleições legislativas. A antecedê-las tivemos o habitual circo político-mediático: as lutas internas pela distribuição de lugares; a definição estratégica dos “cabeças de lista” pelos vários círculos eleitorais com o objectivo de atrair mais uns votos, recompensar fidelidades e assegurar posições; os vagos programas; os slogans; e o disparate da campanha propriamente dita, quase esgotada depois do estranho conceito de “pré-campanha” que é uma campanha-mas-sem-o-ser-porque-ainda-não-o-pode-ser, assim à moda das baixas de preços e dos saldos.
E afinal, quem elegemos nós para trabalhar na Assembleia da República (AR), para debater políticas, para fiscalizar o governo, para legislar, para tomar um sem número de decisões que a todos importam e afectam? Eis o que resulta de uma comparação entre os resultados das eleições legislativas [1] e a actual composição das bancadas parlamentares [2]:
  • mais de 60 dos 230 eleitos já não se encontram na AR, ou seja, aproximadamente 1 em cada 4 (!) não cumpre o mandato para que foi eleito;
  • ainda pior, um terço (!!) dos cabeças de lista eleitos, os tais que protagonizam campanhas em que prometem defender intransigentemente os interesses dos seus eleitores, não estão na AR;
  • é mesmo possível encontrar um círculo em que nenhum dos eleitos se encontra em funções na AR, como é o caso de Castelo Branco.
Dirão que alguns exercem funções governativas ou outros cargos públicos de relevo. É verdade. Mas tal não é mais do que um sinal de quão reduzida é a esfera do poder político-partidário. Uma outra nota no mesmo sentido:
  • cerca de 30% dos deputados portugueses eleitos para o Parlamento Europeu, em 2004 [3], tinham já sido eleitos deputados para a AR em 2002 [4] onde, por conseguinte, não concluíram o mandato.

Este é um retrato de políticos em trânsito, a que poderemos juntar ainda um primeiro-ministro, Durão Barroso, que deixou a política de um pequeno canto da Europa pelo centro da política europeia.

Da próxima vez que vos pedirem o voto (e é que é já a seguir...) exijam uma cláusula de indemnização, a accionar em caso de denúncia unilateral do contrato!

Fontes consultadas:
[1] Comissão Nacional de Eleições, Relação dos deputados eleitos e mapa oficial das eleições para a Assembleia da República realizadas em 20 de Fevereiro de 2005.
[2] Lista de deputados por círculo eleitoral, disponível em
www.parlamento.pt, consultada a 13/03/2008.
[3] Comissão Nacional de Eleições, Mapa oficial n.º 1/2004 – Eleições para o Parlamento Europeu realizadas em 13 de Junho de 2004.
[4] Comissão Nacional de Eleições, Relação dos deputados eleitos das eleições para a Assembleia da República realizadas em 17 de Março de 2002.
Os documentos da Comissão Nacional de Eleições estão disponíveis em
www.cne.pt.


sábado, 8 de março de 2008

Soundbits

"A resposta não a quero dar, porque se a desse tinha de dizer que sim." - Ângelo Correia.
Ouvi na Antena 1.

segunda-feira, 3 de março de 2008

A propósito de formação, emprego e facilitismo

Recomendo vivamente a leitura do conto "Profissão", da autoria de Isaac Asimov, e integrado, por exemplo, na colectânea Nove Amanhãs. Uma soberba alegoria, escrita na década de 50, onde se pode encontrar a aprendizagem instantânea, sem esforço, à medida de uma profissão e passaporte essencial para o emprego; a desactualização do conhecimento adquirido; a competição pelos melhores empregos; e os pobres de espírito que não aprendem instantaneamente, como as pessoas normais, mas através do estranho e obsoleto processo de estudar, reflectir e fazer.
Afinal é sempre preciso quem crie, de forma continuada, o conhecimento e os instrumentos necessários à "aprendizagem instantânea"! A ler e reler por alunos, professores e não só.

Sobre a forma de noticiar: um final alternativo.

Escutei, há dias, um trabalho radiofónico da TSF sobre uma intervenção no Parlamento da nova Ministra da Saúde. Apresentado o conteúdo geral do debate a peça terminava realçando a incapacidade da Ministra em captar a atenção dos deputados, apontando como prova o burburinho que se manteve durante toda a intervenção. Ocorreu-me uma forma alternativa de terminar peça: uma nota sobre a falta de educação dos mesmíssimos deputados.
Uma pequena frase, no momento e no tom certo, tem poder suficiente para criar uma imagem que perdura.