segunda-feira, 28 de maio de 2012

1 000 000 000

Mil milhões de euros é o valor de uma linha de apoio que permitirá às autarquias pagar, apenas, as dívidas de curto prazo.

Mil milhões de euros é o montante do Orçamento de Estado que será transferido, durante todo o ano de 2012, para os estabelecimentos de ensino superior e serviços de apoio.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Cidadãos do mundo

"With the world becoming a single village, a global family, we now have a core responsibility to be good global citizens, to watch out for each other, to be sensitive to how our actions affect one another - no matter where we live. We need to shed the habits of the past that trapped us in our own mental backyard, or shackled us to the posts of provincialism."
...
"The second lesson: always stood up for your values, your principles, your ideals. When I first interviewed at a law firm, I was told that I would never make partner. When I asked why, they told me it was because I was a woman. So I thanked them, walked out the door, and never looked back. Tough luck, they did not deserve me! Whatever you choose to do in life, let it be infused with a spirit of civic virtue. Make sure that your personal destiny overlaps with the common destiny of humanity. Strive for the common good of all."

Dois pequenos extratos da versão escrita do discurso de Christine Lagarde, diretora do FMI, na Kennedy School. Para ler ou ver em: http://www.imf.org/external/np/speeches/2012/052312.htm.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Nas nuvens

Ouvi hoje o Primeiro-Ministro a falar sobre o desemprego, e julguei estar a rever o filme Nas nuvens, em que George Clooney representa o papel do despedidor, daquele que, não decidindo, anuncia uma interrupção brusca na vida de outros.

Eis o que disse Pedro Passos Coelho: "Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se, ou ser despedido, não tem que ser um estigma. Tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida. Tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade.".

Ouvi; abanei a cabeça e ouvi novamente; ouvi uma terceira vez e transcrevi com cuidado.

Este é o Primeiro-Ministro de um País que, no fim de 2011, já tinha mais de 600 mil desempregados, dos quais mais de metade o estavam há mais de um ano, e 130 mil tinham menos de 25 anos. Este é o Primeiro-Ministro de um País em que o desemprego continua a aumentar, em que as previsões são sempre revistas em alta e em que o Ministro das Finanças revelou, há dias, que esta evolução é diferente daquilo que a experiência histórica permitia antecipar. Este é o Primeiro-Ministro que, apesar de já não existir crescimento significativo há mais de uma década e o poder de compra das pessoas estar em queda livre, acredita cegamente que basta querer ser empreendedor para mudar de vida.

Não, Sr. Primeiro-Ministro. Ser despedido não representa uma livre escolha. Ser despedido, na atual conjuntura, não representa uma oportunidade de mudar de vida; representa uma mudança obrigatória, para pior. Ser despedido, com estes níveis de desemprego, não representa uma mobilidade da própria sociedade; põe em causa a sociedade, pelo menos tal como a conhecemos.

Sr. Primeiro-Ministro, ser despedido em Portugal, em 2012, só tem um sinal, e é muito negativo.

Publicado (em versão reduzida) no Jornal Público, Cartas à Diretora, em 15/05/2012

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Compressão

O documento de estratégia orçamental 2012-2016, elaborado pelo Ministério das Finanças, contém o quadro de programação orçamental para os próximos anos, indicando limites de despesa por programas e grupos de programas.

É assim que ficamos a saber, desde já, que os limites de despesa, vinculativos, dos programas da área social (saúde, ensino básico e secundário,  ciência e ensino superior, solidariedade e segurança social), serão reduzidos em 3,5% em 2013, e em 1,8% no ano seguinte. E que a despesa com Ciência e Ensino Superior será reduzida em 2,5% em 2013, passando de 1.238 para 1.208 milhões de euros.

Falta ver como será concretizada a compressão. 

sábado, 5 de maio de 2012

Um trekking de alta montanha

Mais umas "Notas sobre o ensino superior", no Click, Antena 1:
(http://www.rtp.pt/programa/radio/p3053/c80502)

A linguagem utilizada para falar do ensino superior, como aliás de outras áreas de serviço público, é agora dominada por termos que nos chegam da economia e da actividade privada. Gestão por objetivos, certificação de qualidade, exportação de serviços, quota de mercado, segmentação de públicos, concorrência, alianças estratégicas, fusões e aquisições, captação de investimentos. Estes exemplos revelam, não só a dimensão económica do ensino superior, mas também um modo próprio de pensar o ensino e as suas instituições.

Não admira, por isso, que haja quem olhe para os alunos como clientes num mercado de ensino superior. Clientes que pelas suas escolhas condicionam a oferta. Clientes que pagam um serviço de formação. Clientes que é preciso atrair, satisfazer e fidelizar a uma marca, a uma universidade. Esta é uma visão que tende a acentuar os direitos de uma parte, a dos estudantes-clientes, e os deveres da outra, a das instituições-fornecedoras.

Só que o ensino não é igual a outros serviços. As capacidades que se desenvolvem não são adquiridas através de uma simples transacção, não se podem experimentar antes, não se trocam nem se devolvem, e não se vêm. Resultam do trabalho conjunto entre cliente e fornecedor.

Por isso gosto mais da imagem do ensino superior como desporto-aventura, como um trekking em alta montanha. É uma atividade que requer guias experimentados, com conhecimento e prática; em que são precisos carregadores, uma infra-estrutura adequada e uma logística bem planeada. Haverá experiências diferentes à escolha e programas com distintos graus de dificuldade; é necessário preparação prévia. E nem todas as instituições, nem todos os guias, estão habilitados a oferecer os mesmos pacotes.

Mas no final o caminho é feito pelo cliente: foi ele que escolheu o programa e é ele que anda, que escala, que cai e se levanta, que enfrenta o sol, o vento e a neve. É orientado e auxiliado, mas não transportado. Minimizam-se os riscos, mas não se anulam. O percurso deve ser desafiante e exigente, para que proporcione algo de novo.

O que cada um traz da viagem é, sobretudo, o que descobriu, o que viveu, o que aprendeu sobre si próprio e sobre os outros. Enfim, tudo aquilo que passou a ser parte de si mesmo e que poderá utilizar noutros percursos, ao longo da vida.

A arte da guerra

Um dos princípios formulados por Sun Tzu, no seu tratado sobre a guerra, fala da importância do fator surpresa: "Ataca-o onde ele não está preparado, aparece onde não és esperado.". Esta parece ter sido uma das chaves da campanha do Pingo Doce para o dia 1 de maio; e a surpresa gerada explicará também muitas das reações que se registaram no próprio dia, a quente, e nos dias seguintes, a morno.

Foi uma ação inesperada para os clientes, habituais ou não, que gerou um sentimento de oportunidade única. Foi uma ação inesperada para os sindicatos que a interpretaram como uma concorrência às manifestações e se sentiram como o inimigo. Foi uma surpresa para a comunicação social que procurou as imagens mais fortes, não cuidando de saber se são as mais representativas. Foi uma surpresa para os políticos que tentaram incorporar este objeto estranho, e esta sociedade que de um modo geral lhes passa ao lado, nas suas guerrilhas. Foi uma surpresa para a concorrência do ramo, essa sim o "inimigo" real desta guerra.

Sim, porque campanhas com descontos iguais ou superiores a 50% ocorrem todos os anos, e até várias vezes por ano, sem controvérsia especial: saldos, baixas e rebaixas, promoções de produtos, estreias e lançamentos. Pague 1, leve 2. Com cartão ganha a dobrar. Habilite-se a um sorteio que devolve a totalidade do que gastou. Devolvemos o IVA, o imposto automóvel e qualquer dia o IMI. Só que estas campanhas, por terem entrado nos hábitos e se prolongarem no tempo, são previsíveis, podem ser geridas, não provocam sensação de urgência, de "agora ou nunca", de decisão quase instantânea.

Sim, porque esperar em longas filas para abastecer o carro a um preço mais baixo já não tem o mesmo impacto; ou acampar de véspera para conseguir bilhetes para um concerto; ou demorar horas em pára-arranca a caminho do Algarve,como sucede todos os Verões; ou tentar obter o último I-qualquer coisa; ou passar as mesmas horas em frente a um computador tentando uma pechincha num qualquer site de leilões, enquanto os nossos bytes e os dos outros se atropelam furiosamente na ânsia de chegar às prateleiras e às caixas.

Mas ao fator surpresa junta-se um outro, que não deve ser menorizado nestes tempos de quebra de poder de compra e de qualidade de vida: o facto de alguns - sublinho: alguns - dos produtos em causa serem alimentos e outros bens de consumo corrente. E é aqui que esta promoção se distingue das outras, porque sendo transversal, em lojas com grande variedade de produtos, permitiu a mistura de situações de necessidade real, de muitas pessoas, que tentaram apenas conquistar o direito a um mês menos duro, com situações de mera e legítima oportunidade de outros, na procura de produtos diversos a melhores preços, ainda que perfeitamente supérfluos.

A falta de informação séria sobre o que se passou neste dia 1 permite agitar hipóteses para todos os gostos, o que é normalmente feito como suporte às convicções de cada um: um país em estado de necessidade; um povo consumista; a vitória traiçoeira do grande capital; a quebra de influência dos sindicatos; uma brilhante estratégia de marketing; um serviço aos clientes; uma deficiente regulamentação; o funcionamento do mercado.

A realidade é mais complexa.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Press "Pause"

Press "Pause". Tempo e memória; o que se esquece e o que fica gravado. A vertigem dos ritmos de hoje. As modas que, por o serem, não perduram e são incessantemente susbstituídas; estar na moda, estar fora de moda. O vazio gerado pela busca incessante de algo de novo, anulando o significado do ontem e do hoje, rementendo a vida em suspenso para um hipotético amanhã. O ruído de que nos rodeamos; sons que impedem de ver claro e que nos mantêm na corrente. Continue.

"O mais importante é que perdemos a ideia de qualidade. A qualidade de viver. Como é que se reconhece essa qualidade? É aquilo que permanece. A melhor relação de amizade é a que permanece para a vida. A melhor qualidade de um objeto de mobiliário é a sua capacidade de permanecer para lá do tempo. É o que fica. Criámos uma sociedade em que perdemos a noção de qualidade e de permanência. Tudo tem de mudar permanentemente. Quando estamos intoxicados pela ideia de que o novo é, por definição, melhor, perdemos tudo. Com esta perda de qualidade, criámos um gigantesco vazio. E este vazio, a única maneira de lidar com ele é ir à procura de barulho, de coisas. Mas não é sustentável." 
Rob Riemen em entrevista, no Expresso de 29 de abril.