terça-feira, 29 de junho de 2010

A atracção dos rankings

Criticados por uns, sobrevalorizados por outros, os rankings são impossíveis de ignorar e têm mesmo vindo a ganhar importância nas políticas, nas estratégias e na comunicação. É também o caso do Ensino Superior, em especial através dos rankings mundiais de Universidades, como ilustram as seguintes afirmações:

O actual reitor tem como propósito guindar a UP às cem melhores universidades do mundo até 2020. Marques dos Santos acredita que, em 2011, a UP estará nas cem melhores da Europa, encontrando-se actualmente quase a entrar nesse ranking. “Há quase quatro anos nem sequer aparecíamos nos rankings.” Jornal de Notícias, 20/05/2010.

According to Janez Potocnik, former European Commissioner for science and research, world university rankings are now used by politicians “as a measurement of their nation's economic strength and aspiration”, Times Higher Education, 15/04/2010.

Outra das metas é entrar nos ‘rankings’ internacionais. Para o reitor da UTL o objectivo é levar a universidade à lista das 200 melhores do mundo no ranking de Xangai, até ao final do seu mandato, Diário Económico, 16/12/2008.

In the Academic Ranking of World Universities (ARWU) by Shanghai Jiao Tong University, two Dutch research universities are among the top 100 universities of the world…, Association of Universities in the Netherlands.

O que torna estas classificações tão atraentes? Acima de tudo, o facto de gostarmos de coisas simples, de mensagens de compreensão imediata, … e de saber quem é o melhor!

Os rankings transformam a realidade complexa das universidades com múltiplas estruturas, uma variedade de programas de formação, investigação em diferentes domínios, actividades culturais e parcerias diversas, num simples número, ordenado numa escala. Isto propicia uma leitura acessível a todos os interessados - estudantes, famílias, financiadores, parceiros, estado, membros das instituições, público em geral.

Todos preferem beneficiar da aura de um ligar cimeiro numa tabela, e afirmar que estão entre os 10 melhores-de-qualquer-coisa, do que lidar com a penumbra conferida por uma posição secundária. Neste novo universo existem líderes e os outros. É esta facilidade de comunicação que confere poder aos rankings, construindo e novas imagens sobre a realidade. Imagens que perduram e que vão, elas próprias, tornando-se parte da realidade.

O seu poder é ainda ampliado pela emergência de uma verdadeira competição entre instituições e países, assente na mobilidade de estudantes, pessoal e capital, e no desejo de atrair cada vez mais e melhores recursos, ou no dizer de Winston, uma verdadeira corrida ao armamento:

Competition for excellence creates a positional arms race - a college's access to those good students and the educational excellence they bring depends on its appeal relative to other institution. [Winston, G. (2001). Is Princeton Acting Like a Church or a Car Dealer? Chronicle of Higher Education, 47(24)].

De instrumentos politicamente incorrectos, simplificando ao limite a complexidade das universidades, os rankings estão a caminho de ganhar o estatuto de medida oficial de excelência. É esta a diferença, marcante, trazida pelo discurso de políticos e responsáveis institucionais, e que contradiz a defesa da diversidade das instituições, que os mesmos tantas vezes apregoam.

Continua.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Da superfície

"For, like it or loathe it, we cannot ignore the fact we operate in a radically different political and social world from our forebears: one which seemingly celebrates fame over originality, 'image' over 'reality', style over substance, soundbite over reason and 'spin' over news story."

P. McCaffery (2004) "The Higher Education Manager's Handbook".

Verdade muitas vezes constatada. Mas este mundo em que "operamos" não é apenas uma realidade externa, à qual temos que nos adaptar. É uma realidade construída, todos os dias, e é assim uma realidade susceptível de ser alterada. Depende de cada um de nós.