domingo, 29 de janeiro de 2012

Mission overload

Fazer escolhas: escolher para evitar a sobrecarga; escolher para diferenciar.

We have argued that the number and variety of external interests with which the higher education institutions deal with, seek support from, and, ultimately, rely upon has literally exploded. This produces the risk of running into problems of 'mission overload'; that universities 'try to be all things to all people'. To fulfil their obligation towards being a socially accountable institution producing public goods therefore urges the universities to carefully select their stakeholders and identify the 'right' degree of differentiation.

B. Jongbloed, J. Enders e C. Salerno (2008) Higher education and its communities: interconnections, interdependencies and a research agenda, Higher Education, 56, 303-324.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Há Universidades a mais?

Tema abordado na edição de 21 de janeiro do programa Click, emitido na Antena 1.
Áudio disponível em: http://tv2.rtp.pt/multimediahtml/audio/click/2012-01-21/105673.

Há Universidades a mais em Portugal? Não sei. Mas a ideia de reduzir o número de universidades, politécnicos e escolas começa a fazer caminho pela voz de reitores, políticos, economistas, comentadores. O Ministro da Educação e Ciência afirmou mesmo que quinze universidades – e com isto apenas se refere às públicas – lhe pareciam demais.

Um dos argumentos invocados é a relação entre o número de instituições e a população do país. É verdade que, em proporção, a Alemanha e o Reino-Unido têm muito menos instituições. Mas não é menos verdade que o nosso rácio é pouco superior ao dos Estados Unidos. E que a Finlândia, até há bem pouco apresentada como exemplo a seguir, tem mais instituições públicas que Portugal para apenas metade da população.

Um outro argumento a favor da concentração das instituições é que tal promoverá a subida nos rankings internacionais. Sem discutir aqui o que está por trás de um ranking, nem a bondade de tal objectivo, basta analisar o top 10 do Times Higher Education para concluir que “grande” não significa “melhor”: Caltech, Oxford, Cambridge, Harvard, têm menos alunos que as maiores universidades nacionais.

Um sistema de ensino não se traduz nuns quantos números, nem é composto apenas por instituições de elite; e também não devemos alimentar a ilusão de que é possível copiar apenas uma parte, ignorando o restante: a formação básica e secundária, o sistema de acesso, o modelo de ensino, a autonomia, o financiamento, as dinâmicas regionais, a cultura.

Portugal, apesar dos progressos efetuados, continua com um atraso significativo em termos de qualificação: 23% dos portugueses com uma idade entre 30 e 34 anos têm formação superior; a média europeia está 10 pontos percentuais acima. É preciso reduzir esta diferença para oferecer melhores oportunidades às pessoas e ao País.

Por isso não fiquemos apenas a olhar para a superfície das coisas. Recentremos a discussão no que realmente importa: Qual o papel do ensino superior público? E do privado? Do universitário e do politécnico? Que diversidade institucional? Com que autonomia? Com que recursos? Em nome de que modelo de desenvolvimento territorial?

Façamos um debate informado e sério.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Acima das possibilidades

O Presidente da República resolveu falar do valor da reforma do cidadão Aníbal Cavaco Silva, como no passado já o havia feito em relação à cidadã Maria Cavaco Silva.

Lembrou-nos que não pode acumular o vencimento correspondente às funções que exerce com duas reformas a que tem direito: como professor universitário e como trabalhador do Banco de Portugal. Foi pena não nos ter dito que achava bem tal impedimento!

Lamentou-se do valor da primeira reforma, a menor, e que é de 1300 euros; sim, Sr. Presidente, ouvimos bem: 1300 euros. Pareceu achar pouco. Não sei se lê jornais mas Manuela Ferreira Leite escreveu, em novembro, "É profundamente errado que se crie na opinião pública o sentimento de que os reformados recebem as suas pensões a título de generosidade por parte da sociedade. Como se as pensões lhes fossem atribuídas pelo Estado! Como se vivessem à custa do Estado e dos impostos dos cidadãos! O sistema de reformas resulta de quadros legais, ao abrigo dos quais os trabalhadores ao longo da vida contribuíram mensalmente (...)".

Mas talvez o Presidente estivesse apenas a criticar o governo, a troika, as medidas de austeridade, e a alteração de regras, que colocam em causa compromissos, frustram expetativas e goram planos de vida. Se essa era a intenção então perdeu uma oportunidade e não fez justiça à fama de rigor extremo no uso da palavra.

E mesmo ignorando o valor da segunda pensão que lhe é devida, o Presidente, como é seu apanágio, tem poucas dúvidas: o montante total não será suficiente para pagar as despesas.

À imagem do País, o Presidente vive acima das suas possibilidades.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A importância de perceber

"A fraqueza de uma percepção global leva ao enfraquecimento do sentimento de responsabilidade, cada um tende a ser responsável apenas pela sua tarefa, e isso leva ao enfraquecimento da solidariedade (...)"

Edgar Morin citado em "Liderança - as lições de Mourinho" (2007), L. Lourenço e F. Ilharco.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Mau trabalho

O Ministério da Educação e Ciência divulgou, no seu novo sítio, a seguinte nota:

Propina máxima mantém valor
O Ministério da Educação e Ciência esclarece que nem o Governo nem as instituições de ensino superior aumentaram o valor da propina máxima do ensino superior público para o próximo ano letivo.
A alteração anual do valor dessa propina máxima resulta da simples aplicação do índice de preços no consumidor do Instituto Nacional de Estatística, conforme a Lei de Bases do Financiamento do Ensino Superior de 2003.

Esta nota foi divulgada no mesmo dia em que órgãos de comunicação, como o Diário Económico, noticiaram o aumento de 999,71 para 1036,6 euros.

Exercício: analise o texto inicial identificando o que é verdadeiro, o que é falso e o que é omisso; justifique.

1. O título é falso: a propina máxima não mantém o valor, como aliás se reconhece no último parágrafo do texto. Na realidade aumenta quase 37 euros.

2. É verdade que o aumento do valor da propina máxima não foi determinado pelo Governo nem pelas instituições de ensino superior. Nos termos da Lei referida esse valor não poderá ser superior ao que está fixado num Decreto-Lei que data de 1941 (!), atualizado para o ano civil anterior através do índice de preços no consumidor.

3. É omisso a que cursos se pode aplicar a propina máxima calculada de acordo com o processo descrito no ponto anterior. Aplica-se aos cursos de 1.º ciclo e de mestrado integrado.

4. É omisso quanto à competência das instituições de ensino superior na fixação das propinas. As instituições fixam as propinas entre um valor mínimo correspondente a 1,3 do salário mínimo nacional e o valor máximo já referido. Compete ao conselho geral das instituições fixar as propinas devidas pelos estudantes podendo assim cada instituição adotar, ou não, o valor máximo.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Números mágicos - Episódio 2: Fazer opinião

Quem gosta de magia aprecia não só os atos como, naturalmente, os mágicos. No episódio anterior trouxe aqui o número 1 universidade por 2 milhões de habitantes, através de uma entrevista ao Reitor da Universidade Técnica de Lisboa. Mas a leitura deixou-me uma sensação de déja vu e, por isso, decidi procurar a fonte, em busca do mágico original. Segui uma pista que me veio à memória e, graças à internet, encontrei rapidamente um vídeo que contém o que julgo ser a première em Portugal.

Eis aqui a minha transcrição, que se inicia ao minuto sete + 10 segundos:

[Voz 1] Há uma estatística que eu absorvi nos Estados Unidos, era que para suportar uma universidade considerava-se ... isto não sei se são estudos empíricos ou não, ou mesmo com uma base mais científica ...uma comunidade da ordem de mais de 2.000.000 de pessoas, isto feitos os cálculos naquele país de 300 e tal milhões.
[Voz 2] Muito bem...
[Voz 1] Nós temos 15 universidades. Se fossemos pelos números absolutamente brutos da nossa população não poderíamos ter mais de 5.
[Voz 2] Pois não, pois não.

Ficha técnica:
Data: 9 de dezembro de 2011
Programa: Jornal das 9
Canal: Sic Notícias
Voz 1: Mário Crespo, que nos trouxe o número.
Voz 2: António Cruz Serra, à data já eleito como Reitor da UTL.
Fonte: http://sicnoticias.sapo.pt/1053513
Apreciação: Não gostei !!
Recomendação: ver para crer.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Números mágicos

O Expresso, em entrevista ao recém-empossado Reitor da Universidade Técnica de Lisboa, António Cruz Serra, perguntou qual seria o número razoável de universidades para Portugal, face ao atual número de 15. O Reitor respondeu: "O número de habitantes por universidade deve rondar os dois milhões. Há as particularidades do desenvolvimento regional, das ilhas e a história. Mas é fácil fazer a conta."

Comecemos pelo enquadramento da pergunta: 15 universidades são as públicas; a rede nacional de ensino superior engloba também universidades privadas, localizadas essencialmente em Lisboa e Porto. E esta diferença não é uma mera questão de pormenor, num país em que 76% dos alunos estudam no ensino superior público, e em que 71% das instituições de ensino superior (universidades, institutos politécnicos, escolas) são privadas. É necessário, portanto, clarificar, qual o papel que se estabelece para o setor público.

Mas vamos à resposta. Apesar da minha formação em engenharia, ou talve por isso mesmo, tenho uma certa aversão a números mágicos, que são apresentados como verdades que dispensam justificação e que não dependem do contexto - uma universidade por cada 2.000.000 de habitantes. Aqui como em qualquer outro continente; em países com mais ou menos desenvolvimento; com mais ou menos qualificação; com mais ou menos recursos!

A ser assim Portugal devia ter 5 universidades. Os EUA teriam cerca de 150; mas, de acordo com a Carnegie Classification, têm 300 de entre apenas as que são classificadas como "research universities" e "doctoral universities"; e que existem em conjunto com todas as outras instituições de ensino superior, muito diversas, que formam um ecossistema com 4634 instituições, ou seja, uma por 67.000 habitantes (em Portugal temos 1 por 77.000). Podemos também olhar para outros casos, apontados como exemplos em termos de formação e inovação: a Finlândia que, por aquela métrica, deveria ter 2 ou 3 universidades tem 16. Singapura devia ter 2 e tem 4.

Voltemo-nos para outros números: em 2010/2011 estavam inscritos 250.000 alunos nas universidades portuguesas; ora isto daria 50.000 alunos para cada uma das 5 "novas" universidades. Dimensão que é muito superior à de várias das mais prestigiadas universidades do mundo.

Muitas outras questões poderiam ser trazidas a este propósito: a qualidade, as instalações, os recursos, o processo de transformação. Mas a discussão está a ser invertida: o número e localização das instituições deveria ser instrumental, uma forma de atingir objetivos, e não "o" objetivo posto em cima da mesa.