Grécia. Europa. União Europeia. Euro. Zona. Zonas. Governos. Ministros. FMI. Banco Central. Bancos Centrais, Bancos. Milhões. Pessoas. Milhões de pessoas. Um futuro por construir. Construir. Destruir. Uns e os outros. Nós.
Não sei o que realmente se discute naquelas reuniões de 30 pessoas, muitas das quais duraram, apenas, uma hora. Reuniões que se repetem, e que alternam com telefonemas e outras reuniões, mais restritas, diariamente. Que começam e acabam subitamente. Que são sempre muito importantes, decisivas, e a última oportunidade.Os discursos revelados não traduzem, necessariamente, as negociações. Os comunicados e as declarações para a imprensa são escolhas criteriosas para influenciar o processo, para reforçar posições, para abrir ou fechar portas, para consumo interno.
Não sei se, no geral, são todos contra um, exceto na assinatura do último comunicado.
Agora um referendo. Expoente da democracia ou expediente tático?
Tsipras foi eleito democraticamente há cinco meses, com um programa de mudança, com linhas vermelhas definidas. A democracia representativa conferiu-lhe a missão de liderar o País. Após cinco meses de negociações, e considerando que a atual proposta de acordo contraria o seu mandato, devolve a palavra ao Povo. Aconselhando, desde logo a rejeição da referida proposta.
Nenhum problema quanto a isso, mas muitas questões.
Achará Tsipras que os gregos mudaram de opinião nestes cinco meses, e as linhas vermelhas então aprovadas, devem passar, pelo menos, a linhas tracejadas? A ser assim não se trata apenas, ou principalmente, de um referendo à proposta de acordo, mas de uma moção de confiança ao Governo: continuar a prosseguir o programa com que foi eleito ou mudar de rumo; manter-se em funções ou sair.
Achará Tsipras que a composição do parlamento grego já não reflete a vontade dos gregos? Eleições por proporcionalidade e votações diretas não dão os mesmos resultados, assim como é diferente votar em pessoas ou fazer escolhas de sim e não. Mas admitindo que as opiniões expressas pelos diferentes partidos têm as suas bases de apoio, o referendo poderá não trazer nada de muito novo. Uma posição semelhante para Tsipras. E depois?
Votarão os gregos, massivamente, do lado de Tsipras? E isso trará outro peso para a mesa de negociações? Afinal, o Governo tem toda a legitimidade democrática, com ou sem referendo.
Votarão os gregos a favor do projeto de acordo? E, em coerência, caminharão para eleições antecipadas? Que podem dar sinais contrários.
Não poderia o referendo ter sido convocado uma semana antes, para este domingo? Porquê? Porque ainda havia esperança nas negociações? Para mostrar, como Tsipras sempre quis, que o calendário é o dos Chefes de Estado e não o dos pagamentos ao FMI? Apenas para ganhar tempo? Para preparar outros planos?
Entretanto, como diz Henrique Monteiro, parecemos andar distraídos de outros perigos que grassam no interior da Europa. Uma Europa em que se voltam a construir muros, como na Hungria. Uma Europa que ser rearma a leste.
domingo, 28 de junho de 2015
sábado, 6 de junho de 2015
Empregabilidade
Sobre empregabilidade, emprego e desemprego, no Click de hoje, Antena 1.
Empregabilidade é o termo do momento no ensino superior: está presente nas “Linhas de orientação estratégica”, do Governo, e no documento de trabalho lançado pelo Partido Socialista; em discursos vários, nas academias, nos jornais; parece ser um novo imperativo para toda e qualquer formação. De tanto uso, em tão pouco tempo, é um termo já gasto e que vai perdendo o seu significado real. Mais ainda porque, em simultâneo, os números que nos inundam são de emprego e de desemprego, o que são coisas distintas.
Ora empregabilidade é uma capacidade, não é um estado. É a capacidade para arranjar emprego, para se manter empregado, para evoluir e se adaptar, e não a situação de estar, num dado momento, com trabalho. Por isso, as respostas sobre a valia dos cursos superiores não se encontram nas estatísticas dos centros de emprego e formação profissional. Por isso, a solução cómoda de usar esses dados, os únicos recolhidos de forma consistente e em todo o território nacional, não serve. Por isso, são outras as perguntas que é preciso fazer, as que revelam alguns aspetos da relação entre a formação e o emprego, são outras.
Não basta pois saber se o diplomado transitou para o mercado de trabalho e se o conseguiu em um mês ou em um ano. É necessário saber, desde logo, se o trabalho em causa requer o nível de habilitação superior detido, licenciatura, mestrado ou doutoramento, ou se, ao invés, pode ser desempenhado por pessoas com menores habilitações. Este será o critério mínimo para aferir sobre a empregabilidade própria de um curso superior.
É preciso, depois, passar a um segundo nível de análise: o da correspondência entre a área de ocupação e a área de formação, tornando mais evidente se o conhecimento obtido é requerido para o emprego alcançado. Para o retrato ser mais fiel, deveremos aprofundar a análise: níveis remuneratórios alcançados; perspetivas de evolução; impacto de outras formações, académicas ou profissionais, obtidas ao longo da vida ativa; que empregadores existem; em que cidades, regiões ou países. Esta informação não existe ainda, de forma consistente e comparável, para todos os cursos nacionais. E levará, certamente, algum tempo até que tal aconteça.
Entretanto, o mundo muda, os empregos mudam, de natureza e até de lugar, e, assim, a capacidade para os obter, em 2020, não será igual à de 2015.
Por tudo isto, a escolha de um curso superior, bem como as estratégias das universidades e dos governos, não devem ficar reféns dos dados de desemprego, os quais têm um significado muito limitado, e são, apenas, um olhar sobre o que foi, não permitindo vislumbrar o que será.
Empregabilidade é o termo do momento no ensino superior: está presente nas “Linhas de orientação estratégica”, do Governo, e no documento de trabalho lançado pelo Partido Socialista; em discursos vários, nas academias, nos jornais; parece ser um novo imperativo para toda e qualquer formação. De tanto uso, em tão pouco tempo, é um termo já gasto e que vai perdendo o seu significado real. Mais ainda porque, em simultâneo, os números que nos inundam são de emprego e de desemprego, o que são coisas distintas.
Ora empregabilidade é uma capacidade, não é um estado. É a capacidade para arranjar emprego, para se manter empregado, para evoluir e se adaptar, e não a situação de estar, num dado momento, com trabalho. Por isso, as respostas sobre a valia dos cursos superiores não se encontram nas estatísticas dos centros de emprego e formação profissional. Por isso, a solução cómoda de usar esses dados, os únicos recolhidos de forma consistente e em todo o território nacional, não serve. Por isso, são outras as perguntas que é preciso fazer, as que revelam alguns aspetos da relação entre a formação e o emprego, são outras.
Não basta pois saber se o diplomado transitou para o mercado de trabalho e se o conseguiu em um mês ou em um ano. É necessário saber, desde logo, se o trabalho em causa requer o nível de habilitação superior detido, licenciatura, mestrado ou doutoramento, ou se, ao invés, pode ser desempenhado por pessoas com menores habilitações. Este será o critério mínimo para aferir sobre a empregabilidade própria de um curso superior.
É preciso, depois, passar a um segundo nível de análise: o da correspondência entre a área de ocupação e a área de formação, tornando mais evidente se o conhecimento obtido é requerido para o emprego alcançado. Para o retrato ser mais fiel, deveremos aprofundar a análise: níveis remuneratórios alcançados; perspetivas de evolução; impacto de outras formações, académicas ou profissionais, obtidas ao longo da vida ativa; que empregadores existem; em que cidades, regiões ou países. Esta informação não existe ainda, de forma consistente e comparável, para todos os cursos nacionais. E levará, certamente, algum tempo até que tal aconteça.
Entretanto, o mundo muda, os empregos mudam, de natureza e até de lugar, e, assim, a capacidade para os obter, em 2020, não será igual à de 2015.
Por tudo isto, a escolha de um curso superior, bem como as estratégias das universidades e dos governos, não devem ficar reféns dos dados de desemprego, os quais têm um significado muito limitado, e são, apenas, um olhar sobre o que foi, não permitindo vislumbrar o que será.
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