Leituras sobre a ideia de Universidade. Conceitos em confronto, em competição, ou em sobreposição. Modelo Intelectual. De Gestão. Consumista. Abordagens de acordo com um outor modo de encarar o ensino superior; muitas vezes sem suficiente reflexão; sem suficiente discussão. Faz falta entre nós: discutir a Universidade.
"We suggest that (...) higher education in the United Kingdom is currently a site of contestation between three distinct paradigms: the intellectual model, the managerial model and the consumerist model.
The intellectual model is the paradigm of academics (...). According to such a model, the university is not a business, nor is it a feeder to the marketplace, but is, rather a space of intellectual engagement, in which the chief values are the inherent value of knowledge, free and critical thinking, diversification and disciplinary integrity, and a passion for scholarship and research.
The managerial model is the paradigm of government and policymakers, funding and regulatory bodies, and in most cases university management. Its language is a language of performance indicators and league tables, quality assurance processes and their impact on the curriculum, the standardisation of practices and the rhetoric of employability, and continual restructuring.
The consumerist model is the paradigm of students and parents, employers, the media, and often also publishers. It articulates an obsession with the National Student Survey and the concept of ‘student satisfaction’. The rhetoric of employability and skills is found here as well, but in the form of a market-driven obsession with vocationalism. In the consumerist language, the most important indicator of quality is value for money, indicative of the process of commodification. The student-as-consumer is a consummate rights bearer in the tradition of possessive individualism, a consequence of which is the ‘culture of appeals’ that has recently developed in the sector."
Excertos de Darren O’Byrne & Christopher Bond (2014) Back to the future: the idea of a university revisited, Journal of Higher Education Policy and Management, 36:6, 571-584.
domingo, 22 de fevereiro de 2015
sábado, 21 de fevereiro de 2015
O tempo dos consórcios
"Notas sobre o Ensino Superior" no Click, Antena 1, de 21 de fevereiro.
Um dos objetivos do programa do Governo, em matéria de ensino superior, era “o estudo de possíveis medidas conducentes à reorganização da rede pública de instituições”. Quatro anos volvidos, o caminho que ficou para trás é tudo menos coerente.
Numa primeira fase reorganizar era sinónimo de reduzir. E o discurso apregoava então o número excessivo de instituições, face à dimensão do País, os cursos a mais, e a existência de cursos idênticos, sem procura, a 10km uns dos outros. Daí à apologia das fusões, como medida exemplar, foi um pequeno passado, colado à fusão da Universidade de Lisboa com a Universidade Técnica de Lisboa. Mas esse foi, até ao momento, um caso isolado no setor público, resultado de uma conjuntura e de características particulares; e que não trouxe qualquer alteração da oferta formativa.
Depois o discurso mudou: afinal todas as instituições teriam o seu papel a bem da coesão territorial e da igualdade de oportunidades. Fusões ou extinções ficavam definitivamente para trás e a tónica passou a recair sobre a especialização de universidades e de politécnicos, a sua diferenciação, e um novo modelo de financiamento.
Mais recentemente entrámos no tempo dos consórcios. Dos já existentes para a oferta conjunta de alguns cursos, passou-se a consórcios para a utilização de infra-estruturas científicas. E agora a consórcios de âmbito mais alargado, entre instituições. Com discussões a sul, envolvendo universidades e politécnicos, no interior centro, entre politécnicos, no centro e a norte entre universidades, neste último caso já mesmo formalizado. Desenham-se ainda outras iniciativas, também elas de formato diferente, para colaboração na atração de estudantes estrangeiros. E entretanto o Governo promete legislar sobre a figura de consórcio.
A colaboração entre instituições vem assumindo, assim, novas formas, com geometrias muito variadas, e sobrepostas. O que pode contribuir para reorganizar a atividade da rede de ensino superior, sem intervir declaradamente sobre os seus nós, universidades e politécnicos; mas cujo resultado dependerá, sobretudo, da tensão que se acentua entre mais colaboração e mais competição por estudantes, docentes e verbas. Tudo isto coloca novos desafios ao papel regulador do Estado e ao desenho de um novo modelo de financiamento, tradicionalmente focado em instituições individuais.
Um dos objetivos do programa do Governo, em matéria de ensino superior, era “o estudo de possíveis medidas conducentes à reorganização da rede pública de instituições”. Quatro anos volvidos, o caminho que ficou para trás é tudo menos coerente.
Numa primeira fase reorganizar era sinónimo de reduzir. E o discurso apregoava então o número excessivo de instituições, face à dimensão do País, os cursos a mais, e a existência de cursos idênticos, sem procura, a 10km uns dos outros. Daí à apologia das fusões, como medida exemplar, foi um pequeno passado, colado à fusão da Universidade de Lisboa com a Universidade Técnica de Lisboa. Mas esse foi, até ao momento, um caso isolado no setor público, resultado de uma conjuntura e de características particulares; e que não trouxe qualquer alteração da oferta formativa.
Depois o discurso mudou: afinal todas as instituições teriam o seu papel a bem da coesão territorial e da igualdade de oportunidades. Fusões ou extinções ficavam definitivamente para trás e a tónica passou a recair sobre a especialização de universidades e de politécnicos, a sua diferenciação, e um novo modelo de financiamento.
Mais recentemente entrámos no tempo dos consórcios. Dos já existentes para a oferta conjunta de alguns cursos, passou-se a consórcios para a utilização de infra-estruturas científicas. E agora a consórcios de âmbito mais alargado, entre instituições. Com discussões a sul, envolvendo universidades e politécnicos, no interior centro, entre politécnicos, no centro e a norte entre universidades, neste último caso já mesmo formalizado. Desenham-se ainda outras iniciativas, também elas de formato diferente, para colaboração na atração de estudantes estrangeiros. E entretanto o Governo promete legislar sobre a figura de consórcio.
A colaboração entre instituições vem assumindo, assim, novas formas, com geometrias muito variadas, e sobrepostas. O que pode contribuir para reorganizar a atividade da rede de ensino superior, sem intervir declaradamente sobre os seus nós, universidades e politécnicos; mas cujo resultado dependerá, sobretudo, da tensão que se acentua entre mais colaboração e mais competição por estudantes, docentes e verbas. Tudo isto coloca novos desafios ao papel regulador do Estado e ao desenho de um novo modelo de financiamento, tradicionalmente focado em instituições individuais.
domingo, 8 de fevereiro de 2015
Túnel
O som chega até mim.
Abafado. Vindo das profundezas.
Crescente. Insistente. Impossível de ignorar.
A mão move-se. Sozinha. Extingue o som.
Silêncio de novo.
Acordo.
Levanto-me na penumbra.
É quase dia. É quase dia à superfície.
Saio de casa.
Entro no túnel.
Elevador. Cabo de aço. Uma porta. Quatro paredes. Confinado.
Poço vertical.
Descendo.
Rua. Um sopro de ar.
Carro. Portas. Chão. Tejadilho.
Estrada.
Cápsulas deslizando nos dois sentidos.
Poço horizontal. Sem cabos. Com limites.
Vislumbre de luz.
Noção de verde.
Elevador. Cabo de aço. Quatro paredes.
Confinado. Subindo. Parando antes do azul.
Três paredes e uma janela.
Mina com vista a céu aberto.
Para pássaros que voam.
Para árvores com estações.
Turno que se escoa.
Dez horas que passam.
Sol que já se foi.
Regresso.
Saio da mina.
Saio do túnel.
Saio do dia.
Entro na noite.
Abafado. Vindo das profundezas.
Crescente. Insistente. Impossível de ignorar.
A mão move-se. Sozinha. Extingue o som.
Silêncio de novo.
Acordo.
Levanto-me na penumbra.
É quase dia. É quase dia à superfície.
Saio de casa.
Entro no túnel.
Elevador. Cabo de aço. Uma porta. Quatro paredes. Confinado.
Poço vertical.
Descendo.
Rua. Um sopro de ar.
Carro. Portas. Chão. Tejadilho.
Estrada.
Cápsulas deslizando nos dois sentidos.
Poço horizontal. Sem cabos. Com limites.
Vislumbre de luz.
Noção de verde.
Elevador. Cabo de aço. Quatro paredes.
Confinado. Subindo. Parando antes do azul.
Três paredes e uma janela.
Mina com vista a céu aberto.
Para pássaros que voam.
Para árvores com estações.
Turno que se escoa.
Dez horas que passam.
Sol que já se foi.
Regresso.
Saio da mina.
Saio do túnel.
Saio do dia.
Entro na noite.
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