quinta-feira, 10 de julho de 2008

Acesso ao Ensino Superior

Estamos em plena fase de candidatura ao Ensino Superior. Foram divulgadas as vagas e condições de acesso a cada par curso/estabelecimento (ver em http://www.dges.mctes.pt/), reacendendo discussões em torno do número de cursos, número de vagas, empregabilidade e facilitismo. Os panoramas são muito variados. Mas veja-se, a título de exemplo, quais as provas de ingresso exigidas pelas Universidades Públicas para a Licenciatura em Economia, e que têm um peso não inferior a 35% para a nota de candidatura:
  • a Matemática é a única prova de ingresso considerada na U. Coimbra e na U. Nova de Lisboa;
  • a Matemática é também obrigatória como prova de ingresso, podendo fazer par com outras disciplinas (Economia, Geografia, História ou Português) na U. Aveiro, U. Minho, U. Porto, U. Técnica de Lisboa e no ISCTE;
  • apenas é considerada uma única disciplina, de entre Matemática e Economia, nas provas de ingresso para a U. Açores e para a U. Madeira;
  • apenas é considerada uma única disciplina, de entre Geografia, Matemática e Economia para a U. Algarve, U. Beira Interior e U. Évora;
  • apenas é considerada uma única disciplina, de entre Português, Matemática e Economia na U. Trás-os-Montes e alto Douro.
No mesmo sítio é possível encontrar informações sobre o acesso a Universidades Privadas, embora reportada a 2007/08:
- Adiciona-se ao penúltimo grupo a U. Autónoma de Lisboa e a U. Portucalense;
- Adiciona-se ao último a U. Lusíada e a U. Lusófona.
Não estava disponível informação sobre a U. Católica.

Algo similar se constata, por exemplo, num grande número de cursos da área da contabilidade (não verifiquei se em todos), leccionados pelos Institutos Politécnicos, e em cujas provas de ingresso a Matemática é uma de três opções, a par, não raras vezes, com Português e outra disciplina. Assim vamos da Matemática obrigatória ao Português como possibilidade. Diferentes perfis de entrada, diferentes carências, diferentes problemas para superar e gerir durante o percurso superior, provavelmente diferentes perfis de saída. Está ainda por ver, na prática, que implicações tal diversidade acarretará no prosseguimento de estudos (acesso e sucesso em programas de segundo ciclo) e ao nível do emprego.

Estas são, provavelmente, algumas das consequências da combinação entre os resultados do Ensino Secundário em anos recentes, em especial a Matemática com a consequente síndrome de aversão/fuga a esta disciplina, do modelo de financiamento do Ensino Superior e das reduções orçamentais que estimulam à procura e manutenção de alunos, e de um déficit de regulação/coordenação do Sistema de Ensino Superior. Considero as soluções de modelo único , frequentemente, redutoras, mas já não me parece inadequado fixar um conjunto de requisitos mínimos com possibilidade de serem complementados, de modo livre, pelas instituições.

A secundarização da Matemática em algumas áreas, como táctica de captação de alunos para o Ensino Superior, envia um sinal perigoso para os alunos dos níveis básico e secundário: a temida Matemática não é assim tão importante. Sinal perigoso e contraditório com alguns esforços desencadeados ao nível da formação de professores, da divulgação e da motivação de alunos para esta mesma área. Já em relação ao domínio do Português, pelo menos ao nível das competências de comunicação, oral e escrita, correcta e articulada, era francamente desejável que se elevasse a fasquia.

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