Segunda peça da rubrica "Notas sobre o ensino superior", transmitida na edição de 25 de fevereiro do programa Click, emitido na Antena 1 (disponível em:http://tv2.rtp.pt/multimediahtml/progAudio.php?prog=3053) ou para ler aqui, em versão ligeiramente aumentada:
Nunca foram tantas as pessoas com formação superior e sem emprego. No final de 2011 eram quase 110.000, número que é pouco inferior ao de toda a população do distrito de Portalegre. Concluir um curso superior deixou de representar uma garantia de emprego. Não admira, por isso, que se ouçam expressões como “formar para o desemprego”, ou que as atenções se voltem para a “fuga de cérebros”, para a “empregabilidade dos cursos” e para o sistema de ensino superior.
Olhemos, brevemente, para o passado recente.
Nas décadas de 80 e 90 o sistema português de ensino superior cresceu muito, multiplicando por quatro o número de estudantes - uma revolução necessária para recuperar dos baixos níveis de qualificação, e que permitiu novas oportunidades para pessoas de diferentes grupos sociais. Durante esse período o mundo tornou-se mais aberto, mais interligado, mais rápido. Aderimos à Comunidade Económica Europeia; as fronteiras entre Portugal e Espanha foram abolidas; o muro de Berlim foi derrubado; em simultâneo crescia a rede global – a world wide web – e o digital tomava conta do dia-a-dia através de computadores, telemóveis e todo um conjunto de aparelhos e aplicações. A mobilidade de pessoas, de bens e de informação ganhou nova expressão.
No início deste milénio a China, a caminho do estatuto de superpotência, aderiu à Organização Mundial de Comércio; e outros países, como o Brasil e a Índia, ganharam protagonismo na economia mundial. Os anos mais recentes estão marcados por crises sucessivas, estagnação económica e aumento do desemprego para níveis nunca antes alcançados.
Com mais diplomados e menos empregos disponíveis, ter um diploma, só por si, já não é vantagem suficiente. Em muitos casos é mesmo o requisito mínimo para competir por um trabalho. E outros aspectos são cada vez mais valorizados: a capacidade de comunicação, de adaptação, de trabalho em equipa e em ambientes internacionais.
É neste contexto que as Universidades formam pessoas. E é neste contexto que o ensino superior corre o risco de ficar refém de uma lógica de curto prazo, de acordo com a qual se deve formar, acima de tudo, para o emprego imediato. Não deve ser esse o papel das universidades. O ensino superior não deve apenas identificar tendências e preparar estudantes para o futuro que se avizinha. Deve, sim, formar pessoas capazes de olhar mais além, de decidir, de assumir riscos, de inverter rumos, de criar. Afinal, a forma que o futuro tomará não depende só dos outros.
Termino estas breves notas com palavras de Albert Einstein, que se revelam bem atuais: "Se uma pessoa domina os fundamentos da sua disciplina e aprendeu a pensar e a trabalhar de forma independente, acabará certamente por encontrar o seu caminho, além de que terá mais facilidade em adaptar-se ao progresso e às mudanças do que uma pessoa cujo treino consistiu principalmente na aquisição de conhecimentos circunstanciais."
Nunca foram tantas as pessoas com formação superior e sem emprego. No final de 2011 eram quase 110.000, número que é pouco inferior ao de toda a população do distrito de Portalegre. Concluir um curso superior deixou de representar uma garantia de emprego. Não admira, por isso, que se ouçam expressões como “formar para o desemprego”, ou que as atenções se voltem para a “fuga de cérebros”, para a “empregabilidade dos cursos” e para o sistema de ensino superior.
Olhemos, brevemente, para o passado recente.
Nas décadas de 80 e 90 o sistema português de ensino superior cresceu muito, multiplicando por quatro o número de estudantes - uma revolução necessária para recuperar dos baixos níveis de qualificação, e que permitiu novas oportunidades para pessoas de diferentes grupos sociais. Durante esse período o mundo tornou-se mais aberto, mais interligado, mais rápido. Aderimos à Comunidade Económica Europeia; as fronteiras entre Portugal e Espanha foram abolidas; o muro de Berlim foi derrubado; em simultâneo crescia a rede global – a world wide web – e o digital tomava conta do dia-a-dia através de computadores, telemóveis e todo um conjunto de aparelhos e aplicações. A mobilidade de pessoas, de bens e de informação ganhou nova expressão.
No início deste milénio a China, a caminho do estatuto de superpotência, aderiu à Organização Mundial de Comércio; e outros países, como o Brasil e a Índia, ganharam protagonismo na economia mundial. Os anos mais recentes estão marcados por crises sucessivas, estagnação económica e aumento do desemprego para níveis nunca antes alcançados.
Com mais diplomados e menos empregos disponíveis, ter um diploma, só por si, já não é vantagem suficiente. Em muitos casos é mesmo o requisito mínimo para competir por um trabalho. E outros aspectos são cada vez mais valorizados: a capacidade de comunicação, de adaptação, de trabalho em equipa e em ambientes internacionais.
É neste contexto que as Universidades formam pessoas. E é neste contexto que o ensino superior corre o risco de ficar refém de uma lógica de curto prazo, de acordo com a qual se deve formar, acima de tudo, para o emprego imediato. Não deve ser esse o papel das universidades. O ensino superior não deve apenas identificar tendências e preparar estudantes para o futuro que se avizinha. Deve, sim, formar pessoas capazes de olhar mais além, de decidir, de assumir riscos, de inverter rumos, de criar. Afinal, a forma que o futuro tomará não depende só dos outros.
Termino estas breves notas com palavras de Albert Einstein, que se revelam bem atuais: "Se uma pessoa domina os fundamentos da sua disciplina e aprendeu a pensar e a trabalhar de forma independente, acabará certamente por encontrar o seu caminho, além de que terá mais facilidade em adaptar-se ao progresso e às mudanças do que uma pessoa cujo treino consistiu principalmente na aquisição de conhecimentos circunstanciais."
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