"O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todo ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretárias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comérico definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo."
Um retrato de Portugal escrito em 1871, há 140 anos, em As Farpas, de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão.
quarta-feira, 25 de abril de 2012
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Abaixo de zero. E se ...
O Governo decidiu baixar subitamente a temperatura e congelar as reformas antecipadas. Com isso evita uma despesa acrescida no curto prazo, em termos de pagamento de reformas, vindo eventualmente a pagar mais (porque menos penalizadas) e mais tarde. Sendo uma medida, até ver, essencialmente aplicada ao setor privado não terá outros efeitos na despesa do setor público.
Mas como tudo está interligado imaginemos ... e se ... e se mantivessemos a possibilidade de reforma antecipada ... e se fosse possível assegurar que aqueles que se reformam fossem substituídos ... e se fosse possível promover por esta via, pelo menos em parte, o regresso ao mercado de trabalho de quem está atualmente desempregado ... e se outra parte fosse para emprego jovem ...
O que aconteceria em termos da vida de milhares de pessoas e suas famílias? O que aconteceria em termos de saldo global considerando reformas e subsídios de desemprego? O que aconteceria em termos de renovação em empresas?
E se ...
Mas como tudo está interligado imaginemos ... e se ... e se mantivessemos a possibilidade de reforma antecipada ... e se fosse possível assegurar que aqueles que se reformam fossem substituídos ... e se fosse possível promover por esta via, pelo menos em parte, o regresso ao mercado de trabalho de quem está atualmente desempregado ... e se outra parte fosse para emprego jovem ...
O que aconteceria em termos da vida de milhares de pessoas e suas famílias? O que aconteceria em termos de saldo global considerando reformas e subsídios de desemprego? O que aconteceria em termos de renovação em empresas?
E se ...
sábado, 7 de abril de 2012
Uma questão de preço
"Nós sabemos que o preço da água é o melhor regulador para um uso cauteloso, prudente e económico da própria água", afirmou no Parlamento a Ministra do Ambiente e de outras coisas mais. Frase reveladora de uma maneira de pensar: o preço é "o" melhor regulador. Como se a água fosse um qualquer bem de consumo; como se a água não fosse escassa; como se o acesso devesse ficar subordinado à capacidade de pagar; como se fosse aceitável o uso imprudente e o desperdício desde que pago; como se o clima fosse imutável e favorável. Nem a seca fez perceber à Ministra que nem tudo é uma questão de preço!
Publicado no Jornal Público, Cartas à Directora, em 15/04/2012
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