domingo, 14 de setembro de 2014

Um 11 de setembro na América

Há datas que ficam marcadas, mesmo por cima de outras, igualmente marcantes. Porque são mais intensas, mais vividas, mais próximas, mais vistas, com uma memória mais construída. Quando se fala no 11 de setembro vemos as imagens das torres gémeas, do incêndio, dos aviões, das pessoas. Assistidas em direto, repetidas, documentadas, comentadas. Reforçadas pelas imagens da Nova Iorque de hoje, sem as torres mas com as torres, amputada.

Passou mais um 11 de setembro. Na América, mas noutra América, a data toma um significado diferente. Na América do Sul. No Chile. Lembra 1973. E registos de rádio.

São 08h45 em Santiago. O Presidente da República, Salvador Allende, fala novamente pela rádio.

"Companheiros que me escutais. A situação é crítica, enfrentamos um golpe de Estado no qual participa a maioria das forças armadas. Neste hora fatídica, quero recordar-vos algumas das minhas palavras proferidas no ano de 1971; digo-as com calma, com absoluta tranquilidade, não tenho feitio de apóstolo nem de messias. Não tenho condições de mártir, sou um lutador social que cumpre a tarefa que o povo lhe confiou. Porém, que o entendam aqueles que querem fazer recuar a História e ignorar a vontade maioritária do Chile; não tendo corpo de mártir, não darei um passo atrás. Que o saibam, que o oiçam, que o gravem profundamente: deixarei La Moneda quando cumprir o mandato que o povo me confiou, defenderei esta revolução chilena e defenderei o governo porque foi esse o mandato que o povo me entregou. Não tenho outra alternativa. Só crivando-me de balas poderão impedir a vontade que é fazer cumprir o programa do povo. Se me assassinarem, o povo continuará no seu rumo, prosseguirá o caminho, talvez com a diferença de que as coisas serão muito mais duras, muito mais violentas, porque será uma lição objectiva muito clara para as massas de que esta gente não se detém perante nada. Tinha previsto esta possibilidade, não a ofereço nem a facilito. (...)"

Extrato de 50 Grandes Discursos da História, M. Robalo e M.Mata

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