sábado, 27 de outubro de 2018

É fazer as contas!











Em artigo de opinião publicado no Expresso, no dia 20 de outubro, na sua coluna semanal Confusion de Confusiones, João Duque, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, estimou o custo da redução da propina máxima no ensino superior público, inscrita na proposta de Orçamento de Estado para 2019, em 60 milhões de euros.

A conta é simples: cerca de 200€ a menos por cada um dos 300 000 estudantes inscritos.
Certo? Errado!

Primeiro, porque a medida não se aplica a todos os estudantes; retiremos os doutoramentos, os segundos ciclos não exigidos para exercer uma profissão, os estudantes em mobilidade internacional, a Universidade Aberta e o ensino policial e militar; em conjunto serão menos 65000 alunos (ou 13 milhões de euros).

Segundo, porque a perda não é de 200€ por cabeça, pelo simples facto de que muitas instituições não cobram a propina máxima; feitas as contas aos cursos técnicos superiores profissionais e ao diferencial real da propina em apenas três politécnicos e duas universidades, e temos 5,3 milhões a deduzir.

Já vamos em 18 milhões a menos, ou seja, 30% em relação ao estimado por João Duque. E fica ainda por fazer a conta às restantes instituições e aos alunos que, por beneficiarem da ação social, não pagam propinas. É obra, tamanho erro!

Confusiones, certamente.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Espelho meu










Espelhos de refletir.  Para ver o reflexo. Ou para o reflexo nos ver a nós. Para aumentar, encolher ou distorcer. Tudo imagens virtuais. Tudo imagens reais. Prefiro espelhos para refletir. E às vezes devolvem imagens surpreendentes. Para além da superfície. Como estas notas tentam.

Tudo isto para chegar aos rankings e ao modo como são tratados. Conhecimento e desconhecimento. Uso e abuso. Tema boomerang que volta ocasionalmente, por norma nas épocas próprias dos ditos. Quando são divulgados com estrondo. Rankings. Hierarquias. O primeiro e os outros. Orgulho. Aspiração. Meta. Comparar dentro de portas quando se diz que o desafio está lá fora. Décimas que fazem a diferença, como se a diferença fosse maior do que décimas. Comparando o que é comparável? Querendo, afinal, os que se proclamam únicos, quererem ser uns entre iguais, numa mesma régua, num mesmo fato, definido para todo o mundo, por alguém?

Desta vez foi o anúncio do Times Higher Education World University Rankings 2019. Que folheei com curiosidade morna, de quem já viu isto várias vezes, e o que se segue: as análises dos autores do dito, dos comentadores, dos jornais ou até das instituições.

Mas, desta vez, algo me chamou a atenção. Um dos indicadores não encaixa no discurso dominante. Talvez já fosse assim noutros anos, não verifiquei. Vamos a ele, ao indicador de "influência da investigação": as citações.

Aqui fica um extrato da metodologia utilizada e do significado atribuído;
Our research influence indicator looks at universities’ role in spreading new knowledge and ideas. We examine research influence by capturing the average number of times a university’s published work is cited by scholars globally. This year, our bibliometric data supplier Elsevier examined 67.9 million citations to 14.1 million journal articles, article reviews, conference proceedings, books and book chapters published over five years. (...) Citations to these publications made in the six years from 2013 to 2018 are also collected. The citations help to show us how much each university is contributing to the sum of human knowledge: they tell us whose research has stood out, has been picked up and built on by other scholars and, most importantly, has been shared around the global scholarly community to expand the boundaries of our understanding, irrespective of discipline.
Mas vamos ao que a todos interessa.
Os resultados da liga.
Aceitam-se apostas!
Duvidam que muitos acertem no top 5!
Ou até no top 3!!!
Faça um esforço: pare; escreva ou pense no seu pódio e depois verifique.

Bem, aqui fica o panorama das instituições nacionais.
Por ordem decrescente.
Numa escala de 0 a 100.

Alto! Primeiro uns alertas!
Da praxe (não dessas outras praxes...).

a) Só figuram as instituições que "aderiram".
b) O ranking não é um "estudo" de todas as instituições.
c) As áreas de investigação em cada instituição, pese embora as normalizações que se possam fazer, afetam o resultado.
d) Também o tamanho e a heterogeneidade afetam o resultado de conjunto da instituição.
e) Nem toda a atividade de criação e impacto se mede, ou se mede melhor, por citações.
f) Mas como a tabela é só uma ...

Vamos lá então:

64,9 Politécnico do Porto
64,3 Universidade Católica
55,7 Universidade do Porto
52,4 Universidade de Lisboa
50,7 Universidade da Beira Interior
46,3 Universidade de Coimbra
45,6 Universidade Nova de Lisboa
43,4 Universidade de Aveiro
41,1 Universidade do Algarve
39,4 Universidade do Minho
34,1 Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
32,2 Universidade de Évora
25,0 ISCTE

Já agora, 300 das instituições participantes na edição de 2019 têm valores iguais ou superiores a 75.