O Governo da nação conta com 70 membros. Rezam os registos que é o maior de sempre na história da nossa democracia. Proliferam os ministros. Mudam-se as designações de ministérios. Transplantam-se competências e missões, ainda que recentemente criadas, de uns para outros. Aumentam os secretários de estado, os gabinetes, as assessorias, as instalações, as deslocações. E, certamente, o mesmo sucederá com as consultorias de imagem, as agências de eventos, os pareceres jurídicos externos.
Mais importante, multiplicam-se zonas de sobreposição e de indefinição, tão nefastas umas quanto outras, áreas de saturação de luz e de sombras profundas, de cacafonia e de silêncios. Que farão emergir grupos de trabalho para articulação, instâncias de coordenação superior, momentos de arbitragem. Algo que será particularmente sentido na ação dos ministérios com caráter mais transversal do que vertical, em que quase tudo terá de ser negociado, não com a sociedade mas no seio do próprio governo.
Não haverá tamanhos ótimos, mas há excessos que são claramente identificáveis e problemas que se antecipam.
As causas destas coisas? Diversas e em diferentes proporções. A importância simbólica de uma pasta ministerial, a recompensa de fidelidades; a vontade de contar com um contributo especial de alguém a quem se reconhece mérito; os equilíbrios do partido, das regiões, do género, de alguns setores; a necessidades dos ditos independentes; a esperança de uma revelação; o por à prova para um futuro; o juntar ou dividir; o equilíbrio de poderes entre governantes; as saídas que podem estar mais ou menos anunciadas a médio prazo; os dossiers que se antecipam difíceis; a visão de uma estrutura; a influências daqueles em quem se confia; os compromissos; muitos compromissos; o tempo.
Um salto ao lado, do Governo da nação para as Universidades em França.
"
Collecting data from 70 institutions, the higher education news agency AEF info found that the average university had 12 vice-presidents", leio no Times Higher Education, sob o sugestivo título
Universidades Francesas acusadas de estarem inchadas no topo.
E, mais à frente, "
The survey of universities’ senior management comes in the wake of work by Christine Musselin, a sociologist of universities and former dean of research at Sciences Po, who argues in her recent book that French institutions must radically reshape their management structures and shrink the number of vice-presidents."
Constatando-se também uma certa diversificação na designação de pelouros:
Some university managements have swelled to include vice-presidents for simplification, “success”, “heritage” and, even, “the sea”.
Um salto mais. E entre nós?
Oito Universidades no início do século, há menos de duas décadas, portanto: Aveiro, Beira Interior, Coimbra, Évora, Minho, Nova de Lisboa, Porto e Trás-os-Montes e Alto Douro. Entre elas, um total de 57 Reitores, Vice-Reitores e Pró-Reitores, uma média de pouco mais de 7 por instituição.
Avançando no tempo para 2009-2011, nas primeiras reitorias pós-Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior. As mesmas instituições. O número de dirigentes no topo cresceu para 70, a média subiu para quase 9.
De regresso ao presente ano de dois mil e dezanove. Continuando a seguir aquelas instituições. Atingimos os 80 lugares e uma média de 10 elementos por reitoria. Se estendermos o olhar para abarcar o conjunto das instituições públicas universitárias a média sobe para 11, por efeito de sete instituições com 10 ou mais membros nas suas equipas reitorais.
Usando analogias que se ouvem por aí frequentemente, nos comentários, passou-se do partido do táxi ao que precisa de dois mono-volumes, ou de uma equipa de futebol de salão a uma de futebol de onze.
As causas não serão, certamente, muito diferentes das identificadas para os elencos dos Governos da nação, em doses adaptadas às histórias e contextos locais do que também são lutas pelo poder.
Os efeitos são, também eles, em tudo semelhantes, com a característica adicional, já apontada no caso francês, de uma mistura, no topo, entre governo e administração, entre definição de políticas com o que devia estar acometido, claramente, a outras estruturas e serviços. Voltando a Christine Musselin: "
Across many universities, vice-presidents, themselves normally academics, had duplicated existing administrator roles, she told THE.". Uma questão de poder e de controlo direto, no que deveriam ser dois níveis organizacionais distintos. E também, em quase todos os casos, uma questão de confiança exígua, usando este termo tão caro a Adriano Moreira, entre dois mundos, o dos académicos e o dos administradores.
Um caso para estudo. Para reflexão. E para ação. Para o bem comum.
Algures entre o
Small is beautiful e o
Size matters.