quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Change

Barack Obama será o próximo inquilino da Casa Branca, ao conquistar um resultado de especial significado na história dos EUA. A sua eleição representa, para muitos, o concretizar do sonho americano: a ascensão, por mérito próprio, de um cidadão afro-americano ao cargo mais alto da nação; um símbolo da igualdade de oportunidades, num país em que parte dos actuais eleitores viveu o período de segregação racial. Mais do que isso, o carismático Obama tornou-se, para milhões de norte-americanos, o rosto da esperança e da mudança que desejam. Finda esta etapa tem pela frente o desafio de liderar o processo da proclamada mudança. Em termos internacionais é bom não esquecer que o modo de Obama ver o mundo será, seguramente, diferente da visão de um europeu. Estamos, afinal, a falar do líder da única superpotência ocidental, bem consciente do papel que o seu país quer desempenhar, e que zelará, primeiro que tudo, pelo interesse americano.

Estas terão sido, seguramente, as eleições mais seguidas de sempre em todo o planeta. O reality show das primárias democratas, com os candidatos a desistirem com o passar das semanas, os duelos Obama-Clinton e McCain-Obama, golpes baixos q.b., o espectáculo à americana, a importância dos EUA no mundo e a extensa cobertura mediática contribuíram com a sua quota parte. Mas estou convencido que muito se deveu às características dos próprios candidatos, que por si só encarnam sonhos e aspirações diferentes: McCain, o patriota descendente de linhagem militar, herói e prisioneiro de guerra, realidade conhecida por muitas famílias americanas, desalinhado de posições do próprio partido; Obama, o advogado negro, filho de um africano, e que permite um virar de página na história dos EUA; Clinton, ex-primeira dama, senadora e que esteve quase a tornar-se na primeira mulher a enfrentar a votação final para o cargo de Presidente.

Impressionou-me o entusiasmo de muitos portugueses por estas eleições, e pela vitória de Obama, principalmente pelo contraste com o olhar dos mesmos sobre a política partidária portuguesa. Entre nós é comum dizer-se que os políticos são todos iguais, que as diferenças entre os grandes partidos são cada vez menores, e que as eleições são sobretudo uma dança de cadeiras. Nada de decisivo, pois, até porque Bruxelas manda cada vez mais…As eleições nos EUA mostraram que há, de facto, políticos diferentes e que a discussão ideológica não está enterrada. Votar a preto e branco é definitivamente um exercício mais mobilizador do que optar entre diferentes cambiantes de cinzento.

Can we change?

Publicado, em versão reduzida, no jornal Público, Cartas ao Director, em 12/11/08

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