Estas terão sido, seguramente, as eleições mais seguidas de sempre em todo o planeta. O reality show das primárias democratas, com os candidatos a desistirem com o passar das semanas, os duelos Obama-Clinton e McCain-Obama, golpes baixos q.b., o espectáculo à americana, a importância dos EUA no mundo e a extensa cobertura mediática contribuíram com a sua quota parte. Mas estou convencido que muito se deveu às características dos próprios candidatos, que por si só encarnam sonhos e aspirações diferentes: McCain, o patriota descendente de linhagem militar, herói e prisioneiro de guerra, realidade conhecida por muitas famílias americanas, desalinhado de posições do próprio partido; Obama, o advogado negro, filho de um africano, e que permite um virar de página na história dos EUA; Clinton, ex-primeira dama, senadora e que esteve quase a tornar-se na primeira mulher a enfrentar a votação final para o cargo de Presidente.
Impressionou-me o entusiasmo de muitos portugueses por estas eleições, e pela vitória de Obama, principalmente pelo contraste com o olhar dos mesmos sobre a política partidária portuguesa. Entre nós é comum dizer-se que os políticos são todos iguais, que as diferenças entre os grandes partidos são cada vez menores, e que as eleições são sobretudo uma dança de cadeiras. Nada de decisivo, pois, até porque Bruxelas manda cada vez mais…As eleições nos EUA mostraram que há, de facto, políticos diferentes e que a discussão ideológica não está enterrada. Votar a preto e branco é definitivamente um exercício mais mobilizador do que optar entre diferentes cambiantes de cinzento.
Can we change?
Publicado, em versão reduzida, no jornal Público, Cartas ao Director, em 12/11/08
Sem comentários:
Enviar um comentário