quinta-feira, 8 de março de 2012

Igualdade por decreto

Não gosto dos Dias de ...; aqueles em que, subitamente, tudo gira em redor de um único tema; discursos, entrevistas, escritos, músicas; é quase impossível escapar; e depois desaparecem assim como chegaram; até que a Terra tenha dado outra volta ao Sol. Percebo a origem de alguns e até a sua função; mas simplesmente não consigo aderir a essas datas pré-programadas.

Hoje é o Dia Internacional da Mulher. E foi o dia em que o Ministro Miguel Relvas anunciou a obrigatoriedade das empresas com participação estatal adotarem planos para a igualdade entre homens e mulheres. Diz o Ministro, de acordo com o Jornal de Negócios, que "a sub-representação das mulheres na tomada de decisão significa que o seu potencial de qualificação está a ser subutilizado, o que desequilibra a presença de mulheres e de homens nos postos de decisão política e económica".

Fiquemo-nos pelos postos de decisão política; e olhemos para a prática do partido que originou este Governo, do qual o Ministro é figura maior, tendo sido, designadamente, seu Secretário-Geral. Eis a composição, atendendo ao género, das dezanove comissões políticas distritais do PSD: Presidência: 19 homens - 0 mulheres; Vice-presidência: 32 homens - 5 mulheres; Vogais: 131 homens - 21 mulheres. Num total de 208 lugares as mulheres ocupam menos de 13%. Há 6 comissões compostas exclusivamente por homens, e mais 5 em que apenas está presente 1 mulher. A comissão com mais mulheres tem 5 em 12 elementos.

E assim, em mais um Dia de ..., decreta-se pomposamente o que não se pratica.

Publicado no Jornal Público, Cartas à Directora, em 11/03/2012

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