"Notas sobre o ensino superior" no Click, Antena 1.
Estão a decorrer as candidaturas para
acesso ao ensino superior, altura em que milhares de estudantes finalizam as
suas escolhas. Fazem-no num momento em que continua a crescer o desemprego de
pessoas qualificadas e de jovens; em que é frequente ouvir-se um discurso que
questiona, quando não desvaloriza, o ensino superior; e em que a escolha certa se
parece centrar, cada vez mais, em torno de indicadores simplistas, como a
empregabilidade dos cursos.
Este tempo, em que o pensamento crítico
é escasso e a comunicação é rápida, cria um terreno propício à génese e propagação
de mitos. Mas são mitos que, se aceites, podem vir a condicionar gravemente o
futuro individual, o futuro de uma geração e mesmo o nosso futuro coletivo. Eis
apenas três.
Mito 1 – Sendo cada vez mais difícil encontrar
trabalho, não compensa investir num curso superior. Não é o que os números
mostram: o desemprego de diplomados é elevado, sim, mas mais elevado ainda é o
desemprego de pessoas com menor escolaridade. Por outro lado, não podemos ignorar
o efeito da abertura das fronteiras: a mobilidade de pessoas tornou a
concorrência global; estrangeiros trabalham em Portugal; portugueses trabalham
no estrangeiro; empresas com dimensão internacional procuram os trabalhadores
melhor qualificados, independentemente da sua nacionalidade. Ter um diploma
pode não ser suficiente para abrir portas; pode mesmo fechar algumas; não o ter
fechará, com certeza, muitas mais.
Mito 2 – As vagas no ensino superior
devem ser ajustadas à dimensão do mercado de trabalho. Ora existe, aqui, um
desfasamento temporal que é preciso ter em consideração: quem entrar este ano
numa universidade, estará no mercado de trabalho, como mestre, apenas em 2018,
ou 2019; é para esse futuro que definimos a atual oferta de formação, e não
para o mercado em recessão de 2012.
Mito 3 – Portugal tem excesso de
diplomados. Este não resiste a uma comparação com dados de outros países, da Europa
ou da OCDE, e na qual apresentamos, invariavelmente, uma das menores taxas de
diplomados. Se acreditarmos que um futuro melhor passa pelo conhecimento, então
temos de recuperar rapidamente o nosso atraso.
Os portugueses precisam de mais
formação superior.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário