Do que se passa na Grécia pouco nos chega. O passado recente parece ter sido empurrado para um buraco escuro, onde convivem resgates, austeridade, perdões de dívida, fantasmas de saída do euro e de contágio europeu, imagens de manifestações e de caos em praças, reportagens sobre vidas em ruínas.
A comunicação já há muito abandonou os gregos. O tempo lento da recuperação, da estagnação ou do colapso não serve. Não nos serve, a nós, consumidores da comunicação.
Os políticos portugueses preferem, ainda que em discursos vagos, uma Irlanda de mares frios, restos de miragens anglo-saxónicas, a uma Grécia mediterrânica, renegando uma história com mais em comum. Renegando mesmo a simples menção a um país e a um povo, com medo que a palavra atraia a mesma desgraça.
Que lições se tiram afinal do "caso" grego? Assunto esquecido. Assunto perdido.
E os gregos, europeus mas gregos? Vivem. Sobrevivem. Longe dos nossos olhares.
Hoje ecoam notícias da Grécia. As Universidades estão a parar. Segundo o Guardian há já casos em Atenas, Salónica, Patras, Ioannina, Creta (http://www.theguardian.com/world/2013/sep/25/austerity-measures-push-greek-universities-collapse). Falta pessoal na administração. Resultado de quatro anos de crise que serviram para erodir barreiras constitucionais. Resultado dos expedientes que antecedem o despedimento. Resultado de um programa de mobilidade que se destina a imobilizar pessoas. Linguagens orwellianas que cá adoptam estas e outras formas: requalificação, ajustamento, mudança de paradigma.
Não se reforma. Não se escolhe. Vai-se cortando e recortando. Em tudo e em todo o lado. Para lá do aceitável. Para lá do recuperável.
Tudo soa familiar, demasiado familiar.
Os anos passam e a Grécia aqui tão perto, ao virar da esquina, ao virar do ano que aí vem.
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