terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Emprego absoluto

De vez em quando é útil regressar aos números absolutos. Número de pessoas, por exemplo, em vez de taxas, índices simples ou compostos, rankings ou outras figuras. Devidamente contextualizadas estas figuras estatísticas são extremamente úteis. Devidamente descontextualizadas prestam-se a todas as tentativas de manipulação ou, no mínimo, de tentativa de criação de "dúvida razoável".

Um outro olhar sobre as estatísticas do INE referentes ao 4.º trimestre de 2013, à atenção dos crentes no sucesso e dos crentes no desastre, que partilham a crença de que os outros é que estão entrincheirados.

População empregada, que é mais fácil de identificar e de contar do que a desempregada:

1) Em outubro-dezembro há mais 7900 pessoas empregadas do que havia em julho-setembro. É uma evolução positiva.

2) Em outubro-dezembro de 2013 há mais 29700 pessoas empregadas do que havia em outubro-dezembro de 2012. É uma evolução positiva, mas que não autoriza conclusões apressadas, uma vez que estamos a "saltar" de um ponto de um ano para outro, sem descrever o que aconteceu entre ambos.

Para comparar 2012 e 2013 o INE recorre à média da população empregada em cada um dos quatro trimestres. Já não estamos a fazer uma contagem simples, mas ainda assim esta média não se presta a múltiplas interpretações.

3) No ano de 2013 a população empregada diminuiu 121200 pessoas em relação a 2012. A elevada diminuição de emprego no início do ano de 2013 supera o aumento registado nos restantes meses. Uma evolução negativa com a dimensão, aproximada, de toda a população do concelho de Setúbal.

Um outro indicador a ter em conta: a evolução da população ativa, sendo esta a que tem 15 anos ou mais (conceito que eventualmente deveria ser revisto, pelo alargamento da escolaridade obrigatória).

4) A população ativa diminuiu 105400 pessoas, de 2012 para 2013. Um fonte de preocupação.

Estes são números claros. São números que retratam apenas uma pequena parte deste problema. Nada dizem sobre a qualidade do emprego, sobre as áreas, a idade ou a geografia. Para isso há outros dados, muitos outros.

O que nenhum deles mostra, porque são dados de conjunto, é que as políticas e as decisões coletivas e individuais não são neutras para as pessoas, para cada pessoa. Não mostra que alguns dos empregados de 2013 não o estavam em 2012. E que alguns dos desempregados de agora perderam o emprego durante este ano. Em caso algum estes dados permitem, só por si, prever o futuro. Porque as tendências que podem revelar não se autosustentam.

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