quinta-feira, 21 de maio de 2015

Noite

É noite na sala. Ligo o candeeiro. A luz, amarelada, enrosca-se sobre a mesa. Fica imóvel, quase sem respirar, quente. Tudo o resto são sombras. Encostadas às paredes, sentadas nas esquinas, deitadas sobre o tapete, folheando os livros. Sombras e silêncio. A cidade já dorme. A casa também. Foram-se os passos. Foram-se as vozes. Foram-se os ruídos. Ligo a música. Ouço o sax suave de Paul Desmond. Ouço a música e sinto o silêncio que está ao meu lado. Sobre a mesa, um copo, alto. Gin n.º 3, água tónica e limão. E gelo que murmura. Ligo o ecrã. Luz branca e fria que espera, pacientemente. Espera pelos dedos, pelo deslizar. Pelo toque que lança letras, negras, que se penduram. Pelo sapateado que forma palavras. Pelas palavras que formam frases. Espera pelo sentido. Espera que faça sentido. Escrevo. Gosto da noite.

Sem comentários: