domingo, 15 de janeiro de 2017

Como governar o mundo em 140 caracteres

Zebatinsky foi ao numerologista. Quem sabe o que este diria? Não tinha nada a perder. A partir desse momento passou a chamar-se Sebatinsky. Alteração mínima, de uma única letra, no seu nome. Que desencadeou uma cadeia de mudanças. E uma guerra nuclear foi evitada. Obra de um par de extraterrestres, entretidos a apostar sobre o planeta Terra, e em como era possível produzir um macro-efeito a partir de um micro-estímulo. Estávamos em 1958, e num futuro distante na imaginação de Isaac Asimov, no conto "Escreva o seu nome com um S".

Estamos em 2017 e esse futuro ainda não chegou. Uma letra não é suficiente para mudar o mundo. Mas cada vez são precisas menos letras. 140 caracteres podem bem ser suficentes. É o tamanho de cada twitter, que pode ser traduzido por chilrear.

Parece pouco, e talvez seja pouco, quase nada ou mesmo nada.

And yet ... canta Sting.

No entanto cada chilreio dá instantaneamente a volta ao mundo, ao mundo ligado por redes, que não é todo, mas que é cada vez mais. E é repetido. E é comentado. E passa a ser notícia. E passa a dominar a notícia. Como um eco aumentado, sem distorção nem atenuação. Como uma bola de neve que passa a avalanche. Como uma avalanche ensurdecedora que engole os outros sons. E que só se cala quando começa a avalanche seguinte.

And yet ...

No entanto o mundo reage. Ações sobem ou descem. Países sobressaltam-se. Como se tudo fosse sério. Como se tudo fosse importante. Porque tem intenção. Porque se pode materializar. Porque vem de gente com poder. Porque vem do topo da cadeia alimentar. Porque há muitos botões, na política, na economia, e no nuclear. Não é sério, mas é a sério. É uma nova maneira de comunicar. Agitar. Sem diálogo, Sem contraditório. Sem verificação. Sancionada pela comunicação social, que a usa e abusa como matéria-prima. Sancionada pelos comentadores que fazem disso modo de vida. Sancionada por nós, consumidores e reprodutores de informação rápida. Tantas vezes sem reflexão. Porque confirma as nossas crenças. Porque se busca o confronto. Porque nos sentimos obrigados a reagir imediatamente. Porque isso prova a nossa participação nesta realidade mais ou menos virtual.

Que se prova, mastiga e deita fora ... cantavam os Taxi.

E que é complementada, ao vivo e a cores, pela vozearia, pela gritaria, por falar por cima, por calar os outros, por mandar calar. Saltando de ruído em ruído. Provocando a surdez. Funcionando em círculo fechado. Distraindo. Fazendo com que as atenções fiquem na forma, no incidente. Criando acidentes. Anunciando desastres. "Nós" e os outros, que são obstáculos, ou inimigos.

"If you're tired of arguing with strangers on the internet, try to talk with one in real life", disse o Presidente cessante, Barack Obama.

Lidera-se pelo exemplo. Dizem. Nada abona em favor dos seguidores. Gostaria de pensar que foi apenas o resultado da falta de boas alternativas. Não foi. Há demasiadas evidências, em muitos lugares, em demasiados lugares, de ambos os lados do Atlântico, em países pacatos ou em países conturbados, na política ou no resto do dia-a-dia, que mostram que este é o modo escolhido por muitos. Infelizmente.

Mas não vale tudo. Não pode valer tudo. É preciso afirmar outros valores. Todos os dias. Sempre!

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