Empregabilidade é um termo da moda nas políticas de ensino superior, e também presente num dos eixos de acção do programa com o que o PSD se apresentou às recentes eleições legislativas, "Aumento da empregabilidade da oferta", que surge como resposta ao que o PSD identificou como um dos aspectos característicos do Ensino Superior em Portugal: "oferta educativa desadequada das carências do mercado de trabalho, com cursos superiores com nula baixa ou nula empregabilidade."
Conviria começar por se esclarecer qual o conceito de empregabilidade, não sendo claro se este se refere à mera capacidade de obter um qualquer emprego no curto prazo (incluindo aqueles que nem sequer requerem formação superior), à obtenção de emprego na área específica de formação, à capacidade de evolução numa perspectiva de médio prazo, à capacidade de adaptação a mudanças no mercado de trabalho, etc., etc. A abordagem, o tipo de informação necessária e as políticas serão substancialmente diferentes consoante o caso.
Mas, a montante, está em causa o próprio papel das instituições de ensino superior e a sua relação com o mundo do trabalho, realidades com tempos e dinâmicas diferentes. As instituições de ensino superior não são os principais criadores de emprego, e a formação a este nível tem um tempo de preparação e de concretização que não é compatível com uma visão baseada em tendências diárias, mensais, trimestrais ou até de um par de anos.
Por isso não acredito num ensino superior confinado a uma função profissionalizante. Não acredito num ensino superior em que se reduza a faceta de experimentação de caminhos, de cruzamento de saberes, de antecipação de necessidades, de imaginação e de criação de futuros diferentes. Não acredito num ensino superior que responde, primeiramente, ao mercado de trabalho e, ainda menos, se este for entendido numa lógica restritiva de âmbito nacional, regional ou local.
Escritos como "Profissão", de Isaac Asimov, a que em tempos aqui me referi, ilustram bem os dilemas associados à criação do conhecimento, formação e emprego. O seguinte extracto de Albert Einstein, em "Como vejo a ciência, a religião e o mundo", é particularmente claro sobre a natureza da discussão que urge promover.
"Mas oponho-me à ideia de que a escola deve ensinar directamente aqueles conhecimentos específicos que viremos a empregar mais tarde na nossa vida activa. As exigências da vida são demasiadamente variadas para que seja viável esse ensino específico e directo. Parece-me à parte isso, condenável tratar o indivíduo como uma ferramenta morta. A escola deve ter como objectivo que os seus alunos saiam dela com uma personalidade harmoniosamente formada, e não como meros especialistas. Isto, em certo sentido, e a meu ver, é verdade até para as escolas técnicas, que forma alunos para profissões claramente definidas. O desenvolvimento de uma aptidão geral para pensar e julgar de uma forma independente é algo que devia ser valorizado antes de tudo o mais, isso e não a aquisição de conhecimentos específicos. Se uma pessoa domina os fundamentos da sua disciplina e aprendeu a pensar e a trabalhar de forma independente, acabará certamente por encontrar o seu caminho, além de que terá mais facilidade em adaptar-se ao progresso e às mudanças do que uma pessoa cujo treino consistiu principalmente na aquisição de conhecimentos circunstanciais."
A. Einstein Como vejo a Ciência, a Religião e o Mundo, Relógio d'Água, 2005.
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