sexta-feira, 23 de agosto de 2013

38º à distância de um botão

Os sinais são de calor, de muito calor. O ar brilha, atravessado por um sol que desce, vagarosamente. O céu mais branco que azul. A terra de um amarelo que secou, diferente do amarelo que torrou e do amarelo ainda húmido. As colinas começam a arredondar as sombras, pequenas. São seis e meia da tarde. A mente lê os sinais e confirma: deve estar calor, muito calor. Os olhos pousam nos dígitos, por um instante, e confirmam o que a mente lê. Muito calor. 38.º à sombra. Quem sabe quantos mais fora dela. Só a pele teima em dizer que está fresco.

Noutro tempo a travessia teria horas ajustadas em função do sol, das refeições, da distância feita de estradas mais lentas; panos pendurados nas janelas para enganar o sol que atravessa o vidro.

Mas hoje o objetivo é o destino e não a viagem; a rapidez e não o vagar; tragar caminho em vez de o saborear; não sentir a terra, as terras, a paisagem, as gentes. Tanto podia estar aqui como noutro lugar, em muitos lugares. Os sinais podiam ser de frio, de muito frio, ou de chuva, muita chuva. A mente e a pele continuariam a discordar, sem que isso importasse.

Uma breve paragem. O corpo sai e, por um momento, um único momento, a pele concorda com os olhos e com a mente. Está calor, muito calor. Mas logo reentra. 38.º do lado de fora. Mantidos de fora por um botão que o dedo já pressiona.

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