Depois da retração económica por causa da chuva, segundo um ex-ministro, e do episódio Borda d'Água que se lhe seguiu na Assembleia da República, e que fez rir até às lágrimas outro ex-ministro, eis que João Semedo, coordenador do Bloco de Esquerda, decreta a alteração das estações: a descida do desemprego no 2.º trimestre (abril a junho) é causada pelo Verão, que dantes começava em finais de junho e ia até finais de setembro.
Alterações climáticas à parte, é fácil concluir que, como tantos outros políticos, João Semedo não resistiu a comentar em direto algo que provavelmente não tinha lido. Mais do que isso, tentou que a realidade se moldasse à sua visão: a de que todos os dados do País têm que piorar constantemente, consquência lógica, inelutável, uma vez o Governo está entregue à direita liberal. Quanto pior melhor, porque tal comprovará a tese. E assim concluiu que a baixa na taxa de desemprego é apenas uma pequena variação sazonal devido ao aumento de emprego em época de veraneio.
Ora como qualquer dirigente partidário com a rodagem de João Semedo sabe, existem ferramentas para lidar com fenómenos que variam sazonalmente, como sejam comparações em períodos homólogos e análises de séries longas de dados.
O INE revelou informação substancial e explicada, para quem se quiser dar ao trabalho de tentar compreender a realidade real. Eis alguns dados que constam da ficha disponível em www.ine.pt:
- em termos homólogos, ou seja, comparando segundos trimestres, a taxa de desemprego em 2013 é superior à de 2012;
- já em termos sequenciais, comparando o 2.º trimestre de 2013 com o 1.º, a taxa de desemprego baixou em 1,3%;
- esta é a primeira diminuição na taxa de desemprego desde o 2.º trimestre de 2011;
- é verdade que os segundos trimestres têm apresentado, nos últimos dois anos, os melhores comportamentos no ciclo anual: uma ligeira redução em 2011 e uma estagnação em 2012; nada que se compare a uma redução superior a 1%.
Nada disto permite concluir sobre as causas de fundo destas variações e, consequentemente, sobre a possível continuidade da redução da taxa de desemprego. Mas são factos. E um aumento de 72 400 pessoas na população empregada é, em si, uma boa notícia! Que o digam os próprios, os familiares, nós e, supõe-se, os políticos de todas as cores.
Podia João Semedo ter recorrido a outras estatísticas, também divulgadas pelo INE, e que apontam uma evolução negativa do volume de negócios na indústria, quer em termos homólogos quer em termos sequenciais, quer nas vendas destinadas ao mercado externo quer nas vendas no mercado interno. Podia ter invocado os riscos e as medidas que serão inscritas no orçamento para 2014. Poder, podia, e devia, em vez de recusar a realidade.
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