As "notas passadas" trazem textos que escrevi antes do início deste blog.
Os problemas no acto eleitoral deste domingo recordaram-me uma outra situação, com semelhanças e diferenças, ocorrida há alguns anos (terá sido em 2004?). Foi por ocasião de um concurso de colocação de professores e esteve na origem de um texto, que foi publicado nas Cartas ao Director do jornal Público. Parece não ter perdido actualidade... Aqui fica em reposição.
As falhas informáticas ... e as outras
Num país que se quer membro de pleno direito da sociedade do conhecimento, em que o Primeiro-Ministro anuncia o e-government, em que a educação é/foi uma paixão, e em que todos os discursos apontam a educação como um factor decisivo de desenvolvimento, existem milhares de alunos sem professores.
Dizem-nos que é por causa de uma falha informática, que o programa que faz a colocação dos professores não funciona bem, tem erros, o que origina inustiças, reclamações e uma situação caótica. Dizem-nos que manualmente se vai resolver o problema em pouco mais de uma semana.
Os sistemas informáticos que contribuíram para que o homem fosse à Lua e voltasse, que permitem que indústrias, centrais nucleares, aviões e sistemas de tráfego, bancos, multibancos e vias verdes funcionem, sem anomalias de maior, não permitem colocar, correctamente, uns milhares de professores!
Estamos em Portugal, no século XXI, e não num dos cenários de A Revolta das Máquinas de Clifford D. Simak, ou de uma das muitas obras de Isaac Asimov. Assim temos de procurar as verdadeiras causas deste desastre em nós, humanos.
Sendo a colocação dos professores uma tarefa crítica, em termos de dimensão e importância para o normal funcionamento do sistema educativo, é chocante que ela não seja encarada como tal. Na área da segurança dos processos industriais, por exemplo, as tarefas críticas estão associadas a conceitos de verificação, teste, redundância e planeamento de emergência. Qualquer mudança deve ser encarada com especial cuidado sob pena de, como a história o demonstra, se criarem condições popícias à ocorrência de acidentes catastróficos. Estes conceitos valem também para este caso.
O programa desenvolvido pode ter erros, o caderno de encargos que lhe deu origem pode ter sido mal elaborado, mas o que é verdadeiramente inaceitável é que se substituta um sistema crítico, sem um mínimo de prudência! Efectuou-se uma simulação integral com base, por exemplo no concurso do último ano? Testou-se o sistema em paralelo com o anterior? Face aos problemas que já tinham sido detectados, como foi possível aceitar as novas garantias dadas pela empresa responsável? Ou não se ter começado, de imediato, a trabalhar em alternativas a uma falha que já não era, sequer, improvável? Foi tudo precipitado por decisões e tempos da política, em detrimento das questões técnicas identificadas?
Muita coisa falhou ao longo deste processo. As máquinas também falham, umas mais que outras. Neste caso falharam, claramente, a máquina-gestão e a máquina-política.
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