Políticos dos vários quadrantes, entre os quais candidatos presidenciais, entretêm-se, quais virgens pudicas, a discutir os negócios privados do então ex-governante e cidadão Cavaco Silva, actual Presidente-Candidato. Com a sofreguidão habitual dos meios de comunicação este assunto transformou-se no tema central da campanha em curso (pré-campanha é uma expressão sem significado), traduzindo-se em horas de debate, análise de comentadores, capas de jornal e notícias de abertura. A situação de Portugal e dos Portugueses é assim relegada para segundo plano. O País pode esperar.
O Primeiro-Ministro congratula-se com o cumprimento da meta para o défice orçamental de 2010. Afinal conseguimos cumprir! É de somenos se tal foi alcançado graças a expedientes, tão condenados pelos mesmos no passado; é de somenos se um défice elevado continua a ser um défice elevado, implicando o crescimento da dívida; é de somenos se pagamos cada vez mais por este dinheiro que não é nosso, mas a que achamos ter direito. O País pode esperar.
O líder do principal partido da oposição volta a acenar com a queda do Governo, desta vez caso o FMI seja chamado a intervir. Ao longo dos últimos anos afirmou, como muitos outros, que não se pode acrescentar uma crise política às crises financeira e económica. Claro que já vivemos em cenário de crise da política há muitos anos, como demonstra esta visão de subalternização da política. Como resultado condicionou o papel do seu partido a uma parceria forçada, esperando naturalmente por melhores tempos para desencadear a dita crise: participou na aprovação dos PEC’s e do Orçamento para 2011. Pelos vistos agora pode estar a chegar o momento da crise política, uma vez mais, cavalgando um pretexto externo. Cenários haverá para todos os (des)gostos: e se o FMI chega ainda antes das Presidenciais? Ou pouco depois? E se o PSD não alcança a maioria absoluta? E se o PSD perde? É um jogo perigoso, o do timing político, em que as convicções cedem lugar à mera oportunidade. O País pode esperar.
O preço do petróleo atinge os 95 dólares por barril, valor muito superior aos 78,8 dólares previstos pelo Governo no enquadramento traçado para 2011, e que serviu de base ao Orçamento recentemente promulgado. O valor do nosso défice é já usado como medida internacional de referência - diz a Agência Internacional para a Energia: “The European Union’s oil import bill grew by $70 billion last year. This figure is equal to the combined budget deficits of Greece and Portugal”. Diversos bens alimentares atingem valores nunca antes alcançados. Dos nossos governantes, candidatos presidenciais e restantes políticos nem uma palavra sobre estes assuntos. Como diz Pedro Magalhães, em entrevista ao Público (8/1/2011), “Podemos passar uma tarde inteira na Assembleia da República a ouvir um debate sobre uma lei sem nunca ouvir outra coisa que não sejam palpites…”. O País pode esperar.
Os portugueses, sejam políticos, empresários ou trabalhadores, percebem a urgência de mudar, de mudar como única forma de tentar tornar o país viável? Há já mudanças profundas em curso, nas instituições e nas atitudes individuais, que não sejam apenas decorrentes de leis ou de pacotes de austeridade, impostos por terceiros? Não creio que a resposta seja positiva. Parece que continuamos à espera do próximo financiador, de um líder salvador, da Europa, do reboque das economias americanas e alemã, ou de um 2012 que, por artes mágicas, faça a diferença.
Mas o País já não pode esperar.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Pois é, o país não pode de facto esperar! A política há muito que põe o país em "hold", com meias verdades, com ocultações, com engenharias financeiras, com medidas que atingem sempre os mesmos, com políticos que se preocupam com o que podem ganhar enquanto estão no poder... Mas nós somos um país de brandos costumes, achamos sempre que não vale a pena reclamar, que eles são todos iguais. Mas o país não pode continuar à espera! Temos que avançar! Temos que mudar!
Enviar um comentário