domingo, 13 de março de 2011

(De)mérito

"Continuamos a ser um país pobre, o que explica que um emprego à vida seja a ambição suprema. A meritocracia ficou para trás, o que não admira, pois quem é miserável não costuma valorizar a concorrência.
Referindo-me ao mundo que conheço melhor, o universitário, eis como as coisas se passam. Apesar de ocasionalmente sujeitos a uns concursos mal engendrados, os docentes e os investigadores do "quadro" não só têm um posto de trabalho vitalício como ganham, os bons e os maus, o mesmo salário. Vendo este exemplo, os jovens que frequentaram a universidade consideraram tal situação a ideal. Mas não o é."

Maria Filomena Mónica, em crónica no Jornal Público de hoje.

Este retrato, em verdade, não diz só respeito às universidades, aos seus docentes e investigadores. Mas este texto ilustra a situação em que vivemos e que promove a injustiça social e a falta de produtividade.

O não reconhecimento do mérito desmotiva e é injusto; recebe-se em função do que se é suposto fazer (de acordo com a categoria, a descrição funcional ou o posto ocupado) e não do que realmente se faz, em termos de qualidade e quantidade; paga-se de menos a quem faz bem ou demais a quem não faz.

A ocupação para a vida, num contexto de escassez de recursos, lugares limitados e em que a esperança de vida e a duração da vida activa aumentam, limita as oportunidades de outros, por melhores que sejam ou possam vir a ser; facto tanto mais grave quanto alguns dos lugares vitalícios são ocupados por pessoas de reduzido mérito.

A combinação destas duas facetas é fatal para o futuro das pessoas, das organizações e do país como um todo.

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