quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Matemática básica

O nosso cérebro é bombardeado, diariamente, com muitos indicadores e comentários políticos e económicos, uma boa parte dos quais referidos em percentagem, ou seja relacionando duas grandezas.

Um exemplo do dia, do relatório do FMI, (http://www.imf.org/external/pubs/cat/longres.aspx?sk=40225.0): "The government's spending reduction target can only be achieved by focusing on major budget items, particularly the government wage bill and pension spending. Together these two items account for 24 percent of GDP and 58 percent of non-interest government spending. It would seem impossible to generate government's spending reduction goals without changes in these two areas, and relevant reforms should take priority."
Ora, ao contrário do que nos querem fazer crer, há vários caminhos para reduzir uma grandeza expressa percentualmente:

1. Aquele que domina praticamente toda a discussão política, económica, de café, de jornal ou de outra coisa qualquer, e que vai de encontro ao expresso pelo FMI: reduz-se o numerador, ou seja, a despesa, mantendo-se o denominador, ou seja o PIB, resultando numa fração menor.

2. Se o PIB diminui, então a despesa tem de diminuir mais acentuadamente, para que a fracção continue a diminuir. Talvez seja necessário entrar aqui com alguns limites, sob pena de se entrar na famosa espiral recessiva.

3. Mantém-se o numerador, ou seja, a despesa, mas aumenta-se o PIB, ou seja, a riqueza produzida pelo País; a fração também diminui!

4. Para uma variação mais expressiva, mas a que talvez corresponda a transformação geométrica usualmente conhecida por quadratura do círculo, reduz-se a despesa e aumenta-se o PIB em simultâneo.

Ora aqui entra outra variante, política, que o FMI dá por já definida pelo Governo e que, portanto, no exercício apenas faz parte das condições-fronteira para a definição do cardápio de cortes: a dimensão, ou melhor, o papel do Estado. E, por arrasto, ou arrastão, o papel da economia privada. O Estado consome demasiados recursos? A economia privada gera insuficiente valor? Ou, mais provavelmente, padecemos das duas maleitas em simultâneo?

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