quarta-feira, 10 de julho de 2013

O que ouvi o Presidente dizer

Não aprecio particularmente as intervenções deste Presidente, quer quanto ao conteúdo, quer quanto à forma. Desta vez parece-me ter sido particularmente claro quanto à maioria dos aspetos, embora sem o dizer, em todos os casos, de forma explícita:

1) Considerou que a crise política da semana passada foi grave e inesperada, com efeitos imediatos e indesejados na envolvente do País. Sem o referir, é sabido que a crise foi causada pelo próprio Governo.

2) Por isso, e noutras condições, o Presidente convocaria eleições antecipadas. Por esse facto nunca referiu a solução que terá sido apresentada pelo Primeiro-Ministro, as promessas do PSD e do CDS, ou a existência de uma maioria parlamentar que continuaria a suportar o Governo, o que é uma alteração política muito significativa. Ao invés, explicou longamente, e de forma detalhada, os riscos e prejuízos imediatos de convocar eleições antecipadas neste momento, justificando a necessidade de procurar uma outra solução.

3) Na mesma linha de raciocínio, independemente da maioria parlamentar e do eventual sucesso do programa de assistência, anunciou, desde já, que o atual ciclo político não deveria chegar ao fim natual e que, em 2014, deveríamos ter eleições. Mais claro não é possível ser.

4) O Presidente considera que é necessário um acordo a três: PSD, PS e CDS. Acordo que, tendo em conta as declarações até agora efetuadas, será improvável. Para o efeito propôs, se necessário, a atuação de um mediador.

5) O Presidente afirma que há outras alternativas constitucionais, ou seja, que a alternativa que já lhe foi apresentada não serve; e que poderá recorrer a elas se não existir o entendimento que propõe. Um Governo de iniciativa presidencial, comprometendo os partidos a uma solução que considera ser a única? Solicitar ao PSD outro Primeiro-Ministro, capaz de fazer as pontes com o PS e CDS?

As reações iniciais destes três partidos mostram claramente que não perceberam, e que cada um tenta descobrir algo que não foi dito pelo Presidente e que esteja de acordo com as suas posições.

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