quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Discordo

Discordo. É o que me vem ao pensamento, depois de tanto ouvir e ler, e de evitar ouvir e evitar ler, todo o ruído que ocupa o espaço de comunicação, televisão, rádio, jornais, redes sociais. Discordo de muito. Discordo de quase tudo. Talvez porque outros, com quem podia concordar, falam menos ou têm menos palco. Porque hoje em dia gritar parece, estranhamente, ser mais aceite do que conversar, do que debater, do que pensar, do que fazer silêncio. Porque muitos que recorrem a discursos cheios de valores são dos mais intolerantes. Porque muitos instruídos são, afinal, mal-educados. Porque os argumentam não colam, por mais forte que a cola seja. Porque vejo pessoas que conheço, ou que julgava conhecer, a adoptar posições de um radicalismo estranho. Discordo pois.

De quem não respeita os outros e recorre ao insulto.
De quem se acha dono da democracia.
De quem se arroga o poder de decretar as razões do voto de outros. Eu sei a razão do meu voto e apenas a do voto de mais algumas pessoas.
De quem só tem certezas e nunca se engana.
De quem não reconhece o erro.
De quem esquece o passado.
De quem não é coerente.
De quem usa o medo como arma.
De quem usa a mentira como balas.
De quem usa promessas vazias como engodo.
De quem cava trincheiras e dispara rajadas sobre tudo que vem "do outro lado".
De quem liquida a cultura de diálogo.
De quem acha que o país está (devia estar) de luto, como se o país fosse só deles.
De quem acha que o país está (devia estar) em festa, como se o país fosse só deles.
De quem acha que estávamos a caminho do paraíso, que agora foi roubado.
De quem acha que estamos já na terra do leite e do mel.
De quem só vê o céu ou apenas o inferno.
De quem só vê a preto e branco, perdendo a riqueza das pessoas e da vida.
De quem acha que o caminho acabou, porque perdeu ou porque ganhou.
De quem exige acordos inexpugnáveis e de quem clama ter acordos à prova de bala.
De quem pretende reduzir a democracia ao momento do voto.
De quem entende a democracia como um jogo de futebol, em que os votos são golos.
De quem entende que a democracia é o comando dos vencedores, a quem tudo é permitido.
De quem promete rejeitar programas, orçamentos ou medidas que não conhece.
De quem confunde o Parlamento com um qualquer programa de donos da bola.
De quem se comporta como hooligans verbais.
De quem considera que interpretações diferentes são ilegítimas.
De quem emite contínuos decretos constitucionais, sem competência para o fazer.
De quem lê os mercados como quem lê a sina.
De quem apenas especula, aparentando comentar.
De quem apenas comenta, para manipular.
De quem ateia fogos, para ficar a ver.

E se esta for a maioria, então canto com os Green Day:
"
I want to be the minority
I don't need your authority
Down with the moral majority
'Cause I want  to be the minority
"

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