sábado, 19 de março de 2016

Outro minuto

As vassouras marcam o swing. Sente-se a sala, escura. Aqui e ali o calor de uma luz. Adivinha-se o movimento dos dedos sobre as teclas. As cordas que vibram. O metal rouco. Tudo o resto é silêncio. O ar escorre, morno, lentamente. É noite, em pleno dia. Lá fora a estrada rola, rápida, ondulando em direção a Norte. A chuva passa, cinzenta, pelos vidros da sala, pelas janelas da estrada. É dia, com sabor a noite.  Um minuto mais e a sala esvai-se, levando a música. Mais um minuto e a sala é outra. Vozes em vez de música. A cadeira que se arrasta. A colher na chávena. Manchas de cor. Tons que perderam a cor. Olhares que buscam. Olhares que esperam. Olhares perdidos. Pessoas que deslizam. Pessoas desfocadas. Portas que se abrem e fecham. Despejam. Levam. Na parede os relógios marcam o tempo. Tempo diferentes de mundos diferentes. Paralelos. Desligados. À distância de um salto. Salto no espaço. Salto no tempo. Uma hora. Outro minuto.

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