Há, com certeza, casos em que o processo de acompanhamento e a orientação adicional, para além da escola, é necessário e é bem efectuado. Mas não será essa a maioria das situações. Estamos a falar de uma nova necessidade, criada e alimentada. Prometem-se resultados. Usam-se os chavões da moda: desenvolvimento pessoal, ensino de qualidade, atenção personalizada, formadores reconhecidos.
Primeiro fiquei surpreendido com a quantidade de alunos que frequentam explicações no decurso do primeiro ciclo; alunos sem dificuldades especiais; provavelmente por mistura da necessidade de ocupação "útil" de tempos livres com vontade de proporcionar ferramentas para o "sucesso". Na mesma linha vi pais advogarem, como função dos ATL, a correcção dos trabalhos de casa; nada de erros no processo de aprendizagem.
Adicione-se o caso daqueles que estudam, por sistema, com os filhos, relembrando e sabendo ao pormenor toda a matéria. Multiplique-se isto ao longo dos anos e dos ciclos de estudo. Exponencie-se no secundário, quando os resultados no fim do ano, dos anos, se tornam mais importantes e decisivos. Reduza-se o papel dos formadores e professores "oficiais". Continue-se o desenvolvimento desta série no ensino superior, através do recurso a um dos muitos centros de explicações criados por alunos, ou ex-alunos, nas cidades universitárias. E gaste-se assim, na educação paralela, muito dinheiro, não contabilizado nas estatísticas oficiais dos gastos em educação.
Como resultado temos uma subtracção sistemática da capacidade individual, da autonomia, do espírito crítico, do conhecimento das próprias limitações, da confiança.
Por tudo isto não só concordo com a anunciada extinção, mas julgo que se devia ir mais longe, numa tentativa de reverter efeitos da actual situação: proponho a instituição do Estudo Desacompanhado!
Publicado no jornal Público, Cartas à Directora, em 29/10/10
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