Poucos dias passaram após a conferência de imprensa de José Sócrates, em que anunciou um conjunto de não-medidas; sobre medidas concretas, sobre aquilo que espera os portugueses, sobre o que é necessário fazer, sobre os prazos, sobre a necessidade de mobilização, enfim, sobre o que é importante, nada disse. Conferência de imprensa oca, com um ministro de Estado como figurante, apenas para marcar terreno mediático antes da apresentação do programa de intervenção aos partidos da oposição. Sentido de estado nulo.
Poucos dias passaram sobre a imediata réplica de Eduardo Catroga, promovido momentaneamente a líder de campanha, reclamando, com surpreendente euforia, louros sobre os resultados alcançados e, então, ainda não conhecidos.
Menos dias passaram ainda sobre a divulgação do acordo propriamente dito, com as suas medidas, metas e prazos. Nem todas são facilmente compreensíveis e para cumprir muitas delas haverá, com certeza, caminhos alternativos, que agora importaria discutir.
E ontem o Presidente da República, para além de relembrar que existia e que durante este período esteve presente, actuando discretamente, apelou a uma mudança de políticas e de atitudes.
Não passou sequer uma semana e já se multiplicam sinais negativos sobre a possibilidade da tal mudança de atitudes. Primeiro, os partidos parecem não ter percebido que estamos já num day after, e que a retórica do passado não chega para cumprir objectivos daqui a um par de meses; corre-se o sério risco de estar a desbaratar tempo e energia em campanha, desbaratando possibilidades de discussão séria e de mobilização das pessoas.
Segundo, e não menos importante, responsáveis em vários sectores da vida económica e social, incluindo da comunicação, começam a recorrer ao "Sim, mas...", com que se iniciam e acabam muitos processos de não-mudança.
Sim, o Estado vai vender as Golden Share, mas talvez seja possível manter o controlo através de outros acordos ...
Sim, algumas medidas são boas e só é pena que não tenhamos sido capazes de as tomar, mas os prazos ...
Sim, há passos positivos, mas o meu sector ...
Sim, tem metas e prazos, mas o que acontecerá se falharmos apenas algumas, cumprindo outras, até porque no passado também não cumprimos as medidas todas do FMI ...
Sim, temos que fazer, mas falta ...
Lembro-me do que disse uma formadora, espanhola a trabalhar em Portugal, a propósito das diferenças culturais e de atitude que por cá encontrou: aqui começa-se sempre por dizer, respeitosamente, que sim, mesmo que não se concorde ou que não se tencione cumprir.
Estamos longe de conseguir criar o sentido de urgência necessário a uma real mudança, e há muitas vozes a contribuir para o evitar.
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1 comentário:
Concordo com a tua análise. O acordo obtido é um bom acordo porque promove a mudança,com objectivos e timings para os alcançar. Como não são parvos introduziram mecanismos de controlo mensal e trimestral para vermos o que se andará a fazer nos próximos 3 anos. Pena que as eleições não sejam hoje, para ver se os políticos começam já a trabalhar e esquecem a campanha eleitoral.
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