segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Números mágicos

O Expresso, em entrevista ao recém-empossado Reitor da Universidade Técnica de Lisboa, António Cruz Serra, perguntou qual seria o número razoável de universidades para Portugal, face ao atual número de 15. O Reitor respondeu: "O número de habitantes por universidade deve rondar os dois milhões. Há as particularidades do desenvolvimento regional, das ilhas e a história. Mas é fácil fazer a conta."

Comecemos pelo enquadramento da pergunta: 15 universidades são as públicas; a rede nacional de ensino superior engloba também universidades privadas, localizadas essencialmente em Lisboa e Porto. E esta diferença não é uma mera questão de pormenor, num país em que 76% dos alunos estudam no ensino superior público, e em que 71% das instituições de ensino superior (universidades, institutos politécnicos, escolas) são privadas. É necessário, portanto, clarificar, qual o papel que se estabelece para o setor público.

Mas vamos à resposta. Apesar da minha formação em engenharia, ou talve por isso mesmo, tenho uma certa aversão a números mágicos, que são apresentados como verdades que dispensam justificação e que não dependem do contexto - uma universidade por cada 2.000.000 de habitantes. Aqui como em qualquer outro continente; em países com mais ou menos desenvolvimento; com mais ou menos qualificação; com mais ou menos recursos!

A ser assim Portugal devia ter 5 universidades. Os EUA teriam cerca de 150; mas, de acordo com a Carnegie Classification, têm 300 de entre apenas as que são classificadas como "research universities" e "doctoral universities"; e que existem em conjunto com todas as outras instituições de ensino superior, muito diversas, que formam um ecossistema com 4634 instituições, ou seja, uma por 67.000 habitantes (em Portugal temos 1 por 77.000). Podemos também olhar para outros casos, apontados como exemplos em termos de formação e inovação: a Finlândia que, por aquela métrica, deveria ter 2 ou 3 universidades tem 16. Singapura devia ter 2 e tem 4.

Voltemo-nos para outros números: em 2010/2011 estavam inscritos 250.000 alunos nas universidades portuguesas; ora isto daria 50.000 alunos para cada uma das 5 "novas" universidades. Dimensão que é muito superior à de várias das mais prestigiadas universidades do mundo.

Muitas outras questões poderiam ser trazidas a este propósito: a qualidade, as instalações, os recursos, o processo de transformação. Mas a discussão está a ser invertida: o número e localização das instituições deveria ser instrumental, uma forma de atingir objetivos, e não "o" objetivo posto em cima da mesa.

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