domingo, 22 de janeiro de 2012

Há Universidades a mais?

Tema abordado na edição de 21 de janeiro do programa Click, emitido na Antena 1.
Áudio disponível em: http://tv2.rtp.pt/multimediahtml/audio/click/2012-01-21/105673.

Há Universidades a mais em Portugal? Não sei. Mas a ideia de reduzir o número de universidades, politécnicos e escolas começa a fazer caminho pela voz de reitores, políticos, economistas, comentadores. O Ministro da Educação e Ciência afirmou mesmo que quinze universidades – e com isto apenas se refere às públicas – lhe pareciam demais.

Um dos argumentos invocados é a relação entre o número de instituições e a população do país. É verdade que, em proporção, a Alemanha e o Reino-Unido têm muito menos instituições. Mas não é menos verdade que o nosso rácio é pouco superior ao dos Estados Unidos. E que a Finlândia, até há bem pouco apresentada como exemplo a seguir, tem mais instituições públicas que Portugal para apenas metade da população.

Um outro argumento a favor da concentração das instituições é que tal promoverá a subida nos rankings internacionais. Sem discutir aqui o que está por trás de um ranking, nem a bondade de tal objectivo, basta analisar o top 10 do Times Higher Education para concluir que “grande” não significa “melhor”: Caltech, Oxford, Cambridge, Harvard, têm menos alunos que as maiores universidades nacionais.

Um sistema de ensino não se traduz nuns quantos números, nem é composto apenas por instituições de elite; e também não devemos alimentar a ilusão de que é possível copiar apenas uma parte, ignorando o restante: a formação básica e secundária, o sistema de acesso, o modelo de ensino, a autonomia, o financiamento, as dinâmicas regionais, a cultura.

Portugal, apesar dos progressos efetuados, continua com um atraso significativo em termos de qualificação: 23% dos portugueses com uma idade entre 30 e 34 anos têm formação superior; a média europeia está 10 pontos percentuais acima. É preciso reduzir esta diferença para oferecer melhores oportunidades às pessoas e ao País.

Por isso não fiquemos apenas a olhar para a superfície das coisas. Recentremos a discussão no que realmente importa: Qual o papel do ensino superior público? E do privado? Do universitário e do politécnico? Que diversidade institucional? Com que autonomia? Com que recursos? Em nome de que modelo de desenvolvimento territorial?

Façamos um debate informado e sério.

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