O telemóvel está presente em todo o lado e a todo o momento; através dele falamos a milhares de quilómetros ou a meia dúzia de metros; envia mails; liga-nos à net; permite fazer fotografia, ouvir música e ver vídeo; substitui isqueiros nos concertos e lanternas no escuro. Não precisamos de saber muito para o usar, mas sabemos a falta que faz ficar sem rede, sem bateria ou, pior, sem resposta do outro lado.
E o que vemos ao olhar para um telemóvel? Talvez a cor, a marca ou o tamanho … No entanto há todo um universo escondido, ainda que já descoberto, para além da superfície. Podemos vislumbrar as formações geológicas, o petróleo que nelas se esconde e a química que o transforma em plástico colorido. Podemos tocar materiais raros, como o selénio e o ouro, extraídos das entranhas da terra e alinhados na tabela periódica de Mendeleev. Conseguimos seguir a radiação electromagnética, através das camadas da atmosfera, de antena para antena, revisitando Maxwell e Hertz. Ou entrar nas células humanas para compreender a interação entre a radiação e a vida. Acompanhamos as órbitas dos satélites e o lançamento de foguetões, na companhia de Kepler, Newton ou Tsiolkowski. Usamos as leis da ótica para focar imagens e a micro-eletrónica para as gravar. Ouvimos os códigos que comprimem sons e imagens, e que permitem que as máquinas falem entre si. E vemos um sem número de símbolos, de equações e de teoremas matemáticos, traçados desde Pitágoras a Von Neumann, e com os quais descrevemos a natureza e os nossos próprios pensamentos.
O telemóvel é um exemplo notável de investigação aplicada, que origina empresas e postos de trabalho, e alimenta um negócio de milhões.
Mas é preciso não esquecer que as aplicações de hoje emergem do conhecimento desenvolvido e transmitido ao longo dos séculos; gerado, acima de tudo, pela vontade de compreender e de criar; e a que outros darão, um dia, usos nunca antes imaginados.
Esta investigação, que não tem tradução visível no aumento do PIB, no equilíbrio da balança comercial ou na redução do desemprego, não é um luxo. É antes a continuação do caminho que nos trouxe ao que somos hoje e ao que seremos amanhã; é indissociável da natureza humana; e é parte integrante da missão das Universidades.
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