Marte era uma praia distante, e os homens espalhavam-se por ela em ondas. Cada onda era diferente e cada onda era mais forte. A primeira onda trouxera consigo homens habituados ao espaço e ao frio e a estar sós, os exploradores, os mineiros e os cientistas, prontos a tudo, valentes e aventureiros. Marte não os assustava pois estavam habituados ao perigo e às empresas arrojadas. Vieram e conseguiram tornar Marte mais habitável, mais confortável, para que os outros tivessem suficiente coragem para os seguir. Construíram, estudaram, descobriram, organizaram as futuras colónias e planearam a urbanização do planeta.
Tinham sido os primeiros homens.
Todos sabem quem foram as primeiras mulheres.
Os segundos homens deviam ter vindo de outros países com outras ideias e outras civilizações. Mas os foguetões eram americanos e os homens de Marte eram todos americanos e assim continuava enquanto a Europa e a Ásia e a América do Sul e a Austrália ficavam para trás sem saber bem que atitude tomar. O resto do mundo estava enterrado na guerra ou em pensamento de guerra.
Por isso os segundos homens foram também americanos. Vieram dos diversos estados e das plantações do interior, e encontraram repouso e paz na companhia dos silenciosos pioneiros que sabiam servir-se do silêncio como meio de conseguir paz depois da vida turbulenta das cidades americanas.
E entre os segundos homens que vieram para Marte havia homens que, pelos seus olhos, pareciam ir em busca de Deus...
Crónicas Marcianas (1951) de Ray Bradbury (22 de agosto de 1920 - 6 de junho de 2012)
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