Na edição do Click de 26 de outubro, Antena 1.
(áudio em: http://www.rtp.pt/programa/radio/p3053/c96914)
Os rankings são populares. Populares porque são simples; e porque gostamos, nem que seja por curiosidade, de saber quem é o n.º 1! Não estranha, por isso, a proliferação de rankings internacionais de universidades, e a crescente importância que vêm conquistando.
Vem isto a propósito da edição de 2012 do World University Rankings, elaborado pelo periódico britânico Times Higher Education. Da lista disponível podemos retirar mensagens simples como “as universidades portuguesas perdem terreno”; ou “Aveiro, Porto e Minho estão entre as 400 melhores”. Quem se der a um pouco mais de trabalho poderá concluir que Aveiro e Porto melhoraram em todos os indicadores; ou ainda que Portugal tem tantas universidades no top 400 como o continente africano, ou como a América do Sul.
Mas não nos fiquemos pelas leituras superficiais. Desde logo, porque nenhum ranking resulta de uma análise das 17000 universidades existentes no mundo - não há uma liga mundial das universidades. No caso do Times, por exemplo, estamos perante uma participação por convite, dirigido a pouco mais de 600 instituições previamente seleccionadas tendo em conta, designadamente, a sua produção científica.
Por outro lado, cada ranking pressupõe um determinado modelo de universidade, que é traduzido pelos parâmetros que são avaliados e pela importância conferida a cada um. Para o Times Higher Education, por exemplo, é valorizada, sobretudo, a reputação da universidade em termos de ensino e de investigação; reputação essa que é avaliada através de um inquérito dirigido exclusivamente a académicos; e que representa um 1/3 da nota final.
Este é um dos perigos destas poderosas ferramentas de comunicação – afirmar um determinado conceito de universidade como aquele que deve ser seguido. Outro perigo, não menos importante, é que induzem uma confusão entre posição e qualidade; repare-se, por exemplo, que apenas 6 pontos, em 100 possíveis, fazem este ano a diferença entre figurar no lugar 70, ou no lugar 100 – será assim tão relevante? Mas o risco maior está dentro das próprias instituições, que podem ser tentadas a orientar toda a sua estratégia de actuação para alcançar a visibilidade proporcionada pelos rankings, em detrimento da sua própria missão e dos seus valores. As universidades não são, nem devem ser, todas iguais. E para universidades diversas serão necessárias métricas distintas.
É por tudo isto que os rankings trazem uma etiqueta: Atenção! Manusear com cuidado!
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2 comentários:
Caro Miguel, não posso estar mais de acordo contigo. Devem ser manuseados com muito cuidado até porque começam a surgir sinais preocupantes.
Há um mês um colega recusou-se a participar num trabalho com uma instituição nacional de extrema importância porque isso não é valorizado na avaliação.
Esta semana uma colega de uma das universidades da concorrência afirmou que a publicacão de um artigo numa revista internacional de referência, em termos pontuais, equivale a fazer a arguência de quarenta provas de mestrado.
Podemos vir a ter problemas breve de ingovernabilidade dentro das instituições...
A avaliação individual e os rankings institucionais não estão necessariamente ligados, embora possam existir pontos de contacto.
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